Foram sete anos dentro do Goiás, um ambiente de trabalho que a família já havia feito história. O pai, por exemplo, foi o primeiro ídolo da instituição, ainda na década de 50, mas como filho, ele ficou apenas fora dos gramados, mas chegou a hora de se retirar. Marcelo Segurado deixa o Goiás depois de ser cobrado, de ser criticado, mas garante que deixa de cabeça erguida pelo trabalho que foi feito, primeiro no administrativo, depois no futebol.
“Não estou aqui pra julgar o meu trabalho, mas estou aqui pra defender o meu trabalho, porque eu fui muito criticado, fui muito cobrado por algumas pessoas e por alguns setores, e de forma injusta. A gente fez um trabalho consistente tanto no profissional quanto na base. Quando eu faço o balanço de tudo que fizemos no Goiás e com as dificuldades que fizemos aqui, eu acho que fizemos um trabalho muito bom. Eu não poderia sair simplesmente tomando pancada sem que as pessoas façam uma avaliação dos números”
Nos números, Segurado aponta apenas 39 contratações feitas diretamente por ele desde Setembro de 2011, quando na verdade o Goiás contratou 50 jogadores. Os números apontam conquistas, como o retorno à Série B, dois campeonatos goianos e muitos jogadores revelados, principalmente em 2014. Em um entrevista com tom de desabafo, Marcelo Segurado falou por mais de 40 minutos sobre os motivos de sair, as críticas, o novo gestor de futebol e até mesmo a melhor e pior contratação em três anos.
Porque sair?
“Essas mudanças, ao meu ver, não funcionariam com duas lideranças à frente, poderia causar um conflito de interesses, um conflito de ideias, e acho que não tá na hora disso. Na medida que eu percebi que haveria essa divisão dentro do departamento, onde nós teríamos não só uma coisa hierárquica dentro do clube, mas também uma divisão, eu achei melhor dar um tempo e dar oportunidade para que outros possam vir desenvolver um trabalho tão bom ou melhor que o meu”
Rejeição da torcida
“Não é grande parte da torcida, é uma parcela da torcida, ligada às mídias sociais e que são ligados a alguns blogs e sites, aquilo que eu chamo de torcedores profissionais. O torcedor do modo geral, que eu tenho contato no dia a dia, na rua, por esse eu fui sempre muito bem tratado e respeitado, esses são torcedores e não vivem para torcer”
Aceitação interna
“Se eu fiquei três anos e três meses ocupando um cargo, é porque eu tinha aceitação de grande parte. Unanimidade eu sei que ninguém tem, mas eu tinha aceitação de muita gente dentro do Goiás. Quando você fica muito tempo exercendo um cargo de liderança, quando você põe realmente a cara na frente, você cria situações que tem gente que não gosta”
Cansado de apanhar
“Eu fui um dos poucos diretor de futebol do Goiás que sempre botou a cara na hora mais difícil, eu nunca fugi desses momentos. Quando o Goiás foi campeão, bicampeão, subiu, muita gente apareceu, então tem vários pais do Goiano 2012, do Brasileiro 2012, tem vários pais do bicampeonato. Agora, só sobrou eu como pai do vice-campeonato de 2014, e eu nunca fugi disso, sempre chamei a responsabilidade”
Conselho pra Harlei?
“Acho que o Harlei tem uma vivencia de futebol muito grande dentro de campo. Isso não é um conselho, porque se ele quisesse, a gente teria conversado, mas eu digo o seguinte: qualificação. Tem que buscar qualificar, cursos que existem pra isso, existem formas disso. Quando eu assumi, a primeira coisa que fiz foi buscar essa qualificação. Ser um diretor de futebol não é apenas ser um contratador de jogadores, contratação acontece tendo experiência ou não. O dia a dia é o mais importante para um gestor de futebol”
Usou o Goiás?
“Eu acho isso abominável. Já comentaram que meu salário era de R$50 mil, e eu falo que, na minha antiga profissão de professor, eu estaria ganhando o dobro do que eu ganho hoje no Goiás. Em 2010, quando teve aquela bagunça toda no Goiás e que só ficou ligado ao seu Hailé aqui dentro, a forma como estavam tentando derrubar o seu Hailé era encontrar algum erro meu na gestão como administrador. Se me pegassem, pegaria o seu Hailé, mas em momento nenhum conseguiram isso”
Nada de ‘esquema’
“Que tem diretor de futebol que é empresário de jogador, diretor de futebol que faz ‘raxide’ com jogador, isso existe e todo mundo sabe. Mas nunca, ninguém pode falar nada de mim. Falar até falaram, agora provar, ninguém provou, e se provar… Eu acho isso um absurdo e saio do Goiás de cabeça erguida e durmo muito tranquilo, esse pra mim é meu maior orgulho”
Maior aprendizado
“Eu aprendi a fazer avaliações de pessoas que estão ao seu lado, aquelas que desejam que você cresça, estão torcendo, e também pessoas que estão ao seu lado batendo a mãozinha no seu ombro e na verdade estão é minando seu trabalho. O futebol dá muita perspicácia pra isso”
Melhor contratação
“Foi o Renan, é íntegro. Tem o David também, tanta gente… Para o Goiás, para o grupo e para manter o que nós mantivemos, o Renan e o David foram as melhores contratações por tudo que representam como homens e como líderes e por tudo que representaram com essa garotada, eles foram fundamentais para isso. O Renan e o David foram os mais importantes que eu trouxe para o Goiás”
Pior contratação
“Carlos Alberto. Foi a pior contratação que eu fiz, me enganei completamente em relação a ele por tudo aquilo que a gente esperava dele e por tudo aquilo que eu conversava com ele desde quando houve o primeiro contato em 2012. Eu tinha um contato diário com o Carlos Alberto e quando ele veio pra cá foi uma decepção como atleta, como homem, como tudo”