Reitor faz balanço do ano 2019 da educação e da Universidade Federal de Goiás (Foto: Rubens Salomão/Sagres ON)

O ano de 2019 para as universidades públicas foi marcado por fortes emoções, grandes contingenciamentos, insegurança orçamentária e muitos questionamentos públicos por parte do ministro da educação, Abraham Weintraub. Em meio a este cenário hostil, a Universidade Federal de Goiás (UFG) também tem motivos para comemorar com o resultado de pesquisas ligadas ao diagnóstico de câncer via cera de ouvido e a criação do primeiro curso de graduação do Brasil sobre Inteligência Artificial.

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Na manhã desta sexta-feira (20), o reitor da UFG, Edward Madureira Brasil, concedeu entrevista à Rádio Sagres, e fez um balanço das atividades desenvolvidas pela instituição e tem a previsão de que a concorrência do curso de Inteligência Artificial seja maior que a de medicina.

“Olha é puro chute meu! Mas eu acho que ele vai ter a concorrência superior a concorrência da Medicina. Eu acredito que sim porque há um apelo enorme por seu primeiro curso do Brasil e por Goiás ter constituído ali a partir do UFG um núcleo de nível Internacional na área de Inteligência Artificial. Nós conseguimos um grupo muito forte que hoje já administram uma carteira de projetos com grandes empresas da ordem de 11 milhões de reais”, anunciou o reitor.

A Universidade Federal de Goiás terá o primeiro curso superior em inteligência artificial do País. A primeira turma de graduação em Inteligência Artificial do Brasil vai começar suas aulas em março de 2020. Serão abertas 40 vagas com ingresso pelo SISU como parte do processo de criação de uma política nacional de IA e formação de talentos.

Pesquisa

Na área da pesquisa, a UFG apresentou bons resultados em 2019. Dois deles ganharam projeção nacional. O primeiro deles foi um estudo iniciado em 2014, onde os pesquisadores descobriram que a cera de ouvido pode ajudar a diagnosticar doenças como diabetes e câncer. A amostra é colocada em um equipamento e com etapas bem simples. O processo leva no máximo 5 horas e é realizado a um baixo custo. Outra vantagem é que não é invasivo. A análise feita no equipamento sai na tela do computador.

A pesquisa é feita no Laboratório de Métodos de Extração e Separação (Lames), ligado ao Instituto de Química da UFG. Antoniosi é o idealizador e coordenador da pesquisa. O estudo foi executado pelo doutorando João Marcos Gonçalves, que explica: o exame da cera de ouvido ajuda a dizer se a pessoa tem ou não câncer, e também o estágio da doença.

“O professor Nelson Antoniosi já está em tratativa para que chegue à população o mais rápido possível. A ideia é fazer via hospitais universitários”, anunciou. 

Um outro grupo de pesquisadores da UFG descobriu que um composto químico a base de pequenas moléculas ligadas ao elemento químico cádmio (Cd) pode aumentar de 20% para 75,4% a eficiência de telas de celulares, notebooks, computadores, televisores e lâmpadas, fabricadas a partir de dispositivos emissores de luz conhecidos como OLEDs (abreviatura do termo em inglês organic light emitting diodes). O principal ganho da inovação proposta pela pesquisa da UFG é um expressivo aumento da geração de economia no consumo da bateria ou da rede elétrica.

A instituição já solicitou a patente em quase todos países da América e da Europa e estão negociando com uma empresa do Rio Grande do Sul para desenvolver esta descoberta. “Isso vai poder reduzir os custos significativamente”, celebrou o reitor.

Descontingenciamento

O Ministério da Educação anunciou, no último dia 18 de outubro, o desbloqueio de 100% dos recursos contingenciamento do orçamento das universidades federais. Na época, o ministro Abraham Weintraub afirmou que o processo de ajuste do recurso não havia prejudicado nenhuma das ações da pasta.

O reitor da UFG confirmou que os recursos foram liberados, como anunciado pelo ministro, mas não foram suficientes para cumprir com todos os compromissos do ano.

