A taxa de ocupação em leitos de UTI em Goiás na manhã desta quarta-feira (31/3) está em 95% com uma fila de espera de quase 300 pacientes. Apesar de o governador do estado, Ronaldo Caiado, apontar uma faixa de estabilidade no que diz respeito aos números da pandemia após fechamento do comércio, o infectologista Boaventura Brás de Queiros ressalta que as medidas de restrição ainda não surtiram efeito em casos graves.

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 O médico citou o dado de que a ocupação nas enfermarias foi reduzida. Até às 8h40 de hoje, a taxa estava em 80%, percentual abaixo do que vinha sendo registrado desde o início do mês de março. Mas ele ressaltou que em Unidades de Terapia Intensiva, esse cenário ainda não foi de queda. “O paciente que entra em uma UTI não passa menos de 13 a 15 dias internado. Então não teve redução de percentual de leitos ocupados nesses últimos dias, porque quando você tinha um paciente saindo por algum motivo existia outro três aguardando na fila. Então, com relação às UTIs, não teve uma repercussão desse processo de fechamento das atividades não essenciais. (…) Agora, já estamos com as atividades não essenciais abertas e a gente tem que contar muito com o cidadão”, pontuou.

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O médico criticou o comportamento da população ao dar um “jeitinho” em burlar as restrições durante vigência dos decretos estadual e municipais. “Se você procurasse algo para comprar, era só ir atrás do mercado que tinha uma portinha aberta. Quando você entrava, tinha ali 5 ou 6 pessoas em ambiente fechado. E isso é muito pior do que deixar um mercado aberto ventilando bem. Então, esse aspecto do brasileiro de dar um ‘jeitinho’ trás consequências desastrosas em relação ao vírus, que precisa de um ambiente fechado e aerossóis em suspensão para proliferar”, afirmou.

Segundo Boaventura, outro problema é a rápida evolução dos pacientes, situação ocasionada com o surgimento de novas variantes na segunda onda de Covid. “A evolução desses pacientes para um estado grave com a necessidade de ir pra UTI era em torno de 10 a 15 dias. Hoje, temos assistido isso mais precocemente. No sétimo ou oitavo dia, no máximo, esses pacientes já estão exigindo internações.  Por causa disso, há duas semanas nós estávamos enfrentando a superlotação, inclusive nas enfermarias. Tínhamos literalmente filas de paciente precisando de internação sem ter onde colocar essas pessoas.  Só Deus sabe as consequências disso nessas últimas três semanas”, lembrou.

Segundo o último boletim da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) os dados mais recentes da evolução de Covid-19 no Brasil apontou para o aumento dos casos da doença entre os mais jovens: 30 a 39 anos, 40 a 49 anos e 50 a 59 anos. O avanço foi verificado pelos pesquisadores nos dados semanais divulgados pelo ministério desde o começo do ano até o dia 13 de março. O aumento de casos foi de, respectivamente, 565,08% (30 a 39 anos), 626% (40 a 49 anos) e 525,93% (50 a 59 anos).

Esse cenário é uma das grandes diferenças da segunda onda do coronavírus, quando comparada à primeira. “Isso é um aumento absurdo, mas é real. A gente sente isso dentro dos hospitais tanto nas enfermarias quanto nas UTIs. Tem pessoas com idades entre 42 e 44 anos morrendo. A gente não assistia isso em 2020. Estamos vendo também muitas pessoas que contaminaram a família inteira. A capacidade de transmissão desse vírus está muito alta. O outro detalhe é que essas pessoas mais jovens acabam ficando mais tempo dentro da UTI”, explicou o infectologista.

VACINA E DISTANCIAMENTO

Para o médico, hoje duas medidas são eficazes no combate à pandemia. Uma delas é o distanciamento social e os cuidados no uso de máscara e álcool 70%. A outra é a vacina, que na visão de Boaventura, caminha a passos lentos.

“Quem sabe em outubro teremos pelo menos 70% da população vacinada e isso é um sonho, porque na verdade o caminho tá muito lento. Acho que nós perdemos o tempo lá em agosto quando o governo federal deveria ter comprado o volume de vacinas que precisávamos e não foi feito isso. Agora, nós estamos pagando por ter chegado tarde da história da vacina. Hoje é 31 de março e nós não temos 10% da população vacinada”, ressaltou.