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Muita água teve que rolar por baixo da ponte até que “Nasce uma estrela” (2018) fosse, enfim, lançado. As primeiras discussões envolvendo o projeto surgiram ainda no início de 2012, sob o crivo de Clint Eastwood.

Na época, Clint considerou a cantora Beyoncé para o papel principal, e cogitou inúmeros atores para sua contraparte masculina, passando por Leonardo DiCaprio, Christian Bale, Russel Crowe, Tom Cruise, Johnny Depp e, vejam só, Bradley Cooper.

De lá pra cá, Beyoncé desistiu pela demora na confirmação do filme, Bradley firmou-se como ator de qualidade em “Sniper Americano” (2015) e Eastwood também abandonou o projeto por conflitos de agenda (e de interesse também, claro, depois de toda essa enrolação). Cooper já estava envolvido com a produção, então decidiu assumir a direção. Disse, inclusive, que sem a experiência obtida no Sniper de Clint, não assumiria nem o papel principal, quanto menos a direção. Mas hoje está lá no pôster pra todo mundo ver.

Quando você pega a fila para comprar o ingresso, entretanto, te perguntam se você quer a entrada para o filme da Lady Gaga. E, convenhamos, o filme só é o que é graças às atuações de Bradley e Gaga e às canções que compuseram para a trilha.

A história é bem simplista, já repisada outras três vezes em produções de 1937 (com Janet Gaynor e Fredric March), 1954 (com Judy Garland e James Mason) e  1976 (com Barbra Streisand e Kris Kristofferson). Esta última, uma inspiração maior que as anteriores: Um famoso cantor de rock (Jackson Maine, vivido pelo Cooper) que se envolve com uma cantora de bar iniciante (Ally Campana, a Lady Gaga). Ele vê nela um talento escondido para escrever e interpretar canções de sucesso, e praticamente a empurra para frente do palco. Enquanto Ally sobe a escada da fama, Jack mergulha de cabeça numa decadência alcoólica monstruosa. Vamos testemunhando o que a relação desses dois vira.

O grande problema da produção é o roteiro. De saídas fáceis e previsíveis – como, por exemplo, o fato de Jack decorar uma canção de Ally ouvindo-a apenas uma vez, no meio da rua, bêbado, e ainda complementar essa música com banda e tudo já para o dia seguinte; ou a ausência de desenvolvimento das subtramas, como a relação complicada entre Jack e seu irmão, ou de Ally com o pai; ou mesmo os conflitos entre Jack e Ally (em um ápice do drama, o cantor chama sua amada de “feia”. Baita conflito, hein?) – há uma nítida fixação com a história de amor dos protagonistas, o que mata o drama em torno que traria tempero a essa relação.

Assistindo ao trailer da versão de 1976, com Kristofferson e Streisand, já sentimos a brutal diferença entre um cantor absolutamente transtornado de raiva, ciúmes e inveja quebrando tudo dentro e fora dos palcos como decorrência do alcoolismo, com um astro de rock cansado, decadente mas absolutamente dócil e complacente com as escolhas questionáveis que sua esposa tem feito para a carreira.

A verdade é que, durante todo o filme, percebemos o excelente ator que é Bradley Cooper, mas o quanto ainda precisa se aprofundar na arte da direção – e, por consequência, do roteiro também.

Além da atuação sensacional de Cooper, outro grande forte do filme é Lady Gaga na tela – simplesmente fantástica, de cara limpa e tudo. Concilia bem a personagem antes e depois da fama e trabalha em casa quando sobe no palco para cantar. Canções estas, aliás, que fazem querer levantar da poltrona e dançar (todas pela pena de Gaga, Cooper e Lukas Nelson, filho de Willie Nelson). As performances – grande parte gravadas diretamente no set, uma delas com trechos ao vivo no Festival de Glastonbury – são de encher os olhos, e a fotografia (trabalhada por Matthew Libatique, aquele mesmo cara de “Cisne Negro”) também é irretocável. Ah, o filme tem muitas qualidades, vamos combinar.

Enfim, “Nasce uma estrela” é um filme emocionante. Mas um filme clássico, no formato e no conteúdo, para bem e para mal. Simplista, mas capaz de levar à alegria e às lágrimas em menos de 10 minutos. De qualquer forma, é bom deixar uma ou outra questão de ordem técnica de fora do show se você quiser curtir o espetáculo.