Nos últimos três anos a Delegacia de Investigação de Crimes de Trânsito registrou mais de mil mortes no trânsito na região metropolitana de Goiânia. Só durante o fim de semana prolongado, do feriado da Semana Santa, a Polícia Rodoviária Federal (PRF) contabilizou 80 acidentes com sete mortes nas rodovias federais que cortam o Estado. Resultado da falta de habilidade e de conhecimento sobre a sinalização das estradas, afirma o inspetor Newton Moraes, assessor de comunicação da PRF. “São situações que acabam conflitando com a estrada e trazendo sérios prejuízos para o cidadão que dirige. Por isso acidentes como saída de pista, tombamento, capotamento e colisões traseiras têm sido frequentes e trágicos.”
A reportagem da Rede Clube de Comunicação foi às ruas testar o nível de conhecimento do motorista goianiense sobre sinalização. Com um manual de habilitação, foram apresentadas ao motorista as placas de trânsito: 52 de regulamentação, as vermelhas, e 70 de advertência, as amarelas. De 40 entrevistados, apenas dez acertaram mais de 30 por cento das placas.
O taxista João Silva pensou que ainda conhecesse todas, mas se lembrou de poucas. “Essas aqui não conheço não.” O comerciante Izaías Alves está acima da média, acertou boa parte da sinalização. Ele concorda que faz parte de uma minoria e que grande parte dos motoristas não presta atenção nas placas. “Estuda somente durante as aulas teóricas ou práticas para passar e adquirir a sua habilitação.”
De acordo com dados do Detran, o teste prático realizado dentro do processo de habilitação reprova bem mais que o teórico, cerca de 50% versus 24%. Em 2012, 455 mil pessoas passaram pela prova prática no Detran Goiás, quase a metade foi reprovada, 48,9%. Na prova escrita as mulheres se saem melhor, de cada seis que passam na avaliação, uma é reprovada. Os números revelam que os homens são menos preparados: a cada quatro, um é barrado.
Dados que, segundo o gerente de Exames de Trânsito do órgão, José Orlandes, comprovam que o candidato chega a reta final do processo de formação sem conhecimento suficiente para se tornar motorista. José Orlandes defende a legislação e transfere para o cidadão a “responsabilidade de buscar os conhecimentos básicos para dirigir com segurança”. Todavia, o gerente de Exames do Detran reconhece que “o governo federal, através do Denatran, deveria ter uma fiscalização mais efetiva, dentro das instituições que cuidam do trânsito no Brasil, acompanhando mais de perto como está sendo feita a preparação desses candidatos.”
O diretor técnico do Detran, Horácio Mello, conta que há 16 anos a avaliação teórica deixou de ser uma provinha apenas para ler placas e se tornou mais complexa. “Hoje, a pessoa para se formar, tirar o diploma – que é a habilitação – tem que fazer cinco matérias complexas e importantes, direção defensiva, primeiros socorros, meio ambiente, cidadania e legislação de trânsito.” Mello considera a prova teórica um concurso público. “Com biometria coletada no local pela Polícia Civil, feita em ambiente totalmente reservado, é um concurso público mesmo, para diplomação.”
Mas não adianta ser aprovado e não colocar o conhecimento em prática. É isso que acontece, segundo o chefe de gabinete da Secretaria Municipal de Trânsito e Mobilidade de Goiânia, Miguel Carlos Ferreira. Nas ruas, o motorista habilitado passa a ignorar a maior parte das normas de sinalização que aprendeu na sala de aula. “O que observamos em casos de acidentes é excesso de velocidade, desrespeito a sinalização semafórica, imprudência e falta de cautela nos cruzamentos.”
Nas instituições de trânsito, não há dados que apontem o motorista como o vilão do trânsito, porém os números comprovam as constantes infrações cometidas em Goiânia. Em 2012, a AMT registrou cerca de 1,5 milhão de multas, sendo que 40% por excesso de velocidade e avanço de sinal. Uma estatística que supera o número de carros na capital que é de 1,092 milhão de veículos. Em média, cada motorista foi multado mais de uma vez no ano passado. E não é difícil entender por que.
Nas portas de escolas, os pais ignoram as placas de proibido estacionar e até mesmo a faixa de pedestre para deixar ou pegar o filho; a seta se tornou um acessório dispensável e os motoristas que mudam de faixa sem nenhum aviso prévio. A secretária Municipal de Trânsito e Mobilidade, Patrícia Veras, afirma que “o motorista goianiense apresenta comportamento inadequado no trânsito e causa transtorno na cidade como um todo”.