Quatro anos atrás, no dia 8 de maio de 2016, o Goiás sofreu para conquistar seu 26º título do Campeonato Goiano. Na grande decisão contra o Anápolis, depois do placar zerado no primeiro jogo no Jonas Duarte, as equipes voltaram a empatar no Serra Dourada e o título foi resolvido somente nas cobranças de pênalti.

A igualdade persistiu até a quinta rodada das penalidades, quando o goleiro Ivan defendeu a cobrança do zagueiro Leandro Euzébio, ex-Goiás. Na sequência, o atacante Rafhael Lucas converteu e fechou a vitória esmeraldina nos pênaltis por 5 a 4, garantindo o então bicampeonato estadual do clube da Serrinha.

Hoje com 35 anos e de volta ao Joinville, onde se destacou antes da passagem por Goiânia, Ivan foi entrevistado pela Sagres 730 para relembrar a história daquele título do Campeonato Goiano. Pelo Goiás, disputou 16 partidas entre 2016 e 2017 e sua principal contribuição se deu justamente na final do Goianão de 2016.

O goleiro destacou que sua chegada se deu “para brigar pela posição com o titular. Durante os treinos consegui chamar a atenção da comissão, mas acho que não foi o suficiente para que fosse titular, até pela história que o outro goleiro tinha no clube. Continuei trabalhando e dedicando, porque sabia que a minha hora iria chegar. No jogo contra o Vila, na semifinal, o outro goleiro acabou tendo uma lesão e tive a oportunidade”.

“Entrar em um clássico, com o Serra com bastante torcida como estava, e da forma que entrei passou um pouco de confiança e segurança de que poderia jogar a final. Tanto que o outro goleiro tentou voltar para e o Enderson e a comissão acabaram optando para que me mantivesse na final. Tive a felicidade de fazer dois bons jogos, apesar de estar sem ritmo, e ajudar o Goiás a conquistar o título aquele ano”, completou.

Segundo Ivan, “dos últimos anos, foi o título mais difícil que o Goiás teve, porque pegamos um Anápolis muito bem montado e que foi muito melhor que nós nos dois jogos da final. Mas na disputa de pênaltis acabamos nos sagrando campeões e tive a felicidade de defender o quinto pênalti, do Leandro Euzébio, e é algo que marca até hoje. Tenho alguns títulos na carreira, mas esse foi um dos especiais, principalmente por ter sido pelo Goiás”.

Problemas no vestiário

Durante a entrevista, Ivan se referiu a Renan, então titular do Goiás na época, sempre como “o outro goleiro” e nunca por seu nome. Questionado sobre como era a relação, ressaltou que “sempre batalhei, treinei e dediquei muito, respeitei todo mundo e nunca faltei com respeito com ninguém, principalmente com quem me comandava e nunca tentei brigar com ninguém quando tive que ficar no banco”.

“Da minha parte, era uma disputa sadia, até porque as coisas se decidiam com o trabalho e eu trabalhava muito. Nunca foi meu amigo e nunca vai ser, não é um cara que sentaria nem para tomar um copo com água, mas, falando de trabalho, era um grande profissional”. Para Ivan, seu ex-companheiro de equipe foi “um grande goleiro e um cara que tem uma história muito bonita no futebol”, porém reforçou que “nunca foi meu amigo e nunca vai ser”.

Ao escutar a escalação do segundo jogo da final, o goleiro aproveitou para elogiar o experiente volante David, que, “além de jogar muito, era um cara ímpar, que não tem igual no futebol e com um caráter fantástico. Esse grupo tinha muita qualidade, mas acho que muita vaidade entrou no grupo nessa época e talvez o insucesso no restante da temporada tenha se dado a isso”.

