Em Goiás, comércio está suspenso por decreto do governador Ronaldo Caiado (Foto: Tomaz Silva/ Agência Brasil)
A Justiça do Rio de Janeiro ordenou que a União suspensa a campanha ‘O Brasil Não Pode Parar’, do governo federal, que pede que o comércio seja reaberto e as pessoas deixem o isolamento social. A suspensão foi um pedido do Ministério Público Federal (MPF).
A decisão, da juíza plantonista Laura Bastos Carvalho, da Justiça Federal do Rio de Janeiro, inclui retirar peças publicitárias, campanha ou qualquer tipo de mensagem que sugira à população comportamento em desacordo com as “diretrizes técnicas, emitidas pelo Ministério da Saúde, com fundamento em documentos públicos, de entidades científicas, de notório conhecimento no campo da epidemiologia e da saúde pública”.
Ainda de acordo com a decisão, o descumprimento resulta em multa de R$ 100.000,00 por infração. A juíza entende que a campanha ‘O Brasil Não Pode Parar’ incentiva as pessoas a irem às ruas e retomarem a rotina, sem que exista um ‘plano de combate à pandemia definido e amplamente divulgado’.
A campanha defende o chamado isolamento vertical, em que apenas os grupos de risco, como maiores de 60 anos e pessoas que já possuem outras doenças, ficariam em quarentena. A eficácia do método, porém, não é comprovada cientificamente. A ação foi lançada dois dias depois de o presidente Jair Bolsonaro minimizar a pandemia da covid-19, chamando a covid-19 de ‘gripezinha’. O chefe do Executivo nacional voltou a fazê-lo em uma live na última quinta-feira (26), data em que Goiás registrou a primeira morte pela doença.
Em entrevista à Sagres, o médico infectologista Boaventura Braz, diz que o isolamento vertical para conter coronavírus não é adequado ao Brasil, e explicou que há dois tipos da medida: vertical e horizontal. A primeira situação se refere ao isolamento de grupos de risco, ou seja, apenas idosos, pessoas com comorbidades preexistentes; a segunda situação é o isolamento social para conter a propagação de vírus e “achatar a curva” de transmissão. “No isolamento vertical você não se preocupa com a situação do vírus na população em geral, isola grupos de risco. Resta saber como é que fica a vida das outras pessoas”, afirma. “Só é viável no cenário de um mundo ideal, onde as pessoas tenham casas para morar extremamente amplas, mas que está muito distante da nossa sociedade”, complementa o especialista.
Após a declaração de Bolsonaro, o ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta disse que a quarentena nos Estados foi “precipitada” e de forma desorganizada. Já para o infectologista, o isolamento social “começou na hora certa” e acredita que deve ser prorrogado por mais uma ou duas semanas.
Em Goiás, a quarentena estipulada pelo governador Ronaldo Caiado, para evitar a propagação do coronavírus, entrou em vigor em 19 de março com previsão de encerrar em 4 de abril, podendo ser prorrogado.
Em todo o Brasil, já foram registradas 97 mortes pelo novo coronavírus, além de 3.417 casos confirmados de covid-19. Em Goiás, o número subiu neste sábado (28) de 49 para 56 registros.