“Todos os recursos foram descontingenciados tanto recursos de custeio, quanto os de capital. A gente viveu uma ansiedade muito grande. Tivemos momentos com possibilidade de suspensão de alguns serviços na universidade. No entanto, desde 2014, a gente vive uma restrição orçamentária muito grande, ou seja, o orçamento anual da  universidade. De uma maneira geral, ele não é suficiente para fazer frente à todas as despesas. Mas temos duas questões que a gente não pode deixar de considerar: A universidade não para de crescer com novos cursos de pós-graduação, novos laboratórios e novos equipamentos que chegam e isso aumenta a demanda. O outro aspecto é o reajuste dos contratos devido aos dissídios coletivos das empresas”, explicou.

Atualmente o orçamento disponível para cumprir o custeio básico da instituição é suficiente para apenas 9 meses a cada ano. O restante do custo, algo em torno de R$ 21 milhões por ano, acumulam as dívidas pertencentes a universidade.

Outro aspecto é que recursos captados não podem ser utilizados para o custeio básico da universidade. Um dos casos é o montante de R$ 4 milhões captados pelo Centro de Seleção na realização de cursos e provas que foram sequestrados pelo Governo Federal e impedidos de serem investidos na universidade.

Hostilidade do ministro

O ministro Abraham Weintraub foi anunciado como chefe da Educação em abril de 2019 substituindo o professor Ricardo Vélez que permaneceu por pouco mais de três meses. Desde então realizou ataques sistemáticos a autonomia das universidades e isso tem preocupado os reitores. No último dia 4 de dezembro foi protocolada na Justiça Federal de Brasília pela Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes), a ação cobrando provas e explicações que sustentem suas declarações quanto a acusação de plantações extensivas de maconha e uso de laboratórios para produção de metanfetaminas.

“Coisas desse tipo a gente fica muito incomodado porque se existe isso e o ministro sabe, nenhum reitor vai se furtar a investigar apurar e punir os responsáveis por tamanho absurdo.”

Depois da representação, o ministro reforçou as declarações em agenda no Congresso Nacional, citando que havia casos registrados na Universidade Federal de Goiás. “O exemplo da UFG foi um exemplo de uma apreensão de drogas dentro da Casa do Estudante (CEU), onde a Universidade Federal de Goiás colaborou inclusive com a Polícia Civil na questão da identificação e da apuração. Isso não é uma plantação extensiva, é sim um caso de tráfico. O ministro repetiu acontecimentos que são acontecimentos que de fato existem, mas que não corresponde aquela afirmação da plantação e dos laboratórios sintetizando drogas em universidades”, contestou.

Novos Campi: Catalão e Jataí

No último dia 13, o Ministério da Educação publicou no Diário Oficial a posse oficial dos reitores das recém-criadas universidades no estado de Goiás: Universidade Federal de Catalão (UFCat) e Universidade Federal de Jataí (UFJ). As instituições foram criadas em 2018, ainda no governo de Michel Temer, e aguardavam desde março deste ano uma posição oficial para que adquirisse a autonomia.

A Universidade Federal de Catalão (UFCat) terá como reitora a professora Roselma Lucchese, graduada em enfermagem e obstetrícia pela Fundação Educacional de Fernandópolis, mestre em enfermagem psiquiátrica pela Universidade de São Paulo e doutora enfermagem pela Universidade de São Paulo (USP). Atualmente é professora e diretora da Regional Catalão na Universidade Federal de Goiás (UFG).

A Universidade Federal de Jataí (UFJ) terá como reitor Américo Nunes da Silveira Neto que é engenheiro agrônomo pela Universidade Federal de Lavras, mestre e doutor em agronomia pela Universidade Federal de Goiás (UFG). Já atuou como chefe da Unidade Acadêmica Especial de Ciências Agrárias na UFG. Também tem experiência em organização de grandes eventos do setor. Atualmente, é professor efetivo dos cursos de agronomia e zootecnia e diretor de regional da UFG.

“Não queremos cortar esse cordão umbilical. Vamos cuidar para que não. Quando eu falo para não cortar o cordão porque queremos manter pesquisas e extensão, nós caminharemos juntos para fortalecer o sistema de educação no estado. Eles estão desde o dia 4 de dezembro oficialmente respondendo e liberados para criar suas próprias regras”, explicou.

A UFG tem 157 cursos de graduação, 26 deles em Catalão e 27 em Jataí. São 22 mil alunos nos campus de Goiânia, Aparecida de Goiânia e cidade de Goiás e 4 mil em cada um dos campus das duas novas universidades.

Confira a entrevista com o reitor, em vídeo, a partir do minuto 29, no link abaixo 

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