O recém-empossado diretor geral do Hospital Materno Infantil (HMI), em Goiânia, Ronan Pereira Lima, é o mesmo que há um ano foi demitido por má gestão da Fundação Geraldo Correia, responsável pelo comando da administração executiva do Hospital São João de Dios (HSJD), da Escola de Enfermagem São João de Deus, do Plano São João de Deus Saúde, Lar São João de Deus, Casa de Saúde e Casa da Hospitalidade.

Com 45 anos de existência, o HSJD é o maior hospital do meio-oeste mineiro, com sede em Divinópolis, atendendo a 57 municípios. Em seguida ao seu desligamento, uma auditagem indicou um rombo financeiro de R$ 70 milhões. A dispensa da direção foi, ainda, acompanhada por sua renuncia vocacional da Ordem dos Hospitaleiros, depois de 23 anos. Junto com o ex-frei Renan Lima, a Federação demitiu a diretora geral do HSJD, Marisa Gonçalves Rodrigues, e a assessora de comunicação, Flávia Pereira de Souza.

{mp3}stories/2013/ABRIL/HMI_carla_monteiro{/mp3}

O superintendente Paulo Bittencourt, do Instituto de Gestão e Humanização (IGH), OS responsável pela administração do HMI e dos R$ 51,168 milhões anuais repassados pela Secretaria Estadual de Saúde (SES), garante não apenas desconhecer a questão, como se sentir seguro e satisfeito com o trabalho desempenhado pelo administrador. Bittencourt sugere que as suspeitas sobre capacidade gerencial de Ronan Lima devem ser resultantes do processo de desligamento da Fundação e da ordem religiosa.
.
“Estou surpreso com as afirmações, pois nunca as ouvi anteriormente”, esclarece o superintendente do IGH, que afirma ter contratado Ronan Lima, em dezembro de 2012, depois de analisar o seu currículo. Entre as administrações dos HSJD e HMI, Ronan Lima trabalhou no Instituto Pernambucano de Assistência e Saúde (IPAS), uma OS fundada em 1956, no município de Agrestina, em Pernambuco. Atualmente, o ex-frei também é vice-presidente de Saúde Suplementar da Federação das Santas Casas e Hospitais Filantrópicos de Minas Gerais (Federasantas).

Bittencourt afiança que o processo de equilíbrio e modernização da gestão do HMI, assim como a garantia na qualidade do atendimento para 100% dos pacientes do SUS, não está ameaçado, pois o acompanhamento administrativo é mensal, mediante a ficção de metas e avaliação dos objetivos alcançados. “Não há a menor chance de alguma medida gerencial ser tomada, sem antes ter sido discutida e elencada temporalmente. Primamos pelo zelo, pela disciplina e pelos resultados”.

Antônio Faleiros esq e Paulo Bittencourt dir - foto - Revista EstreiaIndenização
A vinculação entre nome e a situação surgiu depois que Ronan Lima assumiu a direção

a partir de notas postadas no facebook, pelo candidato derrotado à Câmara Municipal de Divinópolis (MG), Gabriel Siqueira Tavares. Ele está proibido, judicialmente, desde o último dia 21 de março, de tratar publicamente sobre o assunto, ou mesmo, relacionar a situação ao nome de Ronan Lima. O descumprimento implicaria no pagamento de uma multa diária de R$ 200,00. A decisão, proferida pela 4ª Vara Cível de Divinópolis, é resultado de uma ação civil proposta pelo administrador mineiro, que reclama indenização por dano moral e preservação do direito a Imagem.

A direção da Fundação e do HSJD não falam sobre o assunto. O assessor de comunicação da unidade hospitalar, Rubens Souza, confirma que a auditoria nas contas do hospital encontrou um déficit de R$ 70 milhões, resultantes de má-gestão e não de uma ação criminal dolosa. De acordo com o assessor, a Justiça nunca foi acionada.

Rubens Souza confirma que o Provençal Português, José Augusto, esteve em Divinópolis há um ano, para acompanhar a implementação do processo de equilíbrio nas contas e harmonização nas relações da administração hospital com setores públicos e sindicais.

