A cidade tem tanto caos que nem é notícia o fato de o transporte público não prestar. Quando volta a ser motivo de conversa é por extrapolar os limites do caos. Pois extrapolou. De novo. Para nossos leitores e ouvintes não foi novidade a greve de motoristas da empresa Reunidas, antecipada pela Rede Clube de Comunicação. O jornal A Rede noticiou a crise do setor quando o senso comum atirava mísseis nos ônibus. A tarifa está 30% abaixo do que as concessionárias calculam por justo e do tamanho que a demagogia esperava para lucrar politicamente. Assim, o usuário perde com a baixa qualidade dos serviços mal remunerados e o contribuinte vê o seu dinheiro ser torrado com o populismo.
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Os protestos populares no Brasil começaram por Goiânia e o motivo inicial foi a tarifa do transporte coletivo. Depois, as manifestações se espalharam e as causas se dividiram em centenas. As pessoas pediam políticos honestos e as autoridades insistindo em tratar de passagem de ônibus. Foi necessário erguer cartazes afirmando que a reivindicação não era por centavos, mas por um país decente. Na falta de gente séria para apresentar à sociedade, os partidos ofereceram o dinheiro público como subsídio. Aconteceu no Brasil inteiro e Goiânia cumpriu a regra.
Há muitos anos parte das empresas de ônibus vem mal dos pneus. Os donos vendem outros ativos, como imóveis e gado, para manter as linhas. O polo passivo, o usuário do transporte, foi explorado a vida inteira, foi ele quem deu aos donos dos ônibus os imóveis e o gado que ostentam no patrimônio. Então, por mais deficitárias que sejam as rotas, e tudo indica que todas sejam lucrativas, elas já geraram mais riqueza que mina de ouro.
É inútil xingar motorista, apedrejar os ônibus, depredar currais e abrigos de paradas. Os motoristas nada têm com isso, os carros e os pontos com abrigos já são poucos e existir algo com o nome de curral diz tudo sobre o transporte coletivo em Goiânia. Os próprios empresários estão apenas defendendo seu patrimônio. Erradas nessa história são as autoridades. São elas as autoras do caos. Elas permitiram, concederam, legitimaram essa bagunça nos últimos 80 anos. O sistema nunca prestou, não seria agora que iria melhorar. Existem saídas, mas nenhuma é criar estatal, como o PT fez em São Paulo e gestores jegues pretendem imitar. Uma fórmula é o usuário exigir e cobrar. Principalmente, nas urnas.