A situação é trágica: o CRAC, clube de 83 anos e tradicional em Goiás, conquistando até título goiano, está perto de fechar as portas. Só que nada disso é culpa da administração pública da cidade de Catalão, pelo menos é o que garante o prefeito da cidade, Jardel Sebba. Em entrevista sincera e esclarecedora à 730, ao repórter Rafael Bessa, o prefeito explicou que já ajudou bastante o clube, mas que não foi eleito para administrar o clube, e sim a cidade.
“Eu fico muito triste, mas em nenhum momento com a consciência pesada, porque tudo que eu poderia fazer para o CRAC, eu fiz. No ano passado, eu estava com os cofres da prefeitura cheios e eu doei R$1,5 milhão para o CRAC, e hoje o clube está com uma dívida de mais de R$2 milhões. Catalão tem várias empresas multinacionais e só a prefeitura que tem que bancar. Eu não fui eleito para dirigir o CRAC, fui eleito para administrar Catalão”
Sempre claro e repetindo por mais de seis vezes que “pode ajudar, mas não bancar o CRAC”, Jardel também tratou de explicar porque a verba de R$480 mil para o clube, aprovada pela Câmara, não foi devidamente repassada. Nesse momento, revelou algo bizarro: o clube teve a conta no banco encerrada. O prefeito também falou sobre a relação do clube com a política e destacou que se Adib Elias, rival político, voltar ao CRAC, a oferta de ajuda segue a mesma. Bancar, não.
“Primeiro: eu não sabia que o CRAC pertencia a um partido político. Segundo: esse cidadão, se ele quiser ser presidente do CRAC, vou continuar ajudando. Ele nunca mais foi no CRAC, ele era tão apaixonado e depois que ele perdeu nos quatro turnos que aconteceram em Catalão, no voto, no TCE, no TRE, aí ele nunca mais voltou no CRAC. O clube é da sociedade catalana, da região sudeste. Eu não indico presidente, não indico diretor de futebol. Seja quem for, eu vou ajudar, mas bancar, nunca”
Verba barrada
“Há um dinheiro na Prefeitura destinado ao CRAC, aprovado pela Câmara Municipal. Agora, o CRAC não tem nem onde depositar esse dinheiro, o clube não tem mais conta bancaria. Não obstante, qualquer quantia que for doada para o CRAC, 30% é retido pela Justiça Trabalhista, já tem mais de 60 mil deferido, são mais de 40 cheques do CRAC sem fundo. Se tem R$480 mil, eu não vou tirar isso para chegar só R$150 mil ou R$200 mil no cofre do CRAC, eu não sou irresponsável”
Erro de gestão
“O CRAC foi tocado de forma leviana, irresponsável e inconsequente, e eu não posso pagar o preço de uma irresponsabilidade da diretoria. Falaram que iriam fazer um movimento hoje (terça-feira) na porta da prefeitura, e eu estou aguardando esse movimento, até para eu explicar. Eu não posso tirar dinheiro da saúde, educação, merenda escolar, postos, prontos-socorros, pra colocar num time de futebol. Não posso, não devo e não vou fazer”
“Eu acho lamentável demais, mas eu chamo a atenção de um coisa: se não dava conta de permanecer e tocar na Série C, porque entrou? Se sair da Série C e cair para a 3ª Divisão do Goiano, eu também vou ficar pesaroso, mas em momento nenhum vou perder meu sono. Se o CRAC desistir, vou ficar triste, mas ficaria muito mais se alguém deixasse de ser atendido no pronto-socorro, se uma mulher perdesse o filho porque o Materno Infantil não pôde atender”
Situação inédita?
“O que algumas pessoas querem é que a prefeitura arque com todas as despesas do CRAC. Se me citarem um time no Brasil que a prefeitura arque com as todas as despesas do futebol, eu vou ficar calado e até me preocupar em fazer também. Eu tive aqui com grandes dirigentes de clubes de outros estados, até com o Serginho Chulapa quando o Santos veio jogar aqui, ele falou que nunca viu uma prefeitura investir tanto no futebol como aqui. Prefeitura não é feita pra bancar time, e sim pra administrar a cidade”