JULIA CHAIB E RENATO MACHADO / BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – A médica Nise Yamaguchi buscou no início de seu depoimento na CPI da Covid se deslocar do presidente Jair Bolsonaro, de quem se tornou conselheira. Citou em seu discurso políticos de diferentes partidos, como os ex-ministros da Saúde José Serra (PSDB) e Alexandre Padilha (PT), ao afirmar que trabalhou em diferentes governos para combater o tabaco e melhor o tratamento contra o câncer.
“Não tenho nenhum partido político e estou aqui sem conflito de interesse”, completou.
Mesmo antes de ser questionada, a médica afirmou que sua iniciativa de alterar a bula da hidroxicloroquina por decreto presidencial era baseada em resolução da Anvisa e também era decorrência do momento difícil da pandemia. “Baseada nessa resolução e nessa situação que eu entendia que era importante fazermos a ampliação dos tratamentos de acordo com o julgamento do médico”, afirmou.
A médica também afirmou que sua defesa do tratamento precoce decorre de “uma ciência bastante profunda”.
GABINETE PARALELO E IMUNIDADE DE REBANHO
Em depoimento à CPI da Covid, a médica Nise Yamaguchi afirmou não participar e mesmo desconhecer um “gabinete paralelo”, que assessoraria o presidente Jair Bolsonaro em temas relativos à pandemia, fora da estrutura do Ministério da Saúde.
“Desconheço um gabinete paralelo e muito menos que eu integre. Sou uma colaboradora eventual. Participo como médica, cientista, em reuniões técnicas”, afirmou.
A médica também relativizou sua opinião passada sobre a tese da imunidade de rebanho, se esquivando de perguntas mais diretas do relator Renan Calheiros (MDB-AL). Nise Yamaguchi assistiu a um vídeo em que aparece defendendo a tese, mas depois afirmou que o contexto era outro. E disse que sempre considerou a vacinação como parte da tese da imunidade de rebanho.
“A resposta não é simples, porque a imunidade de rebanho tem sido declarada como ir para as ruas, fazer a convivência normal”, afirmou.
“Para aquele momento [início da pandemia] era bastante conveniente e necessária a discussão [sobre imunidade de rebanho]”, afirmou. A médica, no entanto, evitou retirar o seu apoio a essa tese. Nise Yamaguchi também disse que nunca discutiu pessoalmente a tese de rebanho com o presidente Jair Bolsonaro.