Entre as 12 contratações do Goiás, a mais enigmática foi a de Leandro Barcia, de 26 anos. O atacante é uruguaio e passou toda a carreira no Nacional, gigante sul-americano. Para entender melhor este contexto e o os motivos que levaram Barcia trocar o clube uruguaio pelo Goiás, convidei o jornalista Manoel Castanho para escrever um texto sobre o jogador aqui no blog. Confira abaixo e conheça melhor o atacante esmeraldino para 2019.
Texto: Manoel Castanho
Histórico
Barcia começou a carreira jogando como centroavante, mas foi na ponta direita que achou seu lugar no time titular do Nacional. É um jogador rápido, embora não seja propriamente um velocista, e tem muita facilidade na finalização. O jogo pelas pontas, às vezes, o mantém mais próximo da linha lateral do que do gol, mas deve se levar em conta que durante boa parte da sua trajetória, o Nacional teve treinadores que jogavam com três atacantes, sendo dois pontas à moda antiga.
O atacante chegou à base do Nacional em 2011 e na temporada 2012/13 foi campeão da tercera división (último nível antes de chegar ao time principal) e artilheiro do campeonato. Na temporada seguinte marcou 15 gols, indo ocasionalmente ao banco de reservas do time principal. Foi então que numa semana complicada o treinador da tercera, Álvaro Gutiérrez, assumiu interinamente o time principal com a missão de ganhar os três jogos restantes para classificar o Nacional para a Copa Libertadores.
Gutiérrez confiou em vários jogadores da base – entre eles Leandro Barcia (que havia jogado oficialmente apenas uma vez), encarregado de substituir o centroavante Iván Alonso, lesionado. A camisa não pesou e o jovem atacante precisou de meia hora para marcar dois gols na vitória por 3 a 1 sobre o Cerro, no sempre complicado estádio Luis Tróccoli. Duas semanas depois, Barcia abriu o marcador na vitória por 4 a 1 sobre o Fénix. Objetivo cumprido para o treinador.
Passada a emergência, Gutiérrez foi efetivado e Barcia teve menos oportunidades no torneio Apertura, em uma equipe em que brilhavam Iván Alonso, Carlos de Pena, Gastón Pereiro, Álvaro Recoba e o recém-chegado Sebastián Fernández. Durante o torneio Clausura, entretanto, conseguiu ganhar um lugar no time principal jogando pela ponta direita, marcou cinco gols (em 13 jogos) e jogou como titular na final contra o Peñarol, conquistando o título uruguaio 2014/15.
Com o novo treinador Gustavo Munúa, Barcia começou como titular, inclusive marcando um gol contra o Oriente Petrolero pela Copa Sul-Americana. Depois começou a perder espaço, terminando o ano de 2015 no banco. Esta situação mudou totalmente no ano seguinte. Durante um torneio de verão marcou seu primeiro gol contra o Peñarol e passou a ser titular num time que jogava com quatro atacantes (de Pena, Barcia, Nico López e Sebastián Fernández). Pela Copa Libertadores, o Nacional eliminou o Palmeiras ainda na fase de grupos (com um gol de Barcia no Allianz Parque) e o Corinthians nas oitavas-de-final, caindo nos pênaltis diante do Boca Juniors.
Depois de uma nova mudança de treinador, Barcia seguia sendo titular com Martín Lasarte e parecia que sua carreira iria decolar, mas num treinamento no dia 11 de outubro o atacante sofreu uma ruptura dos ligamentos cruzados. Após nove meses de recuperação, voltou a jogar durante um amistoso contra o Boca Juniors, entrando na metade do segundo tempo e marcando un gol três minutos depois. Durante o restante do ano, continuou sendo reserva.
Em 2018 o treinador Alexander Medina teve um início de semestre bastante intenso, praticando constantemente um rodízio de jogadores. Isso lhe permitiu disputar um total de 41 jogos oficiais (boa parte deles no time considerado reserva), nos quais anotou cinco gols – o mais importante deles contra o Santos, na vitória por 1 a 0 pela Copa Libertadores. Ao todo, Leandro Barcia disputou 138 jogos (113 oficiais) e anotou 22 gols (19 oficiais) vestindo a camiseta do Nacional.
A não renovação
Dois fatores levaram a que, ao final de 2018, o contrato de Barcia com o Nacional não fosse renovado. O primeiro deles reside na crise financeira vivida pelo clube. Em dezembro ocorreram as eleições e a nova diretoria encontrou-se com uma realidade de salários atrasados e a necessidade de um profundo corte de gastos. De todos os jogadores cujo contrato se encerrava em 31 de dezembro, apenas um foi chamado para negociar: o goleador Gonzalo Bergessio. Os demais – incluindo os laterais Jorge Fucile e Alfonso Espino, os volantes Álvaro González e Santiago Romero, o meia Luis Aguiar, os atacantes Carlos de Pena e Pierre Webó e os zagueiros Rodrigo Erramuspe e Alexis Rolín – foram liberados. O mesmo ocorreu com Barcia.
Um segundo fator reside na conquista, em 2018, da Copa Libertadores sub20. O sucesso no torneio continental fez com que a nova diretoria do Nacional apostasse mais fortemente do que as anteriores nas categorias de base. No último ano, Christian Oliva e Guzmán Corujo se firmaram como titulares. Para a pré-temporada iniciada em janeiro, foram convocados dez jogadores da base: Nicolás Rodríguez, Renzo Orihuela, Facundo Parada, Agustín Sant’Anna, Santiago Merlo, Leandro Añasco, Emiliano Martínez, Alfonso Trezza, Martín Satriano e Santiago Rodríguez.
Manoel Castanho é jornalista e integrante da Comissão de História e Estatística do Nacional.