(Foto: Reprodução/ Internet)

O chefe do escritório de direitos humanos das Nações Unidas, Zeid Ra’ad Al Hussein, emitiu um comunicado nesta terça-feira (06) rebatendo as acusações do ministro das Relações Exteriores da Hungria, Péter Szijjártó, a quem havia criticado em um comunicado anterior.

“Na semana passada, Péter Szijjártó disse que era ‘calunioso’ e ‘inaceitável’ da minha parte chamar seu primeiro-ministro de racista. Ele afirmou que eu havia “acusado a Hungria de ser comparável às piores ditaduras do século passado” e pediu que eu me demita”, afirmou Zeid.

Zeid transcreve, no comunicado, sua fala anterior:

“O estado de segurança está de volta e as liberdades fundamentais estão em recuo em todas as regiões do mundo. A vergonha também está retrocedendo. Xenófobos e racistas na Europa estão perdendo a vergonha – como o húngaro Viktor Orbán, que no início deste mês disse: ‘nós não queremos que nossa cor… seja misturada com outras cores’. Eles não sabem o que acontece com as minorias em sociedades onde os líderes buscam a pureza étnica, nacional ou racial?”

“Eu reafirmo cada uma das palavras”, acrescentou Zeid, que chefia o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos (ACNUDH).

Para Zeid, o discurso de Orbán em 8 de fevereiro a um grupo de conselhos municipais foi uma “declaração clara do racismo”.

“É um insulto para todas as mulheres, homens e filhos africanos, asiáticos, do Oriente Médio ou latino-americanos. A crença de que misturar raças cria uma mancha indescritível e prejudicial já foi difundida em muitos países; em partes dos EUA, bem como na África do Sul, as leis de miscigenação eram parte integrante da humilhação e opressão de pessoas chamadas de ‘raças menores’. Mas essa era está há muito morta – ou deveria estar. Ouvir isso de forma descarada pelo líder de um país moderno da União Europeia deve indignar cada um de nós”, afirmou Zeid.

O chefe de direitos humanos da ONU alertou que “estamos cada vez mais acostumados a alimentar o ódio com lucro político”. Incluindo, afirmou Zeid, o primeiro-ministro da Hungria.

“O último censo indica 1.064 homens e 260 mulheres de África que vivem em toda a Hungria; um total de 10.559 pessoas de toda a Ásia; e aparentemente tão poucos do Oriente Médio que nem sequer foram contados. Mas Orbán conseguiu retratar os muçulmanos e os africanos como uma ameaça existencial à cultura húngara – uma ameaça que ele alega ser planejada pelo financista húngaro-americano George Soros”, acrescentou Zeid.

No ano passado, informou Zeid, uma chamada “pesquisa consultiva” do governo húngaro propagou uma série de falsidades sob a forma de perguntas sobre como ‘George Soros quer convencer Bruxelas a reassentar pelo menos 1 milhão de imigrantes da África e Oriente Médio anualmente no território da União Europeia, incluindo a Hungria: você apoia isso?’, ou ainda “O objetivo do plano de Soros é diminuir a importância da linguagem e da cultura dos países europeus para que a integração dos imigrantes ilegais ocorra mais cedo: você apoia isso?”

“A retórica racial do Sr. Orbán é cada vez mais delirante”, destacou Zeid, lembrando seu discurso à Nação de 18 de fevereiro em que ele ataca o comissário para os Direitos Humanos do Conselho da Europa, Nils Muižnieks.

De acordo com um estudo do Pew Research Center de 2016, 72% dos húngaros têm uma visão desfavorável dos muçulmanos – a taxa mais alta na Europa, lembrou Zeid.

“Esse apoio à postura de Orbán sobre os migrantes o ajuda a avançar sua visão de uma ‘democracia iliberal’, governada “não por um campo de força dualista trazendo consigo debates nunca conclusivos e divisivos”, mas por “um grande partido de governo (…) um campo central de força, que será capaz de articular as questões nacionais sem as discussões constantemente em curso”, destacou Zeid.

O governo de Orbán desmantelou verificações e contrapesos, politizou o Tribunal Constitucional do país e restringiu seus poderes, prejudicando a independência do judiciário e da imprensa. As recentes propostas legislativas restringirão ainda mais um espaço já restrito para o ativismo da sociedade civil, dando ao Ministério do Interior o direito de proibir qualquer grupo que trabalhe em favor dos migrantes; sujeitando-os a impostos punitivos se receberem financiamento estrangeiro – o que poderia incluir fundos da UE; e potencialmente os proibindo de chegar a até 8 km de áreas de fronteira.

Mesmo antes deste último pacote, a União Europeia havia instaurado múltiplos processos de infrações contra a Hungria por medidas que potencialmente violassem o Estado de Direito e as liberdades fundamentais.

“Então, sim, eu lembrei do cada vez mais autoritário – embora democraticamente eleito – Viktor Orbán, um racista e xenófobo. Na verdade, não o comparei aos ditadores do século XX, porque há muitos exemplos ao nosso redor hoje sobre os horrores que surgem quando as minorias são vilipendiadas ou abusadas. E não, não vou me demitir ‘sem demora’, como exigiu uma carta de seu ministro. Porque é hora de resistir aos insultos do tipo do Sr. Orbán. O ódio é um combustível; e não vai ganhar – não na Europa; e não hoje”, concluiu Zeid.

Da ONU News