Na ocasião, recém rebaixado da Série A do Campeonato Brasileiro, o Goiás terminou a segunda divisão nacional de 2016 na 13ª colocação, com 50 pontos em 38 rodadas, atrás dos rivais Atlético Goianiense – que sagrou-se campeão – e Vila Nova. Na Copa do Brasil, acabou eliminado na ainda na primeira fase, ao perder nos pênaltis para o River-PI na mesma semana do primeiro jogo da final do Campeonato Goiano.

A grande decisão teve a marca de um jovem Léo Sena, que marcou seu único gol na carreira como profissional. Ivan frisou que “desde quando subiu da base para o profissional, foi um menino que sempre admirei muito. Tem muito futebol e já mostrava muita personalidade nos treinos. Ele ocupou o seu espaço e até hoje é titular absoluto do Goiás, e um jogador que chama atenção de diversos clubes. Era questão de tempo para as coisas que estão acontecendo na vida dele”.

Por outro lado, o experiente meia Daniel Carvalho não conseguiu assumir o protagonismo que se esperava. O goleiro afirmou que “não só o Daniel, o grupo inteiro tinha jogadores que tinham uma responsabilidade um pouco a mais. Era um grupo que tinha muita vaidade e que foi formado na amizade de um com outro, um grupo que não tinha a devida união para conquistar os objetivos”.

“Quando você está em um grupo em que os objetivos pessoais são maiores que os objetivos coletivos, tende a não dar certo e esse foi o maior problema do Goiás no restante da temporada. O Daniel é um cara bacana, que tinha os problemas e defeitos dele, mas não fazia mal para ninguém. Era um grande jogador que, infelizmente, não conseguiu render o que rendeu nos outros clubes, assim como outros jogadores que também poderiam ter rendido mais e não conseguiram”, relatou.

Já sobre o treinador Enderson Moreira, “sou suspeito para falar do Enderson, um cara que tenho contato até hoje, um baita treinador e com caráter. O que tenho para falar dele são só coisas boas”. Contudo, após um início ruim na Série B, quando depois de ganhar o primeiro jogo teve uma sequência negativa com quatro derrotas e dois empates, saiu do clube na 7ª rodada quando perdeu para o Bahia em casa por 2 a 0, em junho.

“Até o momento que estava ali, ele ainda conseguia controlar algumas situações, até pela postura que tinha perante o grupo. Depois que saiu, ficou meio que difícil para os outros treinadores, que não conseguiram ter o mesmo pulso e jogo de cintura para lidar com o grupo”. Ivan acrescentou ainda que Enderson “logo após que saiu, muitas coisas ficaram evidentes, situações que as pessoas desconfiavam, mas que estavam presentes no grupo”.

Ficha técnica: Goiás 1-1 Anápolis (5-4 nos pênaltis)

Segundo jogo da final do Campeonato Goiano de 2016
Data: 8 de maio de 2016, domingo
Local: estádio Serra Dourada, em Goiânia, Goiás

Goiás: Ivan; Sueliton, David Duarte, Anderson Salles e Juninho (Patrick); Wendell, David (Daniel Carvalho), Léo Sena e Wagner; Carlos Eduardo (Cassiano) e Rafhael Lucas. Treinador: Enderson Moreira

Anápolis: Felipe Garcia; Marcelo Ferreira, Renato Justi, Leandro Euzébio e Rafael Furlan (David); Toró, Felipe Baiano, Hélder e Lucas Sotero; Marcelinho (Rafael) e Michel Platini (Jânio). Treinador: Waldemar Lemos

Gols: Léo Sena (Goiás), aos 19 minutos do primeiro tempo (1-0); Hélder, aos 46 minutos do primeiro tempo (1-1)
Pênaltis: Daniel Carvalho, Anderson Salles, Wendell, David Duarte e Rafhael Lucas (Goiás); Lucas Sotero, David, Jânio e Marcelo Ferreira (Anápolis)
Árbitro: Bruno Rezende (GO)
Público: 16.504 pagantes

Confira a entrevista de Ivan à Sagres 730