O ex-presidente Lula tem sede em Marconi Perillo, faz questão de derrotá-lo e só vê um personagem capaz da tarefa: o prefeito de Aparecida, Maguito Vilela. Marconi contou a Lula sobre a compra de apoios de parlamentares, que poderia ter evitado o escândalo do mensalão. Lula não agiu e o resto é história. Agora, Marconi chamou Lula de canalha. Se o ex-presidente já não perdoava o governador, agora, então, a guerra está declarada. Mas Lula precisa avisar a seus companheiros do PT goiano, pois por aqui seu partido já acabou a aliança com o PMDB de Maguito e vai lançar candidato próprio.

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Escolheu até quem vai representá-lo, é um prefeito de grande cidade próxima a Goiânia, mas é Antônio Gomide, de Anápolis. “O Marconi arrumou um problema tamanho GG, Gomide governador”, trocadilha um deputado unha e cutícula com o prefeito anapolino.

Até há algumas semanas, ainda se disfarçava, só que cada vez menos. Agora, as máscaras caíram e ninguém mais no PT sequer finge que ainda quer aliança com o PMDB. A exceção é o prefeito de Goiânia, Paulo Garcia, que permanece fiel a seu antecessor e padrinho político, Iris Rezende . A coisa desandou quando o PT percebeu que Júnior Friboi, apesar de recém-filiado, está dominando o PMDB com o discurso de renovação.

Para os petistas, renovação é Gomide, não Friboi. Os petistas têm alguma reverência a Iris por causa dos empregos quando prefeito e por deixar 33 meses de um mandato e ajudar a conseguir outros 48 com a reeleição de Paulo. Mas não devem nada a Friboi, muito menos apoio.

A conta que o PT faz é simples: se o candidato do PMDB não for Iris, o placar do jogo volta a 0×0. Os nomes do PT ficam iguais aos do PMDB, inclusive, nas pesquisas. Fora Iris, o PMDB não tem nenhum quadro que se iguale a Paulo Garcia e Gomide, até porque Maguito repete que não sai da prefeitura nem à custa de reza brava, nem com mandinga, nem com praga de vó.

Marconi também se diz resolvido a não ser candidato à reeleição e a cada dia se capacita mais a concorrer. Seria o caso de Maguito? A Rede conversou com alguns de seus secretários. Nenhum foi procurado pelo prefeito para acelerar as obras.

Para ser candidato a governador, Maguito (como qualquer ocupante de chefia de Executivo) teria de renunciar nove meses antes da votação.

Um secretário municipal em Aparecida diz que “o prefeito não cai em latada e ser candidato agora é latada”. O auxiliar enumera as centenas de obras em andamento por todo o município: “A saúde, a educação e a infraestrutura em Aparecida cresceram mais em quatro anos de Maguito que no restante da história da cidade”. É fato. Maguito se reelegeu enfrentando Ademir Menezes, ex-prefeito de Aparecida por dois mandatos, não foi debilidade do oponente, mas pela força das realizações. Aliás, Ademir é fortíssimo, venceria qualquer outro, menos Maguito.
 
“Estou com Maguito”
O PT abriria mão de lançar candidato próprio se Lula pedir por Maguito? Há resposta para todos os gostos nas alas petistas. Confira algumas:

“O Maguito não quer ser candidato e eu é que vou querer que ele seja?”.

“Estou com Maguito porque o PT passaria a ter os prefeitos das três maiores cidades do Estado [o vice de Aparecida é o petista Ozair José]”.

“O Maguito é excelente administrador, teria sido reeleito governador se tivesse sido candidato e vou apoiar mesmo ele, pode contar comigo”.

“Vamos insistir com o Gomide e o Lula que mande no partido em outro lugar, porque aqui não, companheirão”.

“O PT não pode ser apêndice do PMDB, estou com Gomide, Paulo Garcia, Olavo Noleto [ocupante de cargo federal]”.

“O PMDB toda hora quer romper com a presidente Dilma e nós aqui vamos segurar vela para eles? Por mim, não”.

“Se não for o Iris, ninguém do PMDB ganha do Marconi e o presidente Lula quer alguém que vença o Marconi, não precisa ser o Maguito. O Lula não sabe que se o candidato for o Maguito o Iris não vai fazer campanha, como não fez em 2006 e o PMDB perdeu para o Cidin”.

“O PT nacional não tem coragem de intervir no diretório de Goiás se a gente contrariar a orientação e não apoiar o PMDB. Em 2006, o companheiro Lula também queria que a gente apoiasse o Maguito, nós lançamos o companheiro Valdi Camarcio vice do Barbosa Neto, perdemos, e o diretório [nacional] não fez intervenção”.
 
