Desde a época da Jovem Guarda, movimento cultural dos anos 60 lançado por Roberto Carlos, Wanderleia e Erasmo Carlos, passando pelos grandes artistas da MPB, pelo rock alternativo, pelos megashows internacionais até o sertanejo universitário, Goiânia assistiu a grandes shows e festivais ao longo de sua história. A seguir uma viagem pela música que a cidade ouviu nas últimas sete décadas.

1) Roberto Carlos lançou “Calhambeque” em Goiânia em 1964

O jornalista Arthur Rezende foi um dos principais produtores de espetáculos de cultura em Goiânia nos anos 60, 70 e 80. No final dos anos 60 ele apresentava o Juventude Comanda, na TV Anhanguera, programa de calouros e de música.

Rezende recorda-se que em 1964, Roberto Carlos fez produziu dois shows de Roberto Carlos, um em um sábado à noite no Goiânia Tênis Club e o segundo na manhã de domingo, no Jóquei Clube. “Calhambeque” estava em “É Proibido Fumar”, terceiro álbum de carreira de Roberto. “O disco não tinha sido lançado ainda. No show, Roberto Carlos anunciou que cantaria uma música de seu novo disco. Aoí ele cantou “Calhambeque”, conta.

Arthur Rezende produziu nesta época shows de Wanderleia, Erasmo Carlos, Nelson Ned, Jerry Adriani e outros.

2) Geraldo Vandré se apresenta em Goiânia na véspera do AI-5

Em 12 de dezembro de 1968, véspera da instituição do AI-5, o cantor e compositor Geraldo Vandré fez um show no Cine Teatro Goiânia que ficou na história. Na plateia estava um censor da Polícia Federal. Ele foi se certificar de que Vandré não cantaria “Caminhando ou Pra Não Dizer que Não Falei de Flores”.

A música tinha perdido para “Sabiá”, de Chico Buarque e Tom Jobim, o primeiro lugar no III Festival Internacional da Canção, no Maracanãzinho, em 28 de setembro de 1968, sob protestos irados do público. O show em Goiânia aconteceu neste clima de censura e sucesso.

Oficialmente “Caminhando” só foi proibida pelo governo federal em 23 de outubro, mas ela já estava censurada bem antes, conforme Vandré atestou no show de Goiânia. No áudio gravado ao vivo e disponível no YouTube, o público pede para Vandré cantar “Caminhando”. Ele diz que não a cantaria, porque “as autoridades constituídas deste país” não permitiam. Todavia, o público cantou, e Vandré, então, tocou-a no violão. “’O censor me disse: mas ele está cantando e não pode’. Eu respondi, ‘ele não está cantando, quem canta é o público. Ele está só tocando’”, relembra o jornalista Arthur Rezende, um dos produtores do show na capital. No dia 13 de outubro, dia da publicação do decreto do AI-5, Geraldo Vandré e banda, entre eles o cantor Geraldo Azevedo, fizeram show em Anápolis.

“Caminhando” tornou-se símbolo da luta contra a ditadura militar ou qualquer outra forma de opressão e vem sendo cantada, até a atualidade, em passeatas e movimentos sociais.

3) Comunica-Som, Festival de MPB de grande sucesso em Goiás

Nas décadas de 1960 e 1970 festivais de música foram responsáveis por grandes sucessos no Brasil. O Festival de Música Popular Brasileira, da TV Record, lançou “Disparada” (de Geraldo Vandré e interpretação de Jair Rodrigues) e “A Banda”, de Chico Buarque. O Festival Internacional da Canção (TV Globo) provocou polêmica com a disputa entre “Sabiá”, de Chico e Tom Jobim, e “Caminhando ou Pra não Dizer que não falei das Flores”, de Vandré. Goiás entrou nas ondas dos festivais com o Comunica-Som, com o comando do jornalista Arthur Rezende. O primeiro Comunica-Som foi em 1971, em quatro noites que lotaram o então Cine Teatro Goiânia.

No júri astros da MPB e artistas famosos como Ivan Lins, Carlos Imperial, Regina Duarte, Joanna, Fagner, Lucinha Lins e Paulinho Tapajós; e Millôr Fernandes, Jaguar e Ziraldo, jornalistas do jornal “O Pasquim”. O Comunica-Som teve 13 edições e foi até 1985.

4) Grandes artistas tocaram no Ginásio Rio Vermelho, nas décadas de 1980 e 1990

O Ginásio Rio Vermelho e o Estádio Olímpico, no centro de Goiânia, receberam os grandes shows das décadas de 80 e 90. A cantora argentina Mercedes Sosa (1935-2009) protagonizou com Fagner um dos shows mais emocionantes do período, lembra o produtor Reinaldo Atássio, da produtora Promix. A música “Años” (Pablo Milanés) levantou o público no ginásio. O mesmo palco recebeu Milton Nascimento, Chico Buarque, Tim Maia, Paulinho da Viola, Caetano Veloso, Engenheiros do Hawaíí, entre outros.

5) O melhor do rock progressivo no Estádio Olímpico

Pianista de formação clássica, o tecladista londrino Rick Wakeman fez show no Estádio Olímpico em Goiânia em 1981. Considerado um dos pais do rock progressivo ou do rock sinfônico, ele tocou em Goiânia músicas de álbuns muito conhecidos do público como The Six Wives of Henru VIII (1973), Journey to the Centre of the Earth (1974), The Myths and Legends of King Arthur and the Knights of the Round Table (1975). Wakeman tocou com grandes cantores, como Cat Stevens, Elton John, David Bowie e Black Sabbath. Também já foi tecladista da banda Yes.

