A Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) começou, no último dia 21, uma campanha contra o uso dos andadores de bebês. Segundo pesquisas da entidade existe, ao menos, um caso de traumatismo para até três crianças que utilizam esse aparelho. Em um terço das situações, as lesões são graves.

Esta orientação não é novidade. Apesar do alerta, alguns pais acreditam que o andador ajuda no desenvolvimento dos filhos. Priscila Mota, mãe de um bebê de oito meses, diz que o aparelho ajudou a conter a inquietação do pequenino. “Ele é muito esperto e ele não queria ficar só no carrinho,  ele queria ficar no colo, e ficar com menino o tempo todo no colo não tem como, então a gente comprou um andador e ele teve mais liberdade.” Ainda segundo a mãe,  quando o bebê está no equipamento, todos ficam atentos.  “ A gente está de olho, eu, o pai ou quando ele está na casa da avó, a avó também olha, o tio, o avô. Tá todo mundo olhando, todo mundo tá sempre perto dele.”

O pediatra, Antônio de Lisboa Moraes Frazão , profissional que atua há 39 anos na área, sempre foi contra da adoção do andador, ou ANDA JÁ, para incentivar os primeiros passos. Segundo ele, apesar de todo o cuidado dos pais e aparente independência da criança, usar o aparelho para a locomoção do bebê não traz vantagens para o desenvolvimento físico e psicomotor, “além de tudo isso que nós falamos, ainda tem esse aspecto também, da dificuldade, quer dizer, da acomodação que a criança vai ter com relação à marcha. Só tem fatores negativos o tal do andador”.

Em relação a opções que os pais podem contar na hora de incentivar os filhos a se movimentar pela casa, o pediatra ressalta que o chão é o melhor local. Frazão afirma que “o ideal, como a gente sempre tem orientado, é deixar a criança no chão. Deixa a criança fazer a tentativa de andar espontaneamente. Deixa ela engatinhar. A criança ela tende, ela quer ter essa sensação natural de liberdade. Quando muito, se a mãe tiver um ambiente muito restrito, tem o cercado (…) que é mais seguro do que deixar a criança nesse tipo de instrumento [andador]”.

Fisioterapeutas também alertam sobre a necessidade de cuidado dos pais em relação a adotar os andadores.  A vereadora e fisioterapeuta, Cristina Lopes Afonso, diz que o equipamento pode ser usado, mas com moderação. Segundo ela, os pais tem buscado  uma “facilitação da educação ou imediatismo na educação. Então a pessoa busca recursos que facilitem ela no ato do educar, então nesse momento o andador pode ser uma arma perigosa na mão de uma criança” – relata.

Ainda de acordo com a Dra. Cristina, o tempo que uma criança fica em um andador não deve ser longo, podendo ser usado como recurso de educação. Apesar disto, quanto mais tecnologias, menos o corpo é acionado para o movimento.

“Todas essas facilidades de desenvolvimento da indústria, da tecnologia, elas tornam o corpo mais preguiçoso, sem a menor dúvida, e isso vai desenvolver um indivíduo mais dependente, um individuo que menos poder de reação, que tem uma coordenação motora menos rápida e menos desenvolvida. (…) a máquina humana acaba ficando mais preguiçosa.”

Segundo informações da Sociedade Brasileira de Pediatria, uma reunião deve acontecer entre a entidade e o Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia (Inmetro) para que os dois órgãos possam discutir a segurança do andador e as providências possíveis.

Resposta do INMETRO

A reportagem 730 entrou em contato com o Instituto e, segundo a nota enviada pela assessoria de comunicação, existe um encontro agendado de “caráter eminentemente técnico e tem como foco a harmonização de informações sobre a análise, que avaliará se o produto é seguro, não avaliando a influência na aquisição da marcha autônoma individual. A reunião contará com a presença de representantes da Associação Brasileira de Produtos Infantis (ABRAPUR); Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP); Instituto de Puericultura e Pediatria Martagão Gesteira (IPPMG), órgão suplementar da UFRJ; ONG Criança Segura Brasil; e o Conselho Regional de Fisioterapia e Terapia Ocupacional (CREFITO).”

Ainda de acordo com o INMETRO, na reunião “não será discutida a proibição de comercialização ou fabricação do produto, ou mesmo sua possível regulamentação. Qualquer ação do Inmetro só será adotada após a conclusão da análise e deliberações do painel setorial, mediante comprovação de riscos à saúde e à segurança do consumidor.

Vale ressaltar que, segundo o Instituto, “a elaboração de normas técnicas é de competência da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT)(…). Entretanto, existe, no âmbito do Programa de Análise de Produtos, uma análise em andamento sobre o produto em questão, que encontra-se em laboratório (…) Após a conclusão da análise, está prevista a realização de um painel setorial internacional com as partes interessadas a fim de discutir a existência de riscos na utilização do produto.”

A assessoria de comunicação do INMETRO também informa que, “não há norma técnica brasileira para o produto, embora exista em diversos países e regiões como Austrália, Estados Unidos e Europa. Atualmente, para a análise conduzida pelo Inmetro “decidiu-se pela utilização da norma europeia EN 1273:2005 – Child use and care articles – Baby walking frames – Safety requirements and test methods.”

Para finalizar, a nota traz a afirmação de que o “Inmetro está acompanhando o cenário internacional e as tendências sobre o tema, como as ações de recall realizadas na Europa; os alertas e a regulamentação australiana; a elaboração de normas europeias e americanas; além da proibição desde 2007 da comercialização do produto no Canadá. Reforça-se, assim, a necessidade do embasamento técnico do Inmetro para a posterior tomada de decisão sobre as ações possíveis para o produto em questão.”