Jorge Jesus (Foto: Alexandre Vidal – Flamengo)

Desde junho trabalhando no Flamengo e atual líder da Série A, Jorge Jesus tem dado o que falar no futebol brasileiro. Tanto que uma entrevista sua à revista francesa So Foot, realizada em 2018, começou a ser repercutida nos últimos dias por causa da sua polêmica avaliação dos treinadores brasileiros na época.

Quando ainda era treinador do Al-Hilal, o português destacou que “o treinador brasileiro está ultrapassado taticamente. Sabe por quê? Porque sempre tiveram grandes jogadores e esses resolveram os problemas táticos sozinhos. Os treinadores brasileiros tinham menos necessidade de criar ideias coletivas, por causo disso estão ultrapassados”.

Nesta semana, os treinadores de Atlético, Goiás e Vila Nova foram indagados a respeito do assunto. Wagner Lopes, que faz parte da Federação Brasileira dos Treinadores de Futebol (FBTF), ressaltou que era preciso entender o contexto, em que “a opinião dele naquela época poderia ser essa, agora precisava perguntar isso hoje depois dele enfrentar vários treinadores aqui no Brasil, depois de vivenciar como é a nossa organização e a quantidade de jogos durante a semana, como é o tempo e o calendário para se treinar, quais as dificuldades de um país com dimensões continentais com relação à logística”.

Na visão do treinador atleticano, “contextualizando tudo isso, hoje talvez a resposta dele não seria aquela, porque na verdade ele não conhecia o futebol brasileiro como hoje. Agora, se hoje ele tiver a mesma opinião, aí a gente pode opinar, mas eu duvido depois dele vir aqui, ficar por três meses e enfrentar vários treinadores brasileiros, eu acredito que a opinião seja diferente hoje. Daquela época, eu não concordo, acho que ele falou sem conhecimento e você não tem necessidade daquilo que desconhece. Ele falou sem conhecer os treinadores brasileiros, sem enfrentar e experienciar isso. A gente respeita a opinião de todo mundo, mas teria que ouvir a opinião dele hoje”.

Já Marcelo Cabo foi mais duro, apontando que “eu, como profissional, não admito que o Jorge Jesus vá falar que os treinadores brasileiros estão ultrapassados. Se um treinador estrangeiro ganhasse o que o Renato (Gaúcho) ganhou nos últimos tempos, ele seria muito ressaltado aqui no Brasil. Se jovens treinadores estrangeiros tivessem chegado a uma Copa do Brasil como Tiago (Nunes) e Odair (Hellmann), treinadores que têm dois anos de futebol profissional, o Tiago sendo campeão sul-americano, talvez eles seriam ressaltados da maneira que o Sampaoli e o Jorge Jesus”.

“Ninguém inventou a roda no futebol, aqui existem profissionais muito capacitados e a gente tem visto nas licenças, que vou em dezembro e esse ano termino a minha, e compartilho e convivo com esses profissionais, mas é inadmissível o Jorge Jesus chegar aqui e falar que os treinadores brasileiros são ultrapassados (o treinador português declarou isso antes de trabalhar no Brasil)”, ressalta o treinador vilanovense, que “queria só um pouquinho que ressaltassem o trabalho do Tiago, do Odair, do Renato, do Mano (Menezes). Vamos fazer uma analogia, o Sampaoli jogou três competições e foi eliminado nas três, então o que ganhou no Brasil para ter essa evidência toda?”.

Segundo Marcelo, “o Brasil não é hexacampeão (pentacampeão, na verdade) porque tem os bons jogadores. Vamos respeitar a história do Zagallo, do Felipão, do Tim, do (Osvaldo) Brandão, do Telê (Santana) e de todos esses que foram referências para mim e outros”. Mais comedido, Ney Franco destaca que “não sei o contexto e quando ele deu esta entrevista, mas na realidade acho que depois que veio trabalhar aqui ele já deve ter mudado de opinião. Independente do que pensa, minha opinião é que no Brasil temos vários treinadores com capacidade técnica e intelectual para dirigir qualquer clube do futebol mundial”.