DANI AVELAR

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Socorristas que atuam em áreas controladas por rebeldes na Síria relatam impotência na tentativa de resgatar sobreviventes após o terremoto de magnitude 7,8 que atingiu o país e a Turquia na segunda (6).

“Dá para escutar as pessoas gritando debaixo dos escombros, mas não temos combustível e equipamentos suficientes para salvar todos”, afirma à reportagem, por chamada de vídeo, Ammar al-Salmo, coordenador dos Capacetes Brancos na província de Aleppo.

O tremor deixou mais de 24 mil mortos na Síria e na vizinha Turquia. Para além das dificuldades impostas pelo conflito na região, os socorristas têm enfrentado frio e neve para fazer o trabalho. Na maior parte da Síria, o socorro pós-sismo tem sido tocado pelo regime do ditador Bashar al-Assad. Já na Turquia, que concentra a maior parte das mortes, quem lidera os esforços é o governo de Recep Tayyip Erdogan.

Já a região noroeste da Síria é controlada por grupos rebeldes e organizações jihadistas que lutam na guerra civil no país, iniciada em 2011. A área não tem recebido ajuda humanitária de nenhum lado, segundo Salmo. Apenas na sexta o regime sírio aprovou a chegada de auxílio a zonas fora do controle da ditadura, em cooperação com a ONU, o Crescente Vermelho turco e a Cruz Vermelha internacional.

“Do regime sírio, não esperamos nada, eles não se importam com a vida dos sírios. A ONU tampouco deu uma resposta eficaz”, afirma. “A fronteira está aberta, estamos recebendo corpos de sírios refugiados na Turquia que morreram no terremoto. Mas não recebemos nenhuma ajuda humanitária até agora.”

Os Capacetes Brancos atuam no resgate de vítimas de bombardeios do regime sírio e de forças da Rússia, aliada de Assad no conflito. O grupo, de acordo com Salmo, conta com cerca de 2.000 voluntários.

“O trabalho que estamos fazendo agora é o mesmo: resgatar pessoas sob escombros”, diz o socorrista. “Só que desta vez a escala da destruição é maior, então temos que priorizar algumas áreas.”

No momento do terremoto, Salmo estava num escritório dos Capacetes Brancos, em um prédio com estruturas reforçadas. Mas quatro socorristas da organização morreram na tragédia, conta ele. “Ninguém está totalmente a salvo. Todos nós fomos afetados pelo terremoto.”

Ele ainda tem esperança de encontrar pessoas atingidas pelo sismo com vida. “Já fizemos resgates até 72 horas após bombardeios, mas depois desse período as chances de encontrar sobreviventes diminuem consideravelmente. Estamos trabalhando sem parar.”

Salmo afirma que, para além da ajuda emergencial para realizar os resgates, será necessário apoio de longo prazo para reconstruir a infraestrutura da região. “Já são 12 anos de sofrimento devido à guerra. Os sobreviventes do terremoto estão exaustos.”

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