As mortes por infecção bacteriana ainda despontam como a segunda principal causa de morte no mundo. É o que aponta uma pesquisa publicada na revista científica The Lancet, em novembro. Estima-se que ocorreram 13,7 milhões de mortes relacionadas com infecções em 2019. Mas o maior problema não mora aí: dessas, mais da metade foram causadas por apenas 33 patógenos. 

Isso significa que 13,6% de todas as mortes em 2019 foram causadas por essas bactérias e, dentre essas, apenas cinco delas causaram quase metade de todas as mortes por bactérias investigadas. Elas também são responsáveis por 56,2% de todas as mortes relacionadas à sepse. 

“As doenças infecciosas eram a principal causa de morte no mundo todo no início do século passado e isso foi se transformando em virtude das melhorias sanitárias, como o tratamento de água e esgoto, o controle da qualidade da produção dos alimentos e também o advento das vacinas e o desenvolvimento dos antibióticos, que passaram a ser produzidos em grande escala na década de 40”, diz Valéria Cassettari, médica infectologista e coordenadora do Controle de Infecções Hospitalares do Hospital Universitário. 

Por que ainda tantos morrem?

O infectologista e professor da Faculdade de Medicina da USP, Marcos Boulos, explica que o número elevado de mortes tem a ver com as características replicativas das bactérias. “Algumas bactérias, de modo geral, e alguns protozoários replicam muito rapidamente. Mais rápido e mais fatal, na maior parte das vezes”, diz. 

Mesmo com esse avanço, as fatalidades poderiam ser bem menores. Dentre as causas para o ainda alto número de mortes por infecções bacterianas, destaca-se o atendimento tardio, diagnóstico não específico, maus hábitos alimentares e fragilidades de saúde, que implica na piora do quadro caso haja uma bactéria. 

Valéria lembra também que, entre os patógenos que mais matam, dois deles, Staphylococcus aureus e Escherichia coli, estão entre os microrganismos que naturalmente habitam o corpo humano. “São bactérias que estão presentes no nosso organismo como colonizantes na pele e no trato gastrointestinal. Em algum momento ocorre uma fragilidade das nossas defesas e elas acabam causando doenças”, diz.

Problemas no sistema de saúde

Outro aspecto revelado pelo estudo é que países com uma maior renda per capita registraram as menores taxas de morte por infecções bacterianas, enquanto regiões com menores rendas foram as mais afetadas. Um exemplo é a região da África Subsaariana. Isso mostra a importância de um tratamento eficaz e de qualidade dentro de facilidades médicas públicas e privadas. 

“Os maiores desafios do sistema de saúde para o atendimento adequado às doenças bacterianas são, em primeiro lugar, disponibilidade de equipe capacitada em número suficiente de profissionais para atendimento nos serviços de urgência, para que o diagnóstico seja feito rapidamente e com precisão”, pontua Valéria.

Exames de cultura de sangue e de urina, por exemplo, também estão entre os desafios: muitas vezes não há como fazer. Além disso, depois de coletados, devem ir a bons laboratórios para que um diagnóstico certeiro possa ser feito bem como a identificação correta das resistências a antibióticos. Por fim, a infectologista lembra que muitos pacientes com infecções necessitam de cirurgias de urgência, medicamentos vasoativos e monitoramento 24 horas por dia: “Nós temos esse problema que é uma carência permanente de leitos de UTI”.

Cuidados

Por isso, é de extrema importância procurar por atendimento médico assim que sintomas de infecção aparecerem. Eles são: tosse, espirro, febre, inflamação, catarro, fadiga, entre outros. Boulos ainda lembra que hábitos saudáveis de alimentação são fundamentais para que as bactérias, principalmente as oportunistas, não encontrem terreno fértil para sua replicação. 

*Com informações do Jornal da USP

Leia mais: