Entre todos os homicídios registrados em 2021 no Brasil, 77,1% foram de pessoas negras. Naquele ano, o país contabilizou 36.922 vítimas negras e 10.105 não negras. Os dados são do Atlas da Violência 2023, elaborado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e divulgado na última terça-feira (5/12).
Para pessoas negras, a taxa é de 31 homicídios para cada 100 mil habitantes, contra a taxa de 10,8 para pessoas não negras. A pesquisa segue o critério de classificação do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que considera pessoas negras a soma de pretos e pardos, e pessoas não negras a soma de amarelos, brancos e indígenas).
Entre 2011 e 2021, o número de pessoas negras vítimas de homicídio no Brasil aumentou 3,7%, enquanto a quantidade de mortes de pessoas não negras diminuiu 29%. “Considerando a tese do racismo estrutural, temos evidência de que há um grupo racialmente identificado sendo vitimizado de forma sistemática”, afirma o estudo.
Recorte regional
Dos 14 estados que apresentaram taxa de homicídio de pessoas negras superior à média nacional