Polivalente: essa característica sempre descreveu bem o volante Moacir, de 33 anos, um dos jogadores mais importante do atual elenco do Atlético. Experiente, já jogou duas Libertadores por Sport e Corinthians, e conquistou títulos dos estaduais do Ceará, Pernambuco e, neste ano, do Campeonato Goiano.

Revelado pelo Central de Caruaru, não passou nos testes das categorias de base do Sport. Depois de ter se destacado pelo time do interior, acabou sendo contratado pelo Leão.

Apesar do vasto currículo, Moacir ficou quase um ano sem entrar em campo. Em 2014, quando defendia o Coritiba, o atleta foi diagnosticado com uma miocardia viral e viveu o momento mais complicado de sua carreira.

Em uma entrevista especial concedida à repórter Nathália Freitas, Moacir falou sobre o sonho de infância que era ser policial, da problema cardíaco, da convivência com Ronaldo e Tite no Corinthians, de sua passagem pelo Vila Nova, da vontade de ser treinador no futuro e como se sente “em casa” no Dragão. Confira:

Moacir em entrevista à Sagres 730 (Foto: Paulo Marcos/Ass AG)

Quem vê o Moacir aqui no Atlético hoje, campeão goiano, nem imagina que na infância você não pensava em ser treinador né? Você até começou tarde sua carreira…

“Eu comecei muito tarde, fui profissional com 20 anos. Eu tinha um sonho de ser policial porque eu tinha um tio que era polícia e eu cresci muito perto dele, vi isso ao longo dos anos. Mas aos 16 anos eu comecei a jogar bola, fui vendo que tinha jeito, as pessoas diziam que eu era bom e eu fui acreditando também né (risos). Aí fui para o profissional com 20 anos, as coisas começaram a acontecer, eu tinha qualidade também porque se não, não adianta, e agora estou aqui para contar essa história bacana que tenho no futebol para os filhos, os netos, ao longo dos anos”.

Pelo Sport, seu segundo clube na carreira, você viveu com certeza o primeiro grande momento da sua carreira que foi disputar uma Libertadores. Como é essa experiência?

“É até difícil falar assim, é muito surreal disputar uma competição internacional. Eu queria que todos os jogadores tivessem essa oportunidade que eu tive, jogar uma competição como essa, conseguir classificar que era uma coisa que não acontecia há anos no clube. É um momento mágico, só quem passou sabe do que estou falando”.

Você ainda foi privilegiado que disputou uma Libertadores também pelo Corinthians. Como foi jogar em um dos maiores clubes do país?

“Foi uma experiência mágica demais também. Nem nos maiores sonhos você imagina que isso vai acontecer e comigo aconteceu. Eu tive a oportunidade de disputar duas competições seguidas”.

E no Corinthians você teve a oportunidade de jogar com o Ronaldo. Como foi dividir o dia a dia com ele?

“É diferente né. Um jogador como Ronaldo, Roberto Carlos, você não encontra todo dia na rua. Você poder conversar, treinar todos os dias com um jogador que até então só conhecia por televisão e videogame, algo surreal. Eu cheguei no clube para a pré-temporada e demorei uns dois dias para assimilar que aquilo estava acontecendo comigo. Ter a oportunidade de ver jogadores campões mundiais é algo diferente, você não sabe nem o que falar. No dia a dia você vai se entrosando, pegando amizade, mas as coisas são bem diferentes”.

É difícil encontrar algum jogador que não tenha tido algum problema, alguma lesão mais grave e você teve aquele problema no coração. O que passou pela sua cabeça quando recebeu a notícia da miocardia em 2014, quando estava no Corinthians?

“Você pensa mil coisas né. O primeiro diagnóstico era que eu não poderia jogar futebol mais e a partir daí você pensa “o que eu vou fazer?”. Alguns jogadores pararam de estudar no caminho, outros estudaram mas não se formaram, não fizeram faculdade e é isso que vem na cabeça. Eu não me via fora do futebol.  Há algum tempo eu tenho um sonho de ser treinador aí você pensa “tão cedo agora? Eu não vou conseguir ser treinador”. Ficam as lamentações. Na época até desobedeci ordens médicas, fiquei dois meses sem poder fazer nada, nenhuma atividade física. Mas eu tinha uns amigos em Curitiba, eles tinham uns jogos no final de semana e eu estava indo todo sábado desobedecendo esses médicos porque eu tinha convicção de que não tinha nada. Mas deu certo, com o apoio da minha família, minha espoa que apoiou muito, minha mãe, meu irmão. Foi um momento muito complicado, fiquei quatro meses sem treinar, oito meses sem fazer uma partida oficial e foi o momento mais complicado da minha vida”.

No ano passado você defendeu o Vila Nova. Como foi sua passagem pelo time colorado?

“Foi uma passagem muito boa, cheguei no meio do ano, início da Série B. Peguei um grupo que eu falo, um dos melhores que já trabalhei. Nossas idas ao CT dentro do ônibus eram só alegria, na volta também, cansados, mas com zoação, brincadeira. Na hora de cobrar, a gente se cobrava, mas um respeitando o outro. Foi um dos melhores grupos que trabalhei, acho que isso vai ficar marcado, até hoje são meus amigos. Eu vivi também um bom momento dentro de campo. Acho que consegui mostrar aquele Moacir ao longo dos anos. Sempre tem uma desconfiança no jogador mais velho e lá eu conseguir mostrar minha qualidade técnica, consegui ajudar no meio-campo, na lateral e o Moacir que muita gente não acreditava, conseguir mostrar a qualidade que tem”.

Até por isso a torcida queria que você continuasse lá nesta temporada. Você saiu magoado do Vila Nova?

“Não, não fiquei magoado não porque foi uma coisa muito ‘olho no olho’. Eu tinha contrato com a Ferroviária e o Vila, por achar que seria difícil eles me liberarem, nós entramos em um acordo. É um clube que eu tenho um carinho especial, deixei amigos no clubes tanto jogadores como funcionários, e sou muito grato pela oportunidade”.

Você chegou no Atlético e já conquistou o título do Goianão. O que o Atlético representa hoje para o Moacir?

“O Atlético hoje é minha casa. Eu falei na minha apresentação aqui, sou muito grato ao Adson pelo esforço que ele fez mediante a Ferroviária. Eles não queria me liberar porque eu estava nos planos para o estadual e foi jogo duro. Tanto eu como o Adson tivemos paciência, lutamos um pouco lá, passamos dias de espera e acabou dando certo. O Atlético é um clube que dá toda estrutura de trabalho, fizemos um ótimo primeiro semestre, conseguimos ser campeões, mas passou e temos que virar a página. É uma competição totalmente diferente agora e estamos em busca do objetivo que não é só o acesso não, é ser campeão”.

O Moacir experiente, que já disputou Libertadores, o que almeja ainda para o futuro?

“Eu sou um caçador de títulos, seja no Atlético, em outro clube, dou o meu máximo para conquistar títulos. Eu tenho um sonho de ser treinador um dia, penso em jogar mais uns três ou quatro anos, vou vendo como o corpo vai reagindo. Hoje eu tenho 33 anos e os mais velhos sabem que não é fácil, treinar todo dia fica cansativo, então vou ver até onde o corpo aguenta, onde posso ajudar dentro de campo e depois ver o que eu faço. Quero estudar, fazer os cursos e quem sabe eu não dou certo também fora de campo?” 

 

Ouça na íntegra a entrevista de Moacir à repórter Nathália Freitas:

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