O Brasil ocupa o segundo lugar mundial em número de casos de hanseníase, perdendo apenas para a Índia. Segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), foram relatados 127.396 novos casos da doença no mundo em 2020. Desse total, 19.195 (15,1%) ocorreram na região das Américas e 17.979 foram notificados somente no Brasil (93,6%).

Registrada em achados do século VI antes de Cristo, a hanseníase é considerada a doença mais antiga do mundo. Durante a Idade Média, as pessoas portadoras da doença eram obrigadas a viverem isoladas usando vestes características e sinos para alertar os outros de que estavam chegando às cidades.

No Brasil, a partir de 1924, o governo federal decidiu assumir o controle da hanseníase pela internação compulsória.

“Inicialmente como não havia os medicamentos para tratamento, a única forma de controlar a doença era através do isolamento compulsório. As pessoas eram afastadas e isoladas nos chamados leprosários. Eles pretendiam, através desta medida, evitar a transmissão da doença para outras pessoas”, relata Eunice Sales, coordenadora de Doenças Negligenciadas da Secretaria Estadual de Saúde de Goiás.

A partir da metade do século 20, com o avanço das pesquisas, foi criado um dos primeiros medicamentos para a cura da hanseníase. Com isso, em 1962, o isolamento compulsório das pessoas portadoras de hanseníase deixou de ser uma política para controle da doença no país.

Tratamento

O tratamento é realizado pela administração de um conjunto de antibióticos, denominado poliquimioterapia. Segundo a coordenadora de Doenças Negligenciadas da SES, o acompanhamento tem a duração de seis meses a um ano, dependendo da quantidade de lesões apresentadas pela pessoa que tem a doença.

“O tratamento é a base de antibióticos. São três tipos de medicamentos que são usados para as duas formas de hanseníase. Se for a forma paucibacilar (poucas lesões na pele), o paciente irá tomar seis doses do medicamento no período de seis a nove meses. Se for a forma multibacilar (mais de cinco lesões na pele), o tratamento pode durar de doze a dezoito meses”, explica Eunice.

Hoje, o paciente não precisa ficar internado e toda medicação necessária para o tratamento é fornecida gratuitamente pelo Sistema Único de Saúde (SUS). A medicação completa garante cura da doença.

Sintomas

Geralmente, a hanseníase inicia com sinais de manchas na pele mais claras ou mais escuras que o tom da pele. Outros sinais que devem ser observados são a perda ou alteração de sensibilidade para calor, dor ou tato; formigamentos, agulhadas, câimbras ou dormência em membros inferiores ou superiores.

Diagnóstico

Eunice explica que a hanseníase é uma doença negligenciada do ponto de vista de pesquisa e inovação. “Outras doenças recebem melhores investimentos tecnológicos para o diagnóstico. Como temos várias doenças que acometem a pele não é tão fácil caracterizá-las. Temos exames como a baciloscopia e a biopsia. Mas ainda assim, depende muito mais do médico dar o diagnóstico pela avaliação clínica. Os exames são complementares”, explica.

Hanseníase em Goiás

Em Goiás, em 2020 e 2021, houve redução de 35,47% nos números de casos registrados em Goiás (916 casos em 2020 e 933 em 2021). De acordo com Eunice, a diminuição não está relacionada ao controle da doença e sim como uma consequência do período pandêmico.

“Antes da pandemia tínhamos em média 1.300 a 1.400 casos diagnosticados em Goiás. Entre 2020 e 2022, tivemos prejuízos nas ações tanto pelo isolamento social, quanto pelas ações serem mais priorizadas para o controle da Covid-19. Com isso, a taxa de detecção da hanseníase diminuiu e hoje nós temos em média 700 a 900 casos da doença diagnosticados por ano”.

Neste ano, o foco da Campanha Janeiro Roxo em Goiás está nas ações de retomada de diagnósticos dos novos casos. O atendimento é ofertado de forma integral na rede pública, nas unidades da atenção básica localizadas em todos os municípios goianos.

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