Junior Kamenach
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Jornalista, repórter do Sagres Online e apaixonado por futebol e esportes americanos - NFL, MLB e NBA

Você sabe o que é combustível do futuro? Engenheiro explica lei sancionada por Lula que promete reduzir emissões

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) sancionou recentemente a Lei do Combustível do Futuro, que tem o objetivo de transformar a matriz energética nacional e diminuir a emissão de poluentes. De acordo com o governo, a iniciativa visa incentivar o uso de combustíveis alternativos e menos agressivos ao meio ambiente, pavimentando o caminho para uma economia verde.

De acordo com o mestre em engenharia e ciência dos materiais, Guilherme Barrachina Stocco, o conceito de “Combustível do Futuro” refere-se a um conjunto de combustíveis que prometem reduzir a dependência de fontes fósseis, como petróleo e carvão, promovendo opções de menor impacto ambiental. A nova legislação não apenas visa expandir o uso de biocombustíveis, como também inclui o desenvolvimento de tecnologias inovadoras que possibilitem a utilização de fontes alternativas, como o biometano e o hidrogênio verde.

A lei prevê aumentos progressivos na quantidade de biocombustíveis misturados ao diesel e à gasolina, com a meta de ampliar a participação do biodiesel no diesel para 20% até 2030. Esse avanço reduziria significativamente as emissões de gases de efeito estufa no setor de transportes. “O combustível do futuro busca a redução de poluentes no ar e a diminuição dos combustíveis de origem fóssil. Com essa medida, esperamos uma economia mais limpa e sustentável”, afirmou o presidente Lula durante o anúncio da lei.

No caso da gasolina, a nova legislação também prevê um aumento na quantidade de etanol misturado ao combustível, o que representa um impulso importante para a indústria de biocombustíveis no Brasil. Segundo analistas do setor, o aumento do etanol na gasolina também deve contribuir para o fortalecimento da economia agrícola, gerando mais empregos e incentivando o uso de recursos renováveis.

Biometano e hidrogênio verde: as inovações do futuro

Além dos avanços com biodiesel e etanol, a lei incentiva tecnologias que utilizem resíduos orgânicos como matéria-prima para novos combustíveis. O biometano, por exemplo, é um gás extraído de resíduos alimentares, resíduos de granjas ou até de suinoculturas.

Segundo Guilherme Stocco, que também é professor de Tecnologia em Processos Químicos da Uninter, há um projeto piloto da instituição em que o biometano é produzido em biodigestores controlados por inteligência artificial, onde resíduos orgânicos são decompostos por bactérias, gerando um biogás composto em grande parte por metano.

“O biometano é uma fonte renovável que pode ser usada para gerar energia elétrica ou até convertida em hidrogênio verde, outro combustível essencial para um futuro de baixa emissão de carbono”, explica. O hidrogênio verde tem ganhado espaço no cenário global como uma alternativa viável para reduzir emissões em setores difíceis de descarbonizar, como a indústria pesada e o transporte de longa distância.

Biodiesel verde e crédito de carbono

A nova política de combustível também promove o desenvolvimento do chamado “diesel verde”, que difere do biodiesel tradicional. A diferença se dá através de processos de destilação e tratamento avançado de óleos vegetais. Isso oferece um combustível com menor impacto ambiental e maior potencial de expansão no Brasil.

Outro ponto-chave da legislação é a introdução de uma política de créditos de carbono, que permitirá que empresas comercializem créditos de carbono para incentivar práticas mais sustentáveis. Em casos de empresas que geram grandes quantidades de CO₂, elas poderão compensar suas emissões comprando créditos de outras organizações, criando uma fonte de fundos para projetos de preservação ambiental.

Guilherme Barrachina Stocco | Foto: Arquivo pessoal

Combustível verde e adaptação dos motores

Segundo Stocco, ainda há muitas pesquisas em andamento para que o setor de aviação adote um querosene mais sustentável, conhecido como combustível verde para aviação. “Existem técnicas de estudo, mas ainda não foi desenvolvido”, pontuou.

No entanto, a adaptação dos motores atuais é um dos principais entraves para a implementação desse combustível. “Antigamente, os motores eram muito mais robustos; hoje, eles trabalham no limite. Então, você tem que entrar com muito cuidado para ver como esses motores vão se adaptar”, destacou o especialista.

Essa adaptação está sendo conduzida de forma escalonada, de modo a avaliar o comportamento dos motores ao longo do tempo. “Por isso que foi usado esse nome de combustível do futuro, porque é uma coisa que não é para hoje”, explicou Stocco, ressaltando que a lei estende suas metas até 2037, indicando um compromisso a longo prazo para o desenvolvimento e implementação.

Impacto econômico e recepção pelo mercado

Além dos desafios técnicos, Stocco afirmou que a adoção dos novos combustíveis trará impacto econômico positivo. Com a utilização de matrizes energéticas mais baratas que o petróleo, a expectativa é uma redução nos custos. “Em teoria, espera-se que haja uma redução no valor”, pontuou.

No entanto, ele ponderou que os cálculos exatos sobre o custo final ainda são incertos e dependem de fatores econômicos e fiscais: “Como isso vai se encaixar dentro da política de impostos e etc., é uma outra questão”.

Sobre a aceitação no mercado, o especialista notou que as montadoras e fabricantes de motores não têm muito espaço para críticas ou resistência, dado que a adoção dos combustíveis sustentáveis é uma questão de política pública.

“A gente não ouve muitas críticas das montadoras, mas sim do público em geral, que já diz que a gasolina brasileira é ruim”, observou Stocco, acrescentando que a comparação com combustíveis de outros países vizinhos, como Paraguai e Argentina, é uma reclamação recorrente entre os consumidores brasileiros.