Paulo Garcia continua fiel a Iris
Se Iris Rezende tivesse no PMDB o aliado que tem no PT, estaria com a eleição ganha e não sobraria espaço para Júnior Friboi nem respirar. Paulo Garcia é seu companheiro de verdade. Paulo já foi procurado por diversos interlocutores para apoiar Antônio Gomide a governador ou até para lançar a própria candidatura. O prefeito de Goiânia responde que seu compromisso é com o antecessor: “Enquanto o Iris não me disser que vai apoiar outro, vou continuar esperando por ele”. A fidelidade é mútua, porque Iris também não faria campanha de verdade para nenhum outro, mesmo no PMDB, que não seja Paulo Garcia.

Frequentadores da casa de Iris notaram que, nos últimos meses, Paulo tem ido muito pouco à rua atrás da Assembleia Legislativa. É lá o prédio em que Iris mora. De qualquer forma, Iris sabe que pode contar com Paulo e Paulo sabe que terá a ajuda de Iris. Até porque o plano A de Paulo é Iris, mas o plano B é… Paulo. Se Iris preferir não enfrentar Marconi ou se perder a luta interna para Friboi, Paulo é o primeiro nome na lista. Então, para Paulo apoiar Gomide, é preciso haver desistência dupla: de Iris e do próprio Paulo.
 
As barreiras até chegar lá
O PT está decidido a lançar candidato próprio, isso nem se discute mais. Falta nominar, mas há poucas dúvidas quanto ao perfil, que seria o do prefeito de Anápolis, Antônio Gomide. As certezas, completas ou pelas metades, acabam por aí. E começa a plantação de pepinos, tendo à frente uma lavoura de abacaxis. Gomide é desconhecido, nunca ajudou a ninguém significativo de nenhuma sigla e deixaria Anápolis ainda capenga em diversas áreas.

Não se discute acerca da qualidade da primeira gestão de Gomide. Organizou a cidade. Moralizou. Acabou com o clima pesado herdado da sequência de prefeitos ruins. E espalhou obras, a maioria construída com dinheiro de Brasília, especialmente trazido por um irmão do prefeito, o deputado federal Rubens Otoni.

Entre as muitas alas do PT, Gomide tem mais trânsito que Rubens, mas o deputado é melhor para articular que o prefeito. Falta aos irmãos o que sobra em Paulo Garcia, um grande número de petistas devendo-lhe favores. Se o PMDB preferir recompor a aliança aceitando um petista como candidato a governador, haveria imensa dificuldade se o avatar for o @prefanapolis. O PMDB reclama que os irmãos Gomide não fizeram campanha para Iris em 2010, tanto que Antônio foi reeleito com 90% dos votos em 2012 e não repassou 20% deles para o candidato a governador apoiado por seu partido. No PT encontra-se a mesma queixa: os irmãos Gomide só saem a campo se o nome deles estiver na urna.
 
“Marconi não disputa”
Os políticos de Anápolis com os quais A Rede conversou não têm dúvidas de que Marconi não será candidato à reeleição. Assim, ficaria mais fácil para Gomide, pois Marconi costuma vencer em Anápolis. De onde vem a certeza de que Marconi vai desistir de tentar se manter no cargo? Uns dizem que “é o que se fala por aqui [em Anápolis]”. Outros esperam um grande escândalo [leia coluna Primeiras Notas]. Tem quem fale que Marconi não vai superar os desgastes. “Marconi está fora da disputa para governador”, diz um auxiliar de Gomide na prefeitura. Com base em que o senhor diz isso? “Em Anápolis todo mundo sabe que Marconi está fora”.

Os concorrentes dos sonhos deles são Júnior Friboi no PMDB e qualquer um, menos Marconi, na chapa do governo. “Se o Júnior quiser ser o senador nosso [da chapa de Gomide] vai ser bom, mas ótimo mesmo seria o Iris para o Senado”, diz um deputado petista. O parlamentar diz que iria buscar Vanderlan Cardoso para ser o vice de Gomide e sonho com Maguito Vilela ou Iris Rezende disputando o Senado. Maguito, o predileto de Lula, já teria despachado o filho deputado, Daniel Vilela, para dizer a Gomide que o prefeito de Aparecida apoia o prefeito de Anápolis. Internamente, no PMDB, fala-se até em Daniel para governador, nunca em Gomide.