Atletas goianos estão contando com talento próprio e a ajuda de amigos e familiares para representar o Estado nas competições esportivas de suas modalidades. Eles foram abandonados pelo governo estadual. Há sete meses eles ouvem dizer que “o pagamento do programa vai sair no final do mês”. Mas o fim do mês do pagamento nunca chega.
Lançado em abril de 2004, o Pró-Atleta foi batizado como Bolsa Esporte e criado para incentivar 500 atletas de alto rendimento no Estado em três níveis. Os valores das bolsas – R$ 250, R$500 e R$ 750 – distribuídos de acordo com a categoria, são usados para cobrir gastos com educação, transporte e aquisição de material. Pelas regras do programa, o governo concede 12 parcelas do benefício e, em contrapartida, os atletas prestam conta todos os meses dos eventos em que competem.
Temendo retaliações, atletas de diferentes modalidades não serão identificados pela reportagem. Eles relatam as dificuldades geradas pela falta do auxílio e dos desencontros de informações sobre o pagamento do programa. Uma atleta revelou que os beneficiários do Pró-Atleta na modalidade dele estão revoltados porque o governo não pagou, este ano, nenhuma parcela da bolsa. Para disputar os últimos campeonatos, ela contou com a ajuda da confederação, que bancou a ida da atleta em uma disputa quando soube que ela não teria ajuda do governo estadual para as passagens e hospedagem.
Outro atleta diz que eles ligam com frequência na Agência Goiana de Esporte e Lazer, responsável pelo programa, e que nenhuma providência foi tomada para normalizar o Pró-Atleta. Ele reclama que o recadastramento e a averbação da conta já foram feitos, embora tardio, mas o dinheiro não foi liberado até agora. “Estamos no mês sete e até hoje nenhuma parcela foi liberada. Antigamente, o governo estadual pagava as 12 parcelas, mas agora não. A gente liga lá e eles nunca têm uma posição, só desculpas. Ano passado, foram pagas quatro parcelas do programa. O que nos indigna é o investimento de R$ 2,5 milhões do governo com a reforma de sede de time de futebol. Nenhuma federação vai defender seus atletas porque elas tem o rabo preso”, desabafa.
Uma vida de sacrifícios. É assim a vida da maioria dos esportistas brasileiros e também de quem representa Goiás fora do Estado. Outro atleta de alto rendimento e que compete fora do País conta que não consegue se manter somente do esporte que pratica e que dedica boa parte do dia trabalhando numa loja em Goiânia. A sorte é que ele conta com a compreensão do chefe, que admira o esporte que ele pratica e o libera mais cedo para que possa treinar. Ele sabe que o atleta precisa desse momento para entrar num campeonato. “É com esse salário que pago aluguel, água, me alimento, pago academia e me mantenho”, revela.
A inadimplência do governo com o Pró-Atleta acarreta outro problema. Para se dedicarem aos treinos, os esportistas selecionados estão sobrecarregando as despesas da família e contando com ajuda dos pais e, com muita sorte, alguns podem contar com patrocínio de empresários. Uma mãe de atleta que teria direito ao benefício diz que a maior parte dos salários dela e do marido vão para o treino do filho – academia, transporte, alimentação e uniforme – e viagens, inscrições em competições e hospedagem. “Esse ano, fomos para a Alemanha e Aracajú; já a próxima competição será no Panamá e ele vai ficar de fora. Nem os projetos que já apresentei ao Pró-Esporte foram contemplados. Eles sempre me falam que a Agel não tem dinheiro”, conta.
O presidente da Agel, Célio Silveira, não foi encontrado para dar uma resposta para as 500 famílias desses atletas goianos que esperam receber o auxílio. Sem gravar entrevista, o gerente de outro programa, o Pró-Esporte, Fidêncio Lobo, explicou que a demora para fazer o pagamento se deve ao fato de a Agel não ser uma secretaria e não ter recursos próprios. Ele explicou que foi preciso fazer um termo de descentralização orçamentária na Secretaria da Fazenda, que seguiu para o Controle Interno e outros órgãos. Por isso a demora. Fidêncio contou ainda que o fato do Controle Interno ter entendido que se tratava de um convênio, embora não seja, atrasou mais ainda o andamento do termo, mas que ele já será empenhado e o pagamento deve ser feito na semana que vem, final do mês.
Pró Esporte
Sobre as denúncias de que o programa Pró-Esporte também está parado, Fidêncio contestou e, sem informar quais, disse que algumas federações já receberam, este ano, os recursos para viabilizar seus projetos. Ele tem conhecimento sobre as diversas reclamações das federações que pleiteiam esse auxílio e diz que nada pode fazer. “Recebemos um pedido de R$ 27 milhões em projetos e nós temos R$ 4 milhões por ano para atendê-los, alguém vai ficar de fora. Todos os meses a agência libera R$ 321 mil. As pessoas têm o ano todo para fazer e apresentar seus projetos de eventos esportivos, que são avaliados e muitos desprezados porque não são bem elaborados”, concluiu.