A reforma administrativa que vai sendo desenhada pelo governador Marconi Perillo (PSDB) mexe com o imaginário político do Estado de Goiás.
A fusão de pastas, a eliminação de cargos, a definição de nomes, tudo tem a ver com o jogo do poder.
No final das contas, o tamanho político da reforma é sempre determinado pelo governador. O secretário mais forte é o que tiver mais respaldo dele. A pasta mais estratégica é a que ele quiser que seja.
Para deputados e outros aliados de ponta, importa mais a fatia que cada um terá no governo para acomodar apoiadores, alavancar projetos, abrir caminhos a composições ou negócios. O resto é detalhe.
No aspecto administrativo é que há muito a ser considerado.
Porque de pouco adianta juntar áreas como Educação e Cultura, ou tirar da linha de frente outras tão caras do Estado como Agricultura, se não ficar definido como cada nova supersecretaria vai funcionar na prática e quem vai comandá-las.
A definição de metas, a estruturação da pasta, a implantação de mecanismos básicos de gestão, como os processos, para se ficar em um ponto – ainda que amplo e estratégico –, tudo isso é fundamental para que a mudança anunciada não seja apenas cosmética.
E o nome. Porque se o escolhido para comandar a nova Secretaria de Meio Ambiente, Infraestrutura, Cidades e Assuntos Metropolitanos for um indicado do partido A ou B, e não alguém que conheça do assunto e tenha compromisso público, ficará o dito pelo não dito. Ganhará o partido, o nome da hora, mas não os goianos.
O risco é que aquilo o que se anuncia como revolucionário e moderno, acabe se transformando em um monstro burocrático. Que o grande fato não passe de um enorme factoide.
Educação, Cultura e Esporte têm muito a ver, mas como o trabalho será operacionalizado, para que uma não se sobreponha à outra? E que nome é capaz de ter visão abrangente para conciliar uma coisa com a outra de forma operacional e política?
Falei da proposta de fusão de Educação, Cultura e Esporte. Só pra lembrar, a reforma do governador propõe redução de 16 para 10 secretarias. Em outra delas, são juntadas Indústria e Comércio, Ciência e Tecnologia, Agricultura e a Agência de Desenvolvimento Regional na nova Secretaria de Desenvolvimento Econômico, Ciência e Tecnologia. Por aí.
A edição da revista Exame que está nas bancas traz um depoimento que ilustra bem o que se diz aqui.
É o depoimento do empresário Marcel Telles, sócio de Jorge Paulo Lemann e Carlos Alberto Sicupira. Os três construíram um império que soma AB InBev (maior cervejaria do mundo), Burger King e Heinz (uma das maiores fabricantes de alimentos também do mundo).
Em um dos pontos do depoimento, ele ensina:
“Na década de 90, era preciso pedir aumento de preço no Ministério da Indústria e Comércio. E assim conheci a ministra Dorothea Werneck. Ela me disse: ‘Marcel, você trabalha com qualidade total?’ Eu respondi que sim. Ela foi simpática e sugeriu que eu fosse conversar com o consultor Vicente Falconi.
Bati lá em Minas Gerais atrás dele, e assim começou nossa parceria. Precisávamos muito dos processos. Um presidente da República ou um presidente de empresa sentam no comando e dizem: ‘Acelera, vira para a direita’. Mas nada daquilo está conectado com nada. Para isso acontecer, deve existir um bom desdobramento de metas.
Muito disso veio com o Falconi. Juntamos essa lógica com nosso estilo de gerenciar. O Falconi é um missionário da eficiência e da boa gestão neste país. Para nós, ele foi fundamental. Uma coisa é brincar com 250 pessoas, como no banco Garantia.
Outra é brincar na Brahma e na Ambev, onde realmente, se não existirem processos, se não houver um desdobramento de metas primoroso, nada acontece. Vejo cada vez mais esse amálgama entre o método e a nossa cultura.”
Enfim, uma coisa é brincar de fazer reforma; outra, reformar pra valer, fazendo o discurso virar prática.
Para quem quiser conferir a íntegra do depoimento, clique aqui.