A cidade vive uma guerra civil e o fato é oficialmente amoitado. Em julho, Goiânia chegou à incrível marca de 2 assassinatos por dia. Nesta terça-feira, o jornal O Popular divulga o que já foi tema de campanha insistente nos veículos da Rede Clube de Comunicação: existe uma vasta subnotificação de crimes em Goiás. O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada examinou laudos médicos e encontrou 3 mil e 300 assassinatos não registrados. Mas essa é apenas uma parte da história.
{mp3}stories/audio/2013/AGOSTO/A_CIDADE_E_O_FATO_-_06.08_-_TERÇA_FEIRA{/mp3}
A Rádio 730, o portal730.com.br e o jornal A Rede publicam com frequência os números discordantes entre a realidade e a burocracia. A Secretaria de Segurança Pública rebate afirmando que é “divergência de metodologia”. Não, é querer reduzir a violência não reconhecendo os crimes, zombando da dor das famílias, um escárnio à memória das vítimas. Segundo o Ipea, a polícia não registra como homicídio nem quando houve tiro. Também por pura filigrana não são contadas como assassinatos três formas crudelíssimas de matar:
o latrocínio, que é quando o ladrão assassina para roubar;
a lesão seguida de morte, quando a intenção do bandido é só machucar, mas a vítima cai na bobagem de morrer;
a troca de tiros entre polícia e suspeitos, mesmo se acreditando que os mortos realmente trocaram tiros e não somente levaram tiros.
Ou seja, as forças de segurança se escoram até no juridiquês para reduzir índices.
As autoridades omitem do número de homicídios também quando alguém é achado morto, mesmo que tenha 190 buracos de bala e facadas. Nesse caso, o cidadão não morreu, ele foi visto sem vida. E há um exercício de enrolação verbal: não foi assassinato, mas “encontro de cadáver”. Parece surreal, mas a pessoa não morreu, ela foi encontrada morta. Outra maneira de reduzir o número de homicídios é não registrar os de trânsito, que a edição desta semana da revista “Veja” afirma serem mais que os assassinatos comuns.
Em Goiás, existem 3 mil assassinatos recentes para os quais a polícia não encontrou autor. Outros 12 mil homicídios estão na Justiça sem solução. Mais os 3 mil e 300 desviados no laudo médico, além dos cadáveres encontrados e dos que tombam no trânsito. Não importa como a polícia classifica, o certo é que mais de 18 mil famílias goianas perderam seus entes queridos e até agora as autoridades não encontraram quem matou. Essa impunidade é uma macabra forma de matar novamente a vítima, as 18 mil vítimas recentes.