O ronco pode parecer apenas um incômodo sonoro durante a noite, mas especialistas alertam que ele pode ser o sinal de algo mais sério. O programa Tom Maior da Sagres TV, transmitido na segunda-feira (23), recebeu a dentista Nathalia Ungarelli, especialista em odontologia do sono, para discutir a importância dessa área pouco conhecida, mas fundamental para a saúde e qualidade de vida.
“O ronco não é só barulho. Muitas vezes, está associado à apneia obstrutiva do sono, que pode trazer sérias consequências à saúde, como doenças cardiovasculares, hipertensão, diabetes, infarto e AVC”, explicou. A profissional destacou que, além dos riscos físicos, o ronco também afeta o bem-estar emocional e os relacionamentos.
“Quem dorme com alguém que ronca sabe o quanto isso atrapalha. A pessoa acorda cansada, irritada, com dificuldade de concentração, e isso impacta diretamente sua produtividade.” A odontologia do sono é uma especialidade voltada para o diagnóstico e tratamento de distúrbios respiratórios relacionados ao sono.
Segundo Nahalia, a avaliação começa com um questionário detalhado e o exame de polissonografia. “Analisamos sintomas como cansaço excessivo durante o dia, sonolência ao volante e até despertares súbitos à noite. É um protocolo completo para entender o que acontece com o paciente enquanto ele dorme.”
O tratamento, quando indicado, pode incluir o uso de um aparelho intraoral confeccionado por dentistas. “É uma placa que avança a mandíbula e a musculatura da faringe, liberando a passagem de ar e reduzindo — ou até eliminando — o ronco. Muita gente acredita que o problema está no nariz, mas na verdade é na faringe que ocorre o estreitamento”, esclareceu.
Apesar de eficaz, o tratamento tem algumas restrições. “É indicado apenas para adultos, a partir dos 18 anos, e não pode ser utilizado por pacientes com apneia severa, para os quais o tratamento padrão é o CPAP, aparelho indicado por médicos. No entanto, há pacientes que não se adaptam ao CPAP, e nesse caso, o aparelho intraoral pode ser uma alternativa viável”, ponderou.
O acompanhamento também é essencial. “Após a instalação, faço de três a quatro sessões semanais até a adaptação completa. Depois, o retorno é semestral. Mudanças no peso, por exemplo, podem alterar a necessidade do uso do aparelho. Se o paciente emagrece, pode até não precisar mais dele.”
A dentista também chamou atenção para os fatores de risco. “Homens tendem a roncar mais: cerca de 24% deles, contra 18% das mulheres. Obesidade, consumo de álcool e certas características faciais, como mandíbula recuada, aumentam a propensão ao ronco. O consumo de álcool, por exemplo, relaxa demais a musculatura, o que facilita o colapso das vias aéreas durante o sono.”
Além do ronco, a odontologia do sono também atua em casos de bruxismo — distúrbio caracterizado pelo apertamento ou ranger dos dentes durante o sono. “O bruxismo causa dores nos dentes, na musculatura facial, cervical e até problemas articulares. Confeccionamos placas miorelaxantes para proteger a estrutura dentária e auxiliar no diagnóstico e tratamento”, explicou.
No entanto, o bruxismo, assim como os distúrbios respiratórios do sono, exige uma abordagem multidisciplinar. “Não é só a mordida. O estresse, por exemplo, tem papel fundamental no bruxismo. Por isso, muitas vezes indicamos acompanhamento psicológico e fisioterapia. É uma doença multifatorial”, alertou.
A especialista também ressaltou a importância da atividade física para a qualidade do sono. “Exercícios liberam hormônios que ajudam no relaxamento e favorecem um sono mais profundo e restaurador. Faz parte da chamada ‘higiene do sono’, uma série de hábitos que melhoram a saúde do sono de forma geral.”
*Este conteúdo está alinhado aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), da Agenda 2030, da Organização das Nações Unidas (ONU). ODS 03 – Saúde e Bem-Estar
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