Goiânia vive em crônico estado de alerta por causa dos altos índices de criminalidade e o fato é que os líderes do crime não estão nas ruas; comandam as quadrilhas de dentro da prisão por meio de telefones celulares. Semana passada, mais um grupo de ladrões de carros liderado por um detento do Presídio Odenir Guimarães foi preso. A polícia flagrou uma ligação de celular entre o preso e um integrante da quadrilha que estava fora da cadeia. Nela, o detento pedia que o comparsa providenciasse documentação falsa para quatro carros que ainda seriam roubados na capital.

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O episódio traz à tona uma situação grave que ocorre no sistema carcerário goiano; as paredes das celas são permeáveis, deixam passar livremente não apenas celulares, mas drogas e armas. De dentro do presídio, condenados comandam quadrilhas especializadas em roubo de carros e tráfico de drogas.  Dias atrás, a polícia identificou mais de cem pessoas comandadas por três detentos da Ala C da Penitenciária Odenir Guimarães, onde ficam os presos de alta periculosidade. A prisão ainda serve de álibi para esses criminosos.

Essa permeabilidade nos muros da cadeia não é novidade para os dirigentes do sistema prisional goiano. Há mais de dez anos a polícia registra o uso de aparelhos celulares dentro das cadeias. Em 2010, o governo decidiu comprar 47 bloqueadores de sinais de celulares, a um custo de R$ 80 mil, para impedir a comunicação de presos com suas quadrilhas. Todavia, os aparelhos eram inadequados e foram desativados.  Agora, o governo pretende gastar no mínimo R$ 1 milhão e 500 mil para adquirir novos aparelhos.

Mas o problema não deve ser resolvido com a aquisição de novos equipamentos porque o uso de celulares é uma das formas de comunicação dos presos. Os detentos contam também com a falta de sigilo nas visitas e muitos visitantes entram com objetos escondidos nas partes íntimas do corpo. Há casos ainda em que os detentos contam com a ajudinha do próprio advogado. No ano passado, dois criminalistas foram detidos ao permitir que seus clientes usassem aparelhos celulares deles.

A ação de condenados às vezes é facilitada por agentes penitenciários corruptos. Em 2012, a corregedoria do sistema prisional instaurou 191 sindicâncias para apurar irregularidades e quatro agentes foram demitidos por facilitar a ação de criminosos.
Não será investindo milhares de reais em tecnologia que a direção do presídio vai impedir os bandidos de comandarem o crime aqui fora. Mas gastar o dinheiro público parece ser a única forma que os dirigentes encontraram para administrar o caos do sistema carcerário, que demanda investimentos, é claro, mas precisa também de fiscalização, controle administrativo e mais seriedade.