Em 62 anos de sacerdócio, o padre Jesus Flores se tornou também um dos maiores comunicadores de Goiás. O missionário redentorista não resistiu à Covid-19 e faleceu na noite deste sábado (11) em Goiânia, onde estava internado em estado gravíssimo na UTI.
De acordo com o padre Wellington Silva, vice-presidente da Associação Goiana de Rádios (Agora), o primeiro contato do padre Jesus Flores em sua jornada de luta e preocupação com a população mais pobre aconteceu no interior de São Paulo, na cidade de Garça, no início da década de 60, quando era padre na paróquia de São Pedro.
“Ele fez a sua primeira defesa dos trabalhadores da panha do café naquela região. Ele era colunista diário de um jornal de circulação municipal, e os patrões foram reclamar com o bispo de Marília-SP que o padre estava dizendo que eles tratavam os trabalhadores como animais. Então o bispo disse a eles ‘Vocês não tratam como animais, porque os animais têm alimento, têm lugar de descanso e os trabalhadores de vocês nem isso têm'”, relata padre Wellington à Sagres.
Daquele momento em diante, padre Jesus Flores continuou a sua missão como sacerdote e como jornalista. O missionário era referência há décadas em análises dos cenários políticos locais, regionais e nacionais – a comunicação é um dos carismas de sua ordem, a dos redentoristas.

De acordo com padre Wellington, padre Jesus Flores atuou em defesa da população durante as invasões como no Parque Oeste Industrial, em Goiânia.
“Buscou defender os pobres que estavam em invasões tanto no Morro do Aranha como na região da Prefeitura. Hoje onde era a feira a da estação havia uma invasão, como também no Parque Oeste Industrial, padre Jesus sempre esteve à frente defendendo os mais pobres, buscando dialogar com as autoridades com muita responsabilidade. Padre Jesus nunca foi um agitador político, sempre foi um conselheiro e um comentarista muito responsável”, afirma.
Segundo padre Wellington, padre Jesus Flores lutou contra a Covid-19 e em prol da vacinação da população. Com problemas cardíacos, mesmo tendo tomado as duas doses, ele acabou não resistindo à doença.
“Ele morre de uma doença que ele combateu, tomou todos os cuidados, mas que no fim das contas, a gente não imagina e nem sabe como, mas ele foi tombado por esta mesma doença, para mostrar que nenhum de nós está em posição melhor ou pior diante da enfermidade. Podemos dizer que se tratou de uma morte profética, combatendo o negacionismo”, conclui.
Jornalistas da Sagres lamentam a morte do padre Jesus Flores
O jornalista e comentarista Cleber Ferreira conta que teve a honra de trabalhar com o padre Jesus Flores nos tempos da Rádio Difusora de Goiânia, e que se orgulha de ter sido dirigido por ele.
“Foi um mestre por excelência. Não media esforços para ensinar, esclarecer e cobrava o resultado do trabalho proporcionalmente à dedicação com que ensinava. O ensinamento mostrava a importância do jornalismo para o desenvolvimento de um povo, por isto mostrava que a profissão deveria ser exercida na rígida observação dos princípios da ética, honestidade e justiça, morteadas pela imparcialidade e pela dedicação na apuração dos fatos e na busca do conhecimento de causa”, afirma Cleber.
O jornalista Cleber Ferreira, da Sagres, lamentou neste domingo (12) a morte de padre Jesus Flores: “Deixa uma lacuna impreenchível e deixa um legado incalculável.” pic.twitter.com/BizyUcFTKW
— Rádio Sagres 730 (@sagres730) September 12, 2021
O jornalista da Sagres conta que leva consigo até hoje os ensinamentos e a influência como padre Jesus Flores exercia a função de jornalista. “Contundente, destemido, mas com total repúdio ao sensacionalismo. Era um apaixonado pela vida celibatária e pela comunicação. Deixa um legado incalculável nestes dois segmentos. Deixa também um vazio difícil de ser preenchido no coração de amigos, fiéis, ouvintes e daqueles, que como eu, tiveram o privilégio de trabalhar ao seu lado. Aqueles que falam que não existe ninguém insubstituível, não conheceram o trabalho do Padre Jesus flores”, conclui.
O jornalista, apresentador e comentarista José Carlos Lopes também lamentou a morte do padre Jesus Flores, com que também atuou na Rádio Difusora de Goiânia.
“Em 1994, fizemos juntos a Copa do Mundo dos EUA! Na equipe liderada por @senadorkajuru Padre Jesus fez diferença com o outro lado da copa. Foi uma experiência ímpar ao lado também do Padre Rafael Vieira e dos jornalistas @luizcarlosbordoni Graça Torres e Fabíola Mendes. Aprendemos muito! Agradeço a oportunidade da convivência com o Padre Jesus Flores em diferentes momentos da vida”, publicou nas redes sociais.
O jornalista e comentarista Evandro Gomes, também relembrou os tempos em que atuou sob a direção de padre Jesus Flores na Rádio Difusora nos anos 80, e lamentou o falecimento do religioso. “Como padre em sua homilia, como jornalista em seu ponto de vista em defesa, na maioria das vezes, daqueles mais necessitados, foi um coração bom e uma opinião que deixa saudade”, afirma. “Era um homem que sabia respeitar se fazendo respeitar. Ele respeitava seus funcionários e impunha sua condição de diretor. Como jornalista foi brilhante, e era visível o interesse daqueles que o acompanhavam na política em seu comentário quer seja na televisão, no jornal ou nas emissoras católicas, sempre teve uma opinião firme. Lamento profundamente, acho que o jornalismo perde um de seus ícones, a igreja perde um sacerdote que tinha uma palavra muito firme no momento de seu sermão, e aqueles que o conheceram perdem a convivência de um homem íntegro acima de tudo. Vou sentir muita saudade”, completa Evandro.