Motorista, você respeita o pedestre? E você, pedestre, respeita o motorista? Afinal de contas, a quantas andam as lições de convivência entre os inúmeros personagens dessa aldeia chamada trânsito?
A faixa de pedestre, aquela sinalização horizontal composta por sucessivos retângulos brancos transversais à via pública e que delimitam a área da travessia, deveria ser o sagrado espaço a tornar possível alguém que está a pé a circular de um lado para outro. Mas será que este porto seguro é real?
Para falar da serventia das faixas de pedestres, o povo:
— “Há possibilidade de se chegar vivo do outro lado da rua”, Thiago Rodrigues, técnico em eletrônica.
— “É uma garantia contra acidentes, apesar dos motoristas”, Alfredo Ferreira, aposentado.
— “É para dar segurança, mas ultimamente o motorista não anda respeitando nada”, Camila Silveira, autônoma.
— “Uso a faixa para atravessar a rua, apesar do medo de ser atropelada, mesmo com todos os cuidados que tomo”, Antônia Zélia, autônoma.
— “Acho a faixa mais segura, pois os motoristas a respeitam muito mais”, Lindermann Albuquerque, vendedor.
Lei do mais forte
A rua é um espaço público. Como é de todos, não é de ninguém! Logo, tem-se ali um espaço hostil, onde não valem as leis e os princípios éticos, a não ser sob a vigilância da autoridade. A convivência na rua depende de uma negociação constante, entre iguais e desiguais.
E são esses componentes que devem protagonizar o trabalho da recém-empossada diretora de educação para o trânsito da SMT goianiense, Matilde Lemes. Ela adianta que está realizando o planejamento de uma grande campanha educativa, com vista a trabalhar a conscientização da importância de se respeitar a faixa de pedestre. Apesar do caráter educativo, a ação tem nuanças punitivas, pois ela será implementada pelos agentes de trânsito.
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Surge, então, um outro questionamento: há contingente para o trabalho? Goiânia tem, atualmente, 1.198 faixas contra 362 agentes de trânsito. A impressão que fica é que os objetivos acabam atropelando a realidade. “O processo educativo é a longo prazo, enquanto o cotidiano precisa ter suas demandas atendidas. Diante disso, contaremos com o trabalho de fiscalização e autuação. Temos que envolver, fortemente, a mídia, para a qual estamos construindo um plano de mídia duradouro”, adianta Lemes.
A questão é que no trânsito goianiense, o pedestre sabe o que é ser desrespeitado sempre nas faixas de seguranças existentes. Basta estender a mão diante da faixa, que pronto. Ele tem grandes chances de conhecer a nova decoração de interior do Hugo.
Confiança
Os números do Detran e da SMT confirmam o périplo. Comparando os casos de feridos entre 2011 e 2012, percebe-se um aumento de quase 12%. Uma realidade diametralmente oposta ao número de mortes, que caiu de 12 para quatro casos, ou seja, 67%. Para Matilde Lemos todos os personagens dessa selva pecam pelo desrespeito.
“Temos dificuldades tanto com o condutor, quanto com o pedestre. O pedestre não tem a prática de sinalizar com a mão o seu pedido para que o carro pare. O condutor, na maioria das vezes, aguarda pelo sinal”, explica Lemes.
A diretora da SMT, entretanto, está convencida de que a única maneira de alterar a realidade de desrespeito é conquistar a atenção e o apoio da sociedade goianiense. “Estamos numa guerra e a única forma de vencê-la é nos unir. Do contrário, continuará imperando a lei do mais forte, o que destrói os pilares de uma sociedade civilizada e corrói a confiança numa vida em comunidade. Temos que ser capazes de convencer ao cidadão que vale apena seguir as regras”.