João Madeira, que sofre de hanseníase, com sua família no Timor-Leste. (Foto: ONU/ Martine Perret)
Os líderes políticos na França e na Itália devem parar imediatamente de usar a hanseníase, tambem conhecida com “lepra”, como metáfora em debates sobre nacionalismo, defende a especialista das Nações Unidas Alice Cruz.
A relatora da ONU para a eliminação da discriminação das pessoas com hanseníase* afirma que as declarações do presidente francês, Emmanuel Macron, e do vice-primeiro-ministro italiano, Luigi Di Maio, em que usavam o termo “lepra” como metáfora para um aumento do nacionalismo, são “terríveis”.
Importância
Numa entrevista com a ONU News, desde Quito, no Equador, a especialista portuguesa explicou a importância deste alerta.
“Foi uma chamada de atenção para a importância de aqueles que falam no espaço público, e sobretudo os responsáveis políticos, cujas palavras têm um enorme impacto na opinião pública, estarem conscientes de que a lepra existe, a hanseníase existe, há milhões de pessoas a viver com as consequências da doença e com o estigma e descriminação associados a ela, e que essas pessoas merecem ser respeitadas como cidadãos, como sujeitos de direito”.
Consequências
Alice Cruz diz que este tipo de discurso tem várias consequências para os portadores da doença.
“As consequências estão aí, é este enorme estigma que justifica que existam ainda leis discriminatórias em mais de 20 países, que justifica que as pessoas continuem a ser segregadas nas suas comunidades, dentro das suas famílias, nos seus locais de trabalho, mas também a ideia no espaço público de que a hanseníase é uma doença do passado, e isso faz com que não existam suficientes fundos para investigação cientifica”.
Declarações
No mês passado, o presidente francês, Emmanuel Macron, disse que era possivel ver nacionalistas “crescer um pouco como a lepra em toda a Europa, em países onde pensávamos que seria impossível vê-los novamente”.
Os comentários de Macron foram supostamente seguidos por uma declaração do político italiano, dizendo que “a verdadeira lepra é a hipocrisia europeia de alguém que afasta os migrantes na fronteira e depois moraliza”.
Alice Cruz acredita que “a lepra se tornou muito mais que uma doença, tornou-se uma metáfora para tudo que é socialmente considerado vergonhoso, perturbador e deve ser mantido à parte”.
*Os relatores de direitos humanos são especialistas independentes e não recebem pagamento pelo trabalho realizado com o Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas.