Sempre tive uma ligação umbilical com o esporte. Desde pequeno reservo grande parte dos meus dias à ele, seja assistindo, praticando (na vida real ou na virtual [games esportivos sempre são meus favoritos]) ou apenas perdido em pensamentos tentando entender táticas, regras, e a (sempre difícil) cabeça do técnico do meu time. Até ontem (19/06), eu relacionava essa minha paixão ao berço, já que nasci da união de um jogador e uma jogadora de voleibol. Mas, agora percebi que vai além, muito além.
Finais da NBA, como fã (e atleta fracassado) de basquete que sou, não tinha programa melhor para o domingo à noite. De um lado o triturador de recordes Golden State Warriors, liderado por Stephen Curry, estrela do momento. Do outro, o estrelado Cleveland Cavaliers, do “herdeiro” de Michael Jordan, LeBron James. Era jogo duro, bom e com cara de emocionante. E foi. Muito. Um espetáculo de jogadas, atletas em altíssimo nível e lances inacreditáveis. Mas a grande emoção ficou para depois do apito final.
89 a 93 para os Cavaliers, soa a sirene, LeBron vai ao chão. Como uma criança, desaba em choro. O bicampeão da NBA (pelo meu Miami Heat, gosto de lembrar), o MPV por incontáveis campeonatos, um dos maiores jogadores da história do esporte, caído, arrebatado, entregue à emoção. Tudo isso por um simples fato: cumpriu o que prometeu.
“Eu voltei (do Heat para o Cavaliers) por uma razão: dar o título à minha cidade. É isso o que importa. Ser inspiração para o meu time, para a minha cidade, para o meu povo. Dei tudo o que eu tinha, coloquei meu suor e meu sangue aqui. Cleveland, isso é para você!”.
Essas foram as palavras de um homem que, aos olhos do mundo, já havia conquistado absolutamente TUDO o que podia ser conquistado na vida. Não para ele. Bilionário, lendário, para LeBron faltava conquistar ainda uma coisa: a admiração do seu povo. No dia dos pais nos Estados Unidos, o camisa 23 dos Cavaliers, ao lado dos dois filhos, dedicou o título da NBA à todas as crianças de Cleveland.
Foi aí que percebi. O que mantém assim tão ligado ao esporte é admiração que sinto pelo poder que ele tem de agregar, de unir e emocionar as pessoas. O esporte é uma das poucas coisas que consegue ignorar por completo as diferenças sociais, raciais, religiosas, sexuais e outras mais. A comemoração de um título sempre se torna um gigante e misógino abraço, ecoando um grito uniforme de alegria e amor.
Ver um homem multivencedor e bilionário rendido, aos prantos “simplesmente” porque cumpriu sua promessa de dar às pessoas de sua cidade um título me fez enxergar quão belo esse nosso mundo ainda pode ser. Bem que poderiam aparecer outros milhares de “LeBrons” por aí, seja no basquete, no futebol, nas bolsas de valores, nas empresas, em todos os lugares. The King James, como é conhecido, não se eternizou apenas para os moradores de Cleveland. Se eternizou para o esporte e para o mundo como um grande exemplo de como as coisas podem ser bonitas e sinceras se colocarmos nossos corações à frente.
Coração que, aliás, aqui no meu peito, ganhou um novo capítulo inesquecível. Não, não vou virar a casaca e deixar meu Miami Heat de lado, até porque vivi um tempo por lá justamente quando LeBron era jogador do time pude ver de perto seus shows em quadra. Mas agora guardo também uma pontinha aqui para esse time 2015/16 do Cavaliers. Parabéns, Cleveland! Parabéns, LeBron! E obrigado por tudo.