O Brasil celebra o Bicentenário da Independência neste 7 de setembro de 2022. Há 200 anos o país se emancipou e deixou de ser colônia de Portugal. Posteriormente, em 15 de novembro de 1889, proclamou a República e atualmente elege seus governantes por meio de uma democracia representativa. Mas o professor e historiador, Norberto Salomão, destacou que o processo de independência não ocorreu de uma hora para a outra.

“A Independência do Brasil não foi um ato esporádico e momentâneo, não foi uma ruptura que aconteceu do nada, já vinha todo um processo. De repente, eu poderia até falar que Napoleão Bonaparte tem muito a ver com a Independência do Brasil”, disse.

Assista a entrevista na íntegra:

O historiador explicou que as guerras napoleônicas exigiram a transferência da família real portuguesa para o Brasil entre 1808 e 1821. Conforme pontuou Salomão, foi essa transferência da corte de Portugal para o Brasil que marcou o início do processo de emancipação política do país.

Ruptura política

Norberto Salomão contou que a situação provocou o retorno de Dom João para Portugal, mas o então Imperador do Brasil não levou o filho, Pedro, o príncipe regente. E que neste momento, o país já convivia com movimentos pró-independência.

“Havia ameaça de vários movimentos que poderiam eclodir e a Independência do Brasil vai se dar nesse clima. As cortes portuguesas exigiam, que Dom Pedro I voltasse para Portugal, mas ocorreu o famoso Dia do Fico, em 9 de janeiro de 1822. Nesta data, Dom Pedro falou a famosa frase: “Se é para o bem de todos e para a felicidade geral da nação, estou pronto, diga ao povo que fico!”

A decisão do príncipe regente estremeceu ainda mais a relação com o parlamento português, principalmente, porque Dom Pedro estabeleceu a lei do cumpra-se, em que nenhuma lei de Portugal seria cumprida sem autorização dele no Brasil. E ainda convocou uma constituinte para elaborar uma Constituição para o Brasil. “Mais ruptura do que isso, impossível”, disse o professor.

Todas essas medidas fizeram o parlamento português pressionar o príncipe regente do Brasil. Conforme Norberto Salomão, no dia 7 de setembro de 2022, Dom Pedro estava subindo uma serra às margens do Riacho do Ipiranga quando recebeu uma carta de José Bonifácio de Andrade e Silva e da esposa, Maria Leopoldina.

“E nessa carta diziam a ele que não tinha mais recuo. Era o momento de proclamar a independência porque Portugal ameaçava invadir o Brasil e fazer com que voltasse à condição de colônia. Isso vai marcar o 7 de setembro de 1822”, contou Salomão. 

Aspecto político do Bicentenário

O Bicentenário da Independência está sendo marcado por aspectos políticos que envolvem o atual momento democrático do país, principalmente, por ocorrer dentro do período de campanha eleitoral para o pleito presidencial de 2002. Porém, a mobilização realizada pelo presidente Jair Bolsonaro (PL) para atos em apoio à reeleição foi ponto de tensão em torno da data histórica para os brasileiros.

O jornalista Rubens Salomão destacou que a expectativa das comemorações do Bicentenário da Independência foi antecipada nas comemorações do 7 de setembro de 2021, quando se intensificou a crise institucional causada, em sua maioria, por Bolsonaro com outros Poderes da República.

“O presidente Jair Bolsonaro tem discursos muito agressivos. Ele faz ataques principalmente ao Poder Judiciário, ao Supremo Tribunal Federal (STF), xinga ministros. Isso inclusive aconteceu com grande destaque no 7 de setembro de 2021 e desde lá a gente já começava a questionar qual seria o tom do 7 de setembro desse ano, afinal de contas é o último ano de mandato”, pontuou.

Na manhã desta quarta-feira (7), ocorreu na Esplanada dos Ministérios, em Brasília, o tradicional desfile cívico-militar que marca as celebrações do Dia da Independência em todo o país. 

O jornalista avaliou como “ausências importantes” a não participação do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco; do presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira, e do presidente do STF, Luiz Fux. Os três são os representantes dos Poderes Legislativo e Judiciário.

“Isso mostra que a participação nesta solenidade de comemoração do bicentenário da independência está marcado por esse contexto político polarizado de ataques entre as instituições”, afirmou.

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