– 16º, por favor. – ansiosa.
– Está indo para a Rádio 730, moça? – questionou o ascensorista do elevador.
– Sim. – sorri.
-Vai dar entrevista? – insistindo na conversa.
– Não, sou a nova repórter da tarde. – fazendo a simpática.
– Ah sim, seja bem vinda! Vamos subir e descer muito por aqui ainda ou talvez não, porque ultimamente esses elevadores só funcionam quando querem – deu uma risadinha.
Fiz expressão de tudo bem para não o deixar no vácuo. Mas levando em consideração que a informação procedia, não parecia ser uma boa ideia subir dezesseis andares a pé.
-É aqui, bom trabalho. – entusiasmado.
A porta do elevador se abriu. De um lado, sacos e sacos de cimento, um monte de tábua e uma poeira que não era comum para um espaço de trabalho. Em frente, uma recepção que no momento não tinha ninguém para recepcionar. Então, segui pelo caminho dos obstáculos. Tentei passar por aquilo tudo sem sujar a roupa para não causar má impressão no primeiro dia de trabalho, mas acabei tropeçando e caindo nos braços de um moço alto, branco e dos olhos verdes.
– Opa! Foi mal, que desastre! – ri de nervoso.
-Tranquila! Só tome cuidado começamos uma reforma recentemente, isso aqui está uma bagunça. Mas que bom que você chegou, já temos muitas pautas. Antes vou te apresentar para o pessoal. – afirmou um dos meus chefes.
-Nada disso! Ela está aqui para trabalhar, depois conhece o povo. – gritou uma das produtoras lá da redação.
Fui para esta e tantas outras pautas, conheci o tal pessoal que hoje é minha segunda família. Passei tardes e tardes rindo, escrevendo, gravando, fazendo ao vivos, dando boas e más notícias, comendo o pão de queijo do seu João, a coxinha do Barcelos e o pastel lááá da outra esquina. Comemorando aniversários não tão “surpresas” assim e tendo uma vista incrível da capital do inesquecível décimo sexto do São Judas Tadeu.
Foto: Giuliane Alves
Até que…
-Pessoal, a partir de agora iremos passar por importantes mudanças aqui na rádio 730 tanto na parte estrutural, quanto na programação e no pessoal. Vários projetos que foram pensados e planejados há anos pela nova direção começarão a ser colocados em prática. Vamos precisar do apoio e compreensão de todos vocês. – comunicou o coordenador de jornalismo da rádio.
-Seremos demitidos? – questionou um repórter.
-Vamos mudar daqui? – pontuou uma produtora.
-Percebi que algumas pessoas estão participando de umas reuniões e outras não, por quê? – perguntou um editor.
-O que vai mudar na programação? Não vai ter mais esporte? – indagou um apresentador.
-A rádio vai mudar de nome? – contestou outro funcionário.
Os questionamentos só aumentavam, tanto dos colaboradores quanto dos ouvintes e fontes que acompanham a emissora há tempos. Andar com o microfone da rádio nesse período então era pedir para ser parada na rua.
-Moça, é verdade que vocês vão mudar aqui do 16° no centro e vão lá para a região dos motéis em Aparecida de Goiânia? – me questionou a primeira de dezenas outras senhoras que me pararam na rua.
-Sim, é verdade, mas ainda não temos uma data definida. – respondi.
Na outra esquina…
-Oi, você trabalha na rádio 730? – puxando meu braço na Avenida Goiás.
-”Mais um” – pensei.
-Sim. – verdadeira resposta e ainda sorrindo.
-Não vai ter mais esporte, não? – preocupado.
-Vai sim, moço. – sem paciência para dar mais detalhes, que eu também nem tinha.
Não aguentava mais tantas perguntas! Eram em todos os lugares, em todas as pautas e até quando andava de Uber. Já estava quase colocando um cartaz no peito escrito: EU NAÕ SEI DE NADA DO FUTURO DA RÁDIO 730! Mal sabia eu que as interrogações estavam apenas começando.
Enquanto as especulações rolavam soltas pelos corredores, novos desafios foram lançados aos funcionários. Marcaram uma reunião e um tal de treinamento de mesa no Núcleo Seu Jaime, em Aparecida de Goiânia, local da nova sede da rádio 730; detalhe: SÁBADO DE MANHÃ (e não era meu plantão). Fiquei em dúvida no que seria mais provocativo: Acordar cedo, achar essa lugar no meio de tantos motéis, entender o novo nome da rádio ou apertar botão e apresentar ao mesmo tempo. Sem GPS fui pelo “rumo” ao primeiro desafio:
-Oi, bom dia! Você sabe onde fica o Núcleo Seu Jaime? – abrindo o vidro do carro e perguntando a primeira pessoa que encontrei na região dos motéis.
