A cidade se prepara para as festas do final de ano, banhada por disposição e alegria. O fato, porém, é que transcorrida a festança, uma parcela da comunidade estará ou enterrando os seus mortos ou mitigando dores físicas das vitimas do trânsito.
É certo que o número de mortos nas estradas federais brasileiras vem diminuindo na proporção inversa que se tem aumentado a tecnologia e as estratégias utilizadas pela Polícia Rodoviária Federal (PRF) para coibir as irregularidades praticadas nas pistas. Mesmo assim é expressivo o número de famílias que pranteiam seus mortos nesta época do ano.
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Em sã consciência, considerando o suposto bom senso que deveria estruturar a cognição humana, o Homem é ou não racional? Ao que consta, as pessoas aceitam e querem ratificar essa verdade. Mas será que, de fato, o ser humano é sempre racional? De que modo ele confirma isso no dia-a-dia?
Se a racionalidade pertence à sua estrutura espiritual, ela se manifesta, também, em seus comportamentos? Pode-se enunciar que a História é testemunha da racionalidade humana? Ou será o ser humano tão racional que utiliza razoabilidade para aquilo que parece insensato? Não seriam suas ações racionais, porém, dominadas pelas paixões?
O que a prática tem demonstrado é que o homem calcula muito bem os seus objetivos, agregando-lhe motivos convenientes. O controverso nesta matéria é que a razão se manifesta quase sempre interesseira e egoísta. Infortúnio da maioria, que enrola o cordão umbilical no pescoço, pisa no acelerador, ignorando as leis da física, e mergulha em outra dimensão. Ou seja, aquela em que está só e domina o espaço, como co-criador.
Neste cenário, 3.027 morreram durante as festas do Natal e do Ano-Novo, em 2012, em pistas federais. Em geral, a maioria foi vítima da esperteza que desconhece como se aciona o gatilho da capacidade de pensar, de raciocinar, de decidir, de escolher o melhor, de ver as coisas com clareza, de distinguir, de buscar a objetividade nas questões discutidas e, de viver, portanto, sua estrutura espiritual interna com transparência e autenticidade.
Um exemplo deste panorama é que 30% dos acidentes fatais ocorridos no período, de acordo com a PRF, foram resultados de ultrapassagens mal sucedidas. Quer dizer, o motorista ou está excitado para testar os limites do seu carro ou avalia que a permanência na traseira de algum outro veículo é pura perda de tempo e passa à frente do veículo indo no mesmo sentido que o seu. O problema é que o desejo não considerou o tempo e o espaço e a reprovação matemática, então, revela-se como tragédia inexorável.
Outro ingrediente dessa realidade funesta é o alto número de mortes, resultante, principalmente, de colisões gravíssimas. São choques, geralmente, frontais, causados por ultrapassagens equivocadas ou cochilos ao volante. Vale, ainda, salientar que a moldura dessas desgraças geralmente está banhada, também, pelo álcool.
Então, por que agradecer aos Céus por mais um ano se uma parcela dos participantes das festas é incapaz de equacionar os seus desejos com a realidade das leis da física? Como pais podem afirmar que seus filhos são suas vidas se o menino não está preso a um sinto de segurança no banco de traz? Desde quando beber e dirigir são sinônimos de prudência? Onde está desenhado que carro sem revisão e motorista inabilitado são condições ideais à tranquila viagem?
Não! A irresponsabilidade coletiva dos que ficam não pode justificar os resultados de situações previsíveis. Às vezes não acontece o acidente, apesar dos fatores terem concorrido para a sua viabilização. Talvez uma chance tenha sido dada aos protagonistas da estultícia. A benfazeja no destino de alguém tende a não se perpetuar. Cautela e canja não fazem mal a ninguém e pode ainda salvar a vida de pessoas que você, que vai viajar, não conhece.