O cenário musical goiano está ganhando novos contornos com o fortalecimento da presença feminina em ritmos tradicionais como o samba. No programa Tom Maior da Sagres TV, as artistas Larissa Ribeiro e Ingrid Marques compartilharam suas trajetórias e o protagonismo que estão construindo dentro da cena cultural de Goiânia.
Ambas participaram do programa para discutir representatividade feminina na música. Larissa Ribeiro revelou que sua incursão na música começou de maneira tímida, mas ganhou força ao longo dos anos, passando por estilos variados até chegar ao samba.
“Eu comecei muito jovem, cantando dentro de casa. Sempre fui muito tímida. Só há cerca de oito anos é que comecei a cantar para o público”, contou. “Comecei numa banda de reggae, depois assumi o papel de pop rock dentro do cenário goiano, que é um mercado legitimamente masculino. Foi uma descoberta muito diferente para mim, uma mulher preta no âmbito roqueiro de Goiânia.”
Atualmente, Larissa transita por diversos estilos, o que considera uma marca da sua liberdade artística. “Hoje eu faço samba, pop, reggae. É uma mistura. Eu abracei a arte e estou indo”, declarou. Já Ingrid Marques, percussionista, teve seu primeiro contato com a música ainda na adolescência, através da capoeira.
“Meu primeiro instrumento foi o pandeiro. Entrei na capoeira por causa da música, não pela luta. Lá experimentei vários instrumentos de percussão”, relembrou. Atuando profissionalmente há cerca de três anos, Ingrid destaca o desafio de ser uma mulher na percussão, área ainda dominada por homens.
“É muito comum as pessoas se surpreenderem: ‘Nossa, uma mulher tocando percussão!’ Mas já temos grandes percussionistas aqui em Goiânia, e torço para que venham muitas outras.”
Conexão no palco e fora dele
O encontro entre as duas artistas ocorreu no forró e resultou em uma parceria musical sólida. Ingrid se tornou percussionista no grupo de samba que Larissa está formando. “Conheci a Ingrid no forró, e hoje ela está comigo no projeto de samba que estou tentando montar — e está funcionando”, contou Larissa.
O grupo, que conta com músicos homens e tem Larissa e Ingrid como representantes femininas, está ganhando espaço em bares e eventos particulares da capital. Segundo elas, o samba em Goiânia está em crescimento, mas ainda enfrenta barreiras no mercado musical local.
“Goiânia tem muitos artistas bons, inclusive cantoras maravilhosas, mas essa nova geração de sambistas — em sua maioria mulheres — ainda não tem muito espaço, porque o samba não é o ritmo mais absorvido pelo mercado goiano”, explicou Larissa. “A diversidade está aparecendo e essas novas vozes vão agregar muito.”
Samba como resistência e empoderamento
O debate no programa também abordou como o samba é um instrumento de empoderamento feminino, especialmente para mulheres negras. “O samba veio de uma população preta, ele é tradição, é rito. Então, por que não sermos protagonistas nesse espaço?”, questionou Larissa.
“Seria ótimo se houvesse um festival de samba em Goiânia, com apoio governamental e foco em bandas e grupos formados prioritariamente por mulheres.” Para Ingrid, fortalecer redes de apoio entre mulheres percussionistas é essencial.
“Sempre faço questão de manter contato com outras mulheres na música. Minha referência é a Alene, que foi pra Brasília, mas me ajudou muito. Fiz parte do Coró de Pau, minha primeira escola de percussão. E hoje estou sempre próxima da Giovana, uma grande líder aqui em Goiânia.”
Ela reforça o convite para que outras mulheres se juntem ao movimento. “Nosso projeto ainda é um bebezinho, está rodando há uns seis meses. Mas se alguma mulher quiser chegar, dar uma palhinha no pandeiro, será sempre bem-vinda. É um espaço que a gente quer ampliar.”
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