-Não moça, nunca ouvi falar. Tem algum ponto de referência?
– Huumm… Aphrodite Motel, conhece?
-Mas é claro! – deu uma risadinha.
Revirei os olhos.
-Moço, estou atrasada pode ou não me ajudar? – respirando fundo.
– Te ajudo no que quiser, querida. Quer que eu te leve até lá? – com aquela expressão de segundas, terceiras e quartas intenções.
-Não obrigada. – acelerei o carro.
Poxa é um sábado de manhã, não é possível que não teria alguém apto a dar informações sem essas brincadeiras desnecessárias. Visualizei aparentemente um “mercadinho”, parei e perguntei:
-Bom dia, sabe me informar onde é o Núcleo Seu Jaime? – esperançosa e com pressa.
-Huum, já ouvi falar. Mas não sei. Tem ponto de referência?
-Aphrodite Motel. – já esperando alguma piada.
-Ahh agora sim. Segue reto aqui toda vida, aí você vai ver o Dunas Motel, aliás oVips…não, não desculpa o Emoções. Ai moça, tô confuso. Mas acho que é só seguir reto e quando não tiver mais jeito você vira à direita. Deve ser lá. Parece apressada, está atrasada? –
-”Deve ser lá, melhor informação impossível” – pensei. Ainda sim agradeci a confusão.
-Pois é, estou indo para o trabalho. – firme.
-Movimento começou cedo hoje, hein. – soltou uma gargalhada.
Se esse rapaz conhecesse meu humor matinal jamais teria feito essa brincadeira sem noção. Preciso aprender esse caminho urgentemente e andar com os vidros fechados, porque mais uma piada dessa eu peço demissão. Depois de perguntar para mais uns três finalmente cheguei. (primeiro desafio concluído quase sem sucesso).
-Uauuu que estrutura! Aí sim hein! – deslumbrada.
O estúdio principal, chamado aquário, parecia coisa de outro mundo. Todo de vidro, com microfones que tinham até câmeras. Haja tecnologia! Fora aquele cheiro de lugar novo. Já estava com medo de encostar e estragar alguma coisa, porque aí teria que trabalhar o resto da minha vida na rádio para pagar o equipamento. De longe avistei a tal mesa cheia de botões, funções e cores, só faltava andar sozinha. Muito massa, o que não era massa era mexer nela e apresentar ao mesmo tempo. Bem, mas isso era um outro desafio, que a princípio parecia um bicho de trezentas cabeças, depois ficaram só as sete mesmo. Após conhecer todo o espaço, redações, estúdios, auditório e salas, fomos para a reunião.
-Pessoal, como parte das mudanças que estamos vivendo, o nome da rádio 730 será a partir do dia 22 de fevereiro de 2018, rádio SAGRES 730. – contou o instituidor da rádio.
-Ahhhh??? – todos com aquela expressão de interrogação.
-Sagres? O que é isso? – indagou um colega.
-Por quê Sagres? – questionou outro apresentador.
-Já ouvi falar que é uma cerveja lá em Portugal. – afirmei sem ter a intenção de estar certa.
-Então, teremos um dia especial num SÁBADO DE MANHÃ para explicar os detalhes de todos os conceitos, da rádio Sagres 730, do site sagresonline.com.br e da Escola Técnica Sagres. Mas para vocês entenderem Sagres foi uma escola em Portugal, que no século 15 formou navegantes para desbravar o mundo. E esse é o nosso objetivo, alcançar novos rumos, todos juntos e misturados, e sempre em um tom maior. – concluiu sem dar espaço para novos questionamentos.
Primeira coletiva com a canopla da rádio Sagres 730…
-Você não era repórter da 730? Mudou de emissora? – me cutucou um repórter.
-Mudei não. É que a rádio agora se chama Sagres 730. – respondi pacientemente.
-Sagres? Mas o que é isso? – insistindo.
-É que no século 15 tinha uma escola em Portugal com esse nome, aí a rádio foi inspirada nela.
-Ah tá, diferente né. – Com a expressão de quem não entendeu nada.
-Vi que estão contratando um pessoal novo, outros estão saindo… – continuou.
-Pois é, ainda estão tendo muitas mudanças, todos os dias somos surpreendidos. – tentando cortar o diálogo.
-Você acha que será demitida? – persistindo.
-Sinceramente não sei. – sai sem dar mais futuro para aquela conversa.
Algumas coletivas depois…
-Sagres 730? É uma nova emissora aqui em Goiânia? – questionou um repórter.
E a saga conceito sagres continua…