O cumprimento do mínimo constitucional está inviabilizando, de acordo com dados do Tribunal de Contas dos Municípios (TCM), o fechamento das contas de 51 municípios goianos (leia tabela na página). Neste cenário, 26 gestões municipais não conseguiram comprovar o investimento mínimo tanto na educação, quanto na saúde. Outras 25 gestões estão com dados considerados inconsistentes pelo tribunal.

A Lei de Responsabilidade Fiscal estabelece que as prefeituras têm de destinar dos orçamentos ao menos 25% à educação e 15% à saúde, durante todo o ano. O investimento é anual e não há compensação de um ano para outro. Caso não ocorra o repasse mínimo em cada uma das áreas, as prefeituras ficam sujeitas à intervenção do governo do Estado, além de estarem proibidas de receber recursos federais por meio de convênios e obrigadas a pagar multa pela desobediência.

A prefeitura que menos investiu em educação foi a de Pilar de Goiás (250 quilômetros de Goiânia), com 10,61%, enquanto que a de Inaciolândia (298 km) repassou 2,06% de recursos para saúde. A situação mais delicada, porém, está nas administrações de Adelândia (109 km) e Hidrolândia (Região Metropolitana de Goiânia). Em ambas, o TCM/GO constatou que a aplicação irregular tanto na educação, quanto na saúde.

Os dois municípios, entretanto, então entre os que apresentam os mais altos Índices de Desenvolvimento Humano (IDH) do Estado – Adelândia, em 103º lugar, com IDH de 0,702, e Hidrolândia, em 94º, com 0,706. O IDH é resultado da combinação de três realidades: vida longa e saudável (saúde), acesso ao conhecimento (educação) e padrão de vida decente (desenvolvimento econômico).

O prefeito reeleito de Adelândia, Victor Leonardo de Lima Soares (PMDB), contesta o resultado das análises do TCM/GO, alegando que em 2011 teria se repetido a mesma situação. Ele explica que, à época, o tribunal desconsiderou uma série de investimentos, como, por exemplo, uniformes e uma van, que é utilizada no transporte de moradores em tratamentos médicos. Victor Leonardo está convicto que novamente reverterá a situação.

O ex-prefeito de Hidrolândia, na gestão 2009/2012, José Lima Cruvinel, não foi encontrado pela reportagem para falar sobre a rejeição das suas contas da educação e da saúde. Todavia, o atual procurador do município, Didi Matos, confirma problemas nas áreas, adiantando ter sido necessário ingressar na Justiça, para garantir recursos. José Lima comandou a gestão de Hidrolândia três vezes (1993/96, 2005/2008 e 2009/2012).

Ficha-sujas
A presidente do TCM, conselheira Maria Teresa Garrido Santos, adianta que há possibilidades, para os municípios que não tiveram suas contas julgadas, apresentar dados consistentes que comprovem a legalidade das aplicações. No entender dela, os problemas, às vezes, acontecem devido à má instrução no processo. Por outro lado, caso o plenário do Tribunal confirme a recusa das contas, os gestores municipais se tornam inelegíveis.  A regra que torna os políticos fichas-sujas inelegíveis começou a valer nas eleições municipais de 2012 e será aplicada pela primeira vez em 2014 nas disputas para presidente, governadores, deputados e senadores.

Pela lei, não podem se candidatar políticos condenados em decisão final, quando não cabem recursos, ou colegiada – mais de um juiz. Também fica impedido quem teve contas rejeitadas, mandato cassado ou renunciou para escapar de cassação. A legislação não impede que parentes de “fichas-sujas” participem das eleições.

Educação
A Constituição exige que os municípios apliquem ao menos 25% de sua receita resultante de impostos e transferências na manutenção e no desenvolvimento da Educação. A lei é a mesma para os estados e, no caso da União o percentual mínimo é de 18%. De acordo com a lei, os municípios devem atuar prioritariamente no Ensino Fundamental e na Educação Infantil, para os quais deve garantir universalização e padrão de qualidade e equidade. Ou seja, antes de atender a essas regras, o município não pode investir em outras áreas da Educação, por exemplo, construindo uma universidade municipal.

A maior parte da renda municipal vem do Fundo de Participação dos Municípios (FPM) e do ICMS dos estados, além das transferências voluntárias do governo federal, por intermédio do Ministério da Educação (MEC) e do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE).

Fundeb
O Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação (Fundeb), criado em 2007 em substituição ao Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de Valorização do Magistério (Fundef), é vital para o funcionamento da Educação de muitos municípios no Brasil. O Fundeb financia todas as etapas da Educação Básica distribuindo igualitariamente os recursos, dentro de cada estado, conforme o número de alunos matriculados no ensino público. Quando o valor investido por aluno não atinge o mínimo nacional, que este ano está em R$ 2.243,71 a União complementa. Vale salientar que em Goiás, o mínimo este por aluno é de R$ 3.253,11.

Municípios que não aplicaram 15% na Saúde (2012)

Campo Limpo de Goiás

14,86

Cidade Ocidental

14,55

Anhanguera

14,44

Buriti Alegre

14,40

Lagoa Santa

14,38

Novo Planalto

14,34

Ipiranga

14,30

Adelândia

14,12

Hidrolândia

13,94

Niquelândia

13,13

Heitorai

12,31

Inaciolândia

02,06

Pilar de Goiás

10,61

Municípios que não aplicaram 25% na Educação (2012)

São Luiz do Norte

24,88

Bonópolis

24,78

Catalão

24,48

Ouvidor

24,24

Palmeiras de Goiás

24,18

Aragoiania

23,58

Adelândia

23,50

Campinorte

23,49

Caçu

21,98

Posse

21,13

Palestina de Goiás

20,72

Trindade

20,34

Hidrolândia

20,05

Santo Antônio do Descoberto

9,88

Bonfinópolis

9,49

Municípios com dados inconsistentes (2012)

Americano do Brasil (saúde)

Amorinopolis (Educação)

Aragarças (Educação)

Barro Alto (Educação)

Cachoeira Dourada (S&E)

Caldas Novas (Educação)

Campinorte (saúde)

Carmo do Rio Verde (S&E)

Davinópolis (S&E)

Divinópolis (Educação)

Guarani de Goiás (Educação)

Itaberaí (Educação)

Jussara (S&E)

Leopoldo de Bulhões (S&E)

Maurilândia (Educação)

Mimoso de Goiás (S&E)

Minuçu (S&E)

Mundo Novo (S&E)

Paranaiguara (saúde)

Perolândia (Educação)

Planaltina (Educação)

Porangatu (S&E)

Santa Cruz de Goiás (S&E)

Trindade (saúde)

Uruaçu (saúde)