Era início de noite quando Jávier, o jovem aprendiz, terminava o jantar. Ele começara há apenas alguns meses nos estudos do Caminho Sagrado e mostrava um bom desempenho. Aquele dia havia sido cansativo, aprendera sobre o equilíbrio. Quando vai tirar a panela de sopa da fornalha, Álih, seu guia espiritual se aproxima. “Você é o pior de todos os alunos que já passaram por aqui”, fala em tom arrogante. O jovem não diz nada. Parece não se entristecer com o ataque. “Seu raciocínio é lento”, continua, “e além do mais, está sempre desatento, tem memória ruim e já vi deixar as coisas caindo”. O aprendiz caminha até a mesa com a panela de sopa, serve primeiro o prato do mestre, depois o seu, e então finalmente responde. “Não é justo”, começa o jovem pegando duas colheres. “Eu vi seu plano de aula e já sabia que iria me afrontar na hora do jantar pra ver se eu deixaria o prato de sopa cair. Estamos estudando equilíbrio hoje e sei que queria testar para saber se consigo me controlar quando sou desapontado”. O mestre abre um sorriso. “Eu não faço planos de aula. Deixei aquele papel cair de propósito. Estamos de folga amanhã. Iríamos estudar sobre honestidade, mas como você já aprendeu também esta lição – estamos liberados”. Os dois se calam. É hora de comer uma sopa temperada com equilíbrio e honestidade.
Thiago Mendes