Nas últimas duas décadas, mais de 1 milhão de quilômetros quadrados do Brasil, ou cerca de 17,5% do território nacional, queimaram pelo menos uma vez. Para se ter uma ideia, o número equivale a praticamente toda a região nordeste. Os dados são do mapeamento feito pelo projeto Mapbiomas lançado ontem (3), e integram a 5ª Coleção Anual de Mapas de Cobertura e uso do Solo do Brasil.
Em entrevista ao Sagres em Tom Maior desta sexta-feira (4), a diretora de Ciência do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM), Ane Alencar, explica como é feito o mapeamento das regiões atingidas por queimadas, e os desafios desse monitoramento.
“Aproveitamos a disponibilidade as imagens do satélite Landsat que tem um acervo de 30 anos de imagens, que são captadas a cada 15 dias. Parece simples mapear o fogo, mas não é. O fogo é efêmero, ele desaparece, então a cicatriz do fogo nas imagens de satélite desparecem com o tempo. Por exemplo, no Cerrado uma área que foi queimada, a cicatriz pode desaparecer muito rápido. Em semanas, meses não se tem mais essa cicatriz”, esclarece.

Provocar queimadas sem o consentimento dos órgãos ambientais é crime ambiental. Segundo o art. 41 da lei federal nº 9.605, de 12 de fevereiro de 1998, quem provocar incêndio em mata ou floresta pode ser penalizado com reclusão de dois a quatro anos e multa.
“A gente sabe que o uso do fogo é uma das principais estratégias produtivas, ou seja, as pessoas usam o fogo para plantar, para limpar uma pastagem. Dependendo do tipo de manejo, as pessoas pedindo licença para os órgãos ambientais estaduais, isso é possível de ser feito de uma forma legal. E também tem o fogo utilizado para controlar ambientes que são adaptados ao fogo, como uma parte do Cerrado, do Pantanal. Às vezes o fogo é utilizado para reduzir a quantidade de material combustível, porque esses biomais também têm fogo natural. O fogo de manejo também precisa de licença para ser utilizado”, alerta.
A diretora de Ciência do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia ressalta a importância dos números em relação às queimadas no país, de modo a evitar que destruições maiores atinjam o país no futuro.
“Essa base de dados pode auxiliar a gente a entender como que o fogo tem se comportado e qual a sua relação com as principais variáveis climáticas, para poder evitar futuras catástrofes”, complementa.
Confira a entrevista na íntegra a seguir no STM #156