Fachada Hospital Materno Infantil foto - Ascom da SES de GoiásIGH gerencia HMI
Não se administra aquilo que não se mede. Amparado nesta premissa, Paulo Bittencourt garante ter o controle gerencial do Hospital Materno Infantil (HMI), um dos oito hospitais pertencentes ao espólio estatal goiano, desde o ano passado, quando o Palácio Pedro Ludovico decidiu terceirizar suas gestões. Bittencourt é o superintendente do Instituto de Gestão e Humanização (IGH), a OS responsável pelo HMI, cujo controle foi assumido nas primeiras horas de junho do ano passado.

Sete meses mais tarde, o choque de gestão no HMI alcança a diretoria, dispensando os serviços do neurologista Francisco Antônio Dias de Azeredo Bastos, que volta a se dedicar à diretoria clínica do Hospital Santa Mônica, em Aparecida de Goiânia. Durante cerca de um ano, Francisco Azeredo Bastos foi o diretor geral do HMI. Um período em que a crise na unidade foi agudíssima. Em seu lugar, assume Ronan Pereira Lima, 45 anos, natural de Divinópolis (MG), especializado em administração hospitalar, pela Escola de Saúde Pública de Minas Gerais.

O IGH nasceu na Bahia, há três anos, onde mantém contratos com o Governo do Estado e a Prefeitura de Salvador, gerenciando Unidades de Pronto-Atendimento (UPAs), Núcleos especializados e Centros de Saúde. Ao longo de um ano, o IGH tem recebido, mensalmente, R$ 4,264 milhões. Ou seja, um valor cerca de 17% menor do que estava sendo gasto com a unidade antes da entrada da OS. Dados da Secretaria Estadual de Saúde dão conta que 71,42% do repasse mensal são destinados à quitação da folha de pagamento.  

O HMI é a terceira unidade da rede própria estadual a ter a sua gestão transferida pela uma OS. A unidade é referência em atendimento de urgências e emergência em serviços pediátrico, neonatal e em ginecologia e obstetrícia de alta complexidade. Conforme informações da Comissão de Contratos de Serviços de Saúde da Secretaria de Saúde, duas OS se habilitaram. O HMI, também, coleta e distribui leite materno, realiza testes de audiometria e do pesinho, além de fazer tratamentos odontopediátricos e exames – ultrassom, análises clínicas, citologia, biópsia e RX.

Hospital São João de Dios foto Heloisa Cerri-PVHSJD atende a 57 municípios mineiros
No próximo dia 1º de junho, o Hospital São João de Dios fará 45 anos. A execução dessa ideia, contudo, surgiu do encontro entre o empresário mineiro Geraldo Correia e os irmãos da Ordem Hospitaleira de São João de Dios. Antes, porém, Divinópolis presenciou a inauguração, em 1966, da Escola de Enfermagem. Para gerir tudo, criou-se a Fundação Geraldo Correia.

Os números administrados pela Fundação são grandiosos: 17,6 mil metros quadrados de área construída, 398 leitos, cerca de 200 médicos, 1,5 mil profissionais (saúde, administrativo e operacional), 200 voluntários e 57 municípios mineiros do meio-oeste atendidos. Dedica quase 75% de suas atividades ao SUS. Entre as 48 especialidades disponíveis estão nefrologia, hemodinâmica, oncologia, cardiologia e obstetrícia. Mantém unidades intensivistas para adulto e neonatal. Anualmente, realiza 200 mil procedimentos ambulatoriais, 20 mil internações, 14 mil cirurgias e quase 3 mil partos.

Atualmente, além do HSJD, em Divinópolis, a Ordem mantém outras duas obras apostólicas: um Lar de Idosos em Itaipava, no Rio de Janeiro, e uma Casa de Saúde Psiquiátrica, na capital paulista, onde funciona a sede da delegação brasileira, que desembarcou no país em 1947. Enquanto não atinge dimensão suficiente para a autonomia canônica, é parte integrante da Província Portuguesa.

A Ordem Hospitaleira de São João de Deus está presente em 51 países, com seus quase 1,3 mil Irmãos, em mais de 250 comunidades. Entre as obras assistenciais estão hospitais, clínicas, centros psiquiátricos, albergues, lares (asilos), ambulatórios, ONG’s e projetos sociais diversos. Seus colaboradores diretos são cerca de 45 mil profissionais, dez mil voluntários e 300 mil benfeitores/doadores.