Redução da poluição

A lei, que não só incentiva como também estabelece metas de redução de emissões, promete gerar um impacto ambiental positivo, mesmo a curto prazo. “Espera-se uma redução na poluição de maneira geral. Tanto no setor de energia, você consegue produzir energia de forma mais limpa, quanto no setor de transportes, para que gerem menos impacto ambiental com a geração de resíduos”, explicou o engenheiro.

Em resumo, a transição para o combustível do futuro é uma aposta estratégica do Brasil em prol da sustentabilidade, que busca equilibrar avanços tecnológicos com desafios econômicos e técnicos.

“O mercado de energia e transporte deve se adaptar e responder às exigências públicas, contribuindo para uma sociedade mais limpa e, com sorte, para custos mais acessíveis para o consumidor”, concluiu Stocco.

Novas regulamentações

Guilherme Stocco ainda detalha o papel das novas regulamentações, abordando a possibilidade de aumentar o percentual de biocombustíveis nas misturas com combustíveis fósseis e as novas metas de redução de emissões de gases de efeito estufa, estabelecidas a partir de 2026.

A nova legislação impulsiona as empresas a investirem em crédito de carbono e biocombustíveis, promovendo um novo modelo de negócios com foco em sustentabilidade. “A principal motivação é o incentivo à criação de empresas de crédito de carbono, dentro dos programas sociais”, afirma Stocco.

Em relação à meta de redução de emissões, a partir de 2026, espera-se uma redução de 1% ao ano nas emissões de gases de efeito estufa. Esse percentual deve aumentar gradativamente até alcançar uma redução de cerca de 10% entre 2030 e 2037.

Energia e agricultura

Outro ponto importante, de acordo com Stocco, é a sinergia entre o setor energético e a agricultura. O uso de resíduos agrícolas para geração de energia é uma das soluções promovidas pela nova política ambiental, oferecendo aos agricultores uma oportunidade de rentabilizar resíduos anteriormente descartados.

“Isso vai facilitar a agricultura, porque o agricultor muitas vezes descarta resíduos de forma incorreta ou paga para descartá-los. Agora, ele consegue gerar energia e ainda pode usar essa energia na sua própria fazenda ou vender o resíduo para obter lucro”, explica.

A política também estabelece diretrizes para a captura e estocagem de carbono, com supervisão da Agência Nacional do Petróleo (ANP). Stocco destaca o papel das áreas de floresta preservada nesse contexto, já que são essenciais para a compensação de carbono.

“Se sua empresa investe em reflorestamento, você gera crédito de carbono. Já empresas que queimam ou produzem carbono precisam contrabalancear isso, comprando créditos de quem mantém florestas em pé”, diz o engenheiro.

Fiscalização

A fiscalização do processo, que envolve a adição de combustíveis verdes e a captação de carbono, será dividida entre diferentes órgãos, com a ANP responsável pela adição dos biocombustíveis e a Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL) pela fiscalização do setor de energia.

Ao avaliar o impacto ambiental das novas regulamentações, Stocco enfatiza que as mudanças devem gerar benefícios substanciais para o meio ambiente.

“A ideia é reduzir a dependência dos combustíveis fósseis e, ao mesmo tempo, incentivar uma economia mais verde. Isso, claro, vai impactar na redução de poluentes, principalmente em setores que ainda dependem fortemente dos combustíveis fósseis para gerar energia”, conclui.

Nova matriz energética

Stocco revelou que o país está nos primeiros passos rumo a uma nova matriz energética. “A ideia é que a gente tenha, por exemplo, uma matriz energética bem diversificada e muito sustentável, pois usamos bastante energia hidrelétrica”, explicou.

Ainda que a matriz energética brasileira seja majoritariamente limpa, com destaque para a energia hidrelétrica, o uso de termoelétricas movidas a carvão ainda eleva o custo e gera impacto ambiental considerável. “Volta e meia você escuta falar que aumentou a tarifa de energia elétrica porque foram geradas termoelétricas à base de carvão”, observou.

Segundo ele, uma mudança nesse panorama poderia ocorrer se alternativas renováveis substituíssem o carvão, o que reduziria tanto os custos quanto a emissão de poluentes. O setor de transporte, particularmente a frota de caminhões que utiliza majoritariamente diesel, é outro ponto crucial.

“Hoje nossa malha rodoviária é basicamente composta por caminhões de grande porte que usam diesel. Se houver uma redução na emissão desses veículos, já temos um impacto positivo na produção de poluentes”, destacou. Ele acrescentou que a frota de veículos no Brasil, embora ainda envelhecida, já possui muitos modelos com tecnologia flex, que permitem o uso de etanol ou gasolina, ambos mais sustentáveis que o diesel e a gasolina pura.

Transição

Para Stocco, o Brasil está apenas começando sua jornada de transição energética, mas os primeiros passos são promissores. “Hoje, estamos no início dessa transição. O Brasil deve se consolidar como um país de transição energética a partir de 2030”, previu o especialista.

Ele mencionou combustíveis alternativos como o biodiesel e o biometano, que já estão ganhando espaço, além do hidrogênio verde, tecnologia que promete revolucionar o setor e reduzir ainda mais a pegada de carbono.

Esse processo será gradual, com avanços incrementais. “Hoje, ainda está em escala muito pequena, mas estamos desenvolvendo essa tecnologia para o futuro”, concluiu.

*Este conteúdo está alinhado aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), na Agenda 2030 da Organização das Nações Unidas (ONU). ODS 07 – Energia Limpa e Acessível

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