6) Banda norueguesa A-Ha tocou no Estádio Olímpico no auge de sua carreira

Uma das bandas pop de maior sucesso dos anos 80, a norueguesa A-Ha tocou no Brasil em 1991 no auge da carreira e batendo recordes. Foi a maior turnê de uma grande banda no país, com nada menos que 14 shows. Goiânia foi uma das cidades a vê-los tocarem ao vivo as batidinhas de ‘Take on Me’. O show foi no Estádio Olímpico.

7) Shakira apresentou o álbum “Pies Descalzos” no Estádio Antônio Accioly

A primeira turnê da colombiana Shakira, que estourava no mundo com o hit ‘Estoy Aqui’, passou por Goiânia em setembro de 1997. O álbum, “Pies Descalzos”, havia sido lançado mundialmente em fevereiro de 1996 e lhe rendeu três Billboard Latin Music Awards. Ela apresentou o show deste álbum, que estreou no número um em oito países diferentes, no Estádio Antônio Accioly.

8) Goiânia Noise abre espaço para o rock de garagem

Um movimento musical surge na capital no final dos anos 1990 para se consolidar na década seguinte. Trata-se no cenário do rock alternativo. Nos dias 4 e 5 de maio de 1995, a Praça Universitária cedeu espaço para o 1º Goiânia Noise, com bandas como Psycho Drops (SP), Succulent Fly (DF), Mechanics, Decibéis D’bilóid’s, entre outras. O festival chegou a sua 25ª edição em 2019 com shows de Ratos do Porão, presença em quase todas as edições, Odair José, entre outras. Já passaram pelo Goiânia Noise Los Hermanos (2002), Helmet (2008), banda norte-americana de metal alternativo; Deep Purple (2003), Megadeth (2008) e Scorpions (2008).

9) Festival Bananada fortalece o circuito alternativo em Goiânia

Em 1999, o jovem Fabrício Nobre criou mais um movimento na cena independente. Ele desenhou um festival para bandas iniciantes tocarem e para ouvirem outras bandas. Assim nasceu o Festival Bananada, um dos eventos do circuito alternativo mais tradicionais de Goiânia.

Em 2012, acompanhando a tendência dos festivais internacionais, o Bananada se tornou um evento que acontece durante toda a semana. Tornou-se um multifestival-multicultural com participação de bandas nacionais e do exterior. O Bananada chegou a sua edição número 21, em agosto deste ano. (Veja aqui a série especial de podcast No Beat da Banana, da Sagres 730. http://sagresonline.com.br/no-beat-da-banana?start=5 )

10) Show de Paul McCartney no Serra Dourada teve invasão de gafanhotos

Uma invasão de gafanhotos foi o diferencial do histórico show do ex-Beatle Paul McCartney em Goiânia em maio de 2013. Os gafanhotos desceram ao palco quando ele começou a tocar “My Valetine” ao piano. “Os shows de Paul McCartney são conhecidos por atrair um público multigeracional, mas na segunda-feira à noite (6/5/13), no Brasil, ele atraiu um tipo diferente de multidão”, disse o texto publicado no site oficial, numa referência aos insetos, também conhecidos como louva-deus e esperança. Cerca de 40 mil pessoas foram ao estádio para assistir o show da turnê “Out There”.

11) Elton John canta sucessos clássicos no Goiânia Arena

Menos de um ano depois de Paulo McCartney, Goiânia recebeu outro megashow internacional. Em fevereiro de 2014, o cantor britânico Elton John se apresentou no Ginásio Arena para cantar seus maiores sucessos e emocionou o público. Ele cantou 27 músicas, conversou com o público e autografou CDs, camisetas e caricaturas. Teve ainda os shows de Simple Plan (2009) e Alanis Morrissete (2012)

12) Villa Mix consolida capital como polo da música sertaneja no Brasil e de megashows

O Festival Villa Mix surgiu em 2011 em Goiânia com objetivo de reunir no mesmo palco os artistas do casting da AudioMix, escritório que atualmente administra a carreira de Jorge & Mateus, Alok, Matheus e Kauan, Simone e Simaria, Luan, Gusttavo Lima, Wesley Safadão entre outros. O show no Estádio Serra Dourada já começou com palco gigantesco e alta tecnologia, cenografia, iluminação, efeitos visuais e som.

Em 2013, o Villa Mix abriu espaço para outros artistas e recebeu Paula Fernandes e Bruno e Marrone. Em 2014, realizou quase 30 festivais de Norte a Sul do Brasil. Em 2015, o VillaMix Festival – edição Goiânia – foi certificado pelo Guinness World Records, o livro dos recordes, como a maior estrutura de palco do mundo, superando o palco da banda irlandesa U2. A partir de 2017 abriu espaço para artistas internacionais. Já recebeu Demi Lovato, Shawn Mendes e Nick Jonas.

Atualmente é um o principal festival de música sertaneja do País e teve sua 9ª edição em junho de 2019, com 15 atrações, no estacionamento do Estádio Serra Dourada. O festival ajudou a consolidar o nome de Goiânia como polo nacional da música sertaneja.