Pela primeira vez uma Expo é realizada nos Emirados Árabes. O evento realizado a cada cinco anos debate soluções para diversos problemas globais. Na última semana a Organização das Nações Unidas (ONU) marcou presença no evento com uma série de entrevistas sobre o avanço dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS).

Com esse objetivo, a subsecretária-geral da ONU para Comunicações Globais, Melissa Fleming, conversou com a vice-presidente da Costa Rica, Epsy Campbell Barr. Na pauta, a visão das mulheres sobre algumas narrativas. Elas estão na vanguarda da resposta à pandemia, mas sofreram desproporcionalmente durante a pandemia do COVID-19 – taxas crescentes de violência doméstica, devastação econômica e enormes perdas de empregos.

As estimativas indicavam que a pandemia levaria aproximadamente 47 milhões a mais de mulheres e meninas à pobreza. Para enfrentar os desafios do nosso tempo, da pandemia ao aumento das desigualdades e às mudanças climáticas, as mulheres devem fazer parte de todos os processos de tomada de decisão.

Reescrevendo a narrativa: visões das mulheres

Melissa Fleming: Ninguém melhor que você para conversar sobre esse tema, considerando sua jornada. Por isso, gostaria que começasse nosso diálogo contando como se tornou vice-presidente da Costa Rica?

Epsy Campbell Barr: Eu sou uma mulher de descendência africana e ativista Isso não apenas em meu país, mas em toda América Latina. Eu me envolvi no movimento feminista e depois com política. Quando cheguei na política já cheguei com a Agenda 2030, que trata sobre desigualdade entre homens e mulheres, luta pelo direito das mulheres, ativismo social. Minha primeira participação na política foi um congresso humanitário, em meu país. Aquela experiência me deu a oportunidade de me envolver nas eleições fazendo parte da chapa do presidente Carlos Quesada. Esse é um resumo de como eu cheguei lá. Mas para mim a Agenda 2030 foi o que me colocou no lugar que ocupo hoje.

Melissa Fleming: Costa Rica é um país lindo que além disso tem um desenvolvimento sustentável. Mas a Costa Rica também tem problemas e existem alguns obstáculos que precisam ser quebrados. Você tem conseguido fazer isso, certo?

Epsy Campbell Barr: A Costa Rica é parte do mundo. Nós temos muitas conquistas em termos sociais, direitos humanos e também das mulheres, mas trabalhamos diariamente com nossos desafios. São problemas de inclusão ou combate ao racismo. Sou ativista, costa-riquenha, e descendente de africanos, eu sei o que é preconceito. E da mesma forma a Costa Rica está cheia de pessoas como eu. Isso acaba nos ligando a um movimento e essa é a nossa realidade. Nós temos o dia internacional das pessoas de descendência africana, mas agora também temos o fórum permanente de pessoas de descendência africana. A Costa Rica me deu uma oportunidade de ter voz. Penso que se eu não fosse costa-riquenha seria impossível me tornar uma vice-presidente, pelo menos na visão de alguns países latinos americanos. Assim, eu tenho vantagens e desafios. Mas sou grata porque tenho voz no meu país e região.

Melissa Fleming: Infelizmente a pandemia de Covid-19 serviu como um revés em vários aspectos, inclusive se tratando de gênero. Pode falar sobre isso?

Epsy Campbell Barr: A pandemia impactou aqueles que já tinham mais dificuldades, como as mulheres. Em nossa região as mulheres são maioria no setor informal da economia. As mulheres têm mais responsabilidades, como serviços domésticos. Na Costa Rica, o desemprego é maior entre as mulheres que homens. Além disso, há a falta de mulheres na gerência de companhias do setor privado. Por esses motivos, as mulheres foram as mais impactadas pela pandemia. A pandemia não dá perspectivas para as mulheres, então, agora elas precisam trabalhar mais, se esforçar mais. E se considerarmos que temos menos de oito anos para alcançarmos os objetivos da Agenda 2030, é impossível chegar lá sem a ajuda das mulheres. Elas são fundamentais nesse avanço.