Após a derrota do Santos, para o Barcelona, por 4 a 0, no mundial entre clubes, no início de dezembro, a discussão em torno do futebol praticado no Brasil tomou conta de grande parte das rodas de debates. “O Barcelona ensinou como se joga futebol”, foi o que disse Neymar, ao sair derrotado. Mas, o que o time catalão tem de diferente? O que faz a equipe imbatível?

Entre inúmeras características, o futebol apresentado pelo time catalão se destaca pela enorme posse de bola, os pouquíssimos erros de passe, a falta de um centroavante fixo e a qualidade técnica dos jogadores.

O repórter da rádio 730, Vinícius Moura, conversou com o técnico Hélio dos Anjos a respeito deste assunto. Ele acredita que, além destas qualidades, o grande diferencial da equipe é a filosofia implantada nas categorias de base e a valorização da formação de jogadores.

E Hélio parece ter razão. Do time titular, nove jogadores foram formados no Barcelona. A filosofia de jogo foi implantada há cerca de 30 anos e todos os técnicos seguem.

“A manutenção da filosofia é que leva o apuro da qualidade, o Barcelona faz isso muito bem e o futebol brasileiro também pode fazer isso, porque nós estamos começando a ter condições de manter os grandes jogadores dentro do futebol brasileiro e isso é importante”, destacou Hélio.

Manter o elenco

Hélio dos Anjos diz que para o futebol brasileiro evoluir, dentro dos padrões modernos, é preciso que os times tenham condições de manter seus elencos por várias temporadas e investir nas categorias de base.

“O que falta é a condição dos clubes para manter o elenco, esse é o problema, os times grandes já estão conseguindo sobreviver em relação a isso. Esse ano, não estamos vendo tanta saída de jogadores para o futebol europeu, temos que enaltecer a própria economia do Brasil.”

Hélio acredita que, com a manutenção do elenco, é possível colocar em prática a filosofia implantada nas categorias amadoras.

Categorias de base

Para o treinador os times brasileiros pecam em não investir nas categorias amadoras. Ele revelou que grande parte dos clubes considera o investimento pouco rentável. Hélio prega ainda que a lei Pelé precisa de reajustes, no que diz respeito aos clubes formadores.

Para ele, é preciso proteger mais os clubes que investem na base. “A lei Pelé, da forma que está hoje, permite a ação inescrupulosa de pessoas que se envolvem com futebol, única e exclusivamente para o lucro, não quer saber das questões sociais do jogador, não quer saber da sua formação profissional, quer ganhar em cima dos meninos”

O investimento no futebol amador seria uma forma de os times médios poderem competir com o grande poderio econômico dos grandes times do país.

Volantes e centroavantes

Atualmente, as funções de alguns jogadores no esquema tático das equipes tem mudado, o tradicional volante marcador e o centroavante matador tem dado lugar a jogadores mais versáteis e técnicos.

Hélio gosta das duas funções tradicionais, mas vê com bons olhos as mudanças. “Eu gosto, mas tem muito mais coisa contra, porque este centroavante precisa de um conjunto excelente para esta bola chegar nele o tempo todo, acho que o futebol hoje não cabe armar um conjunto em função de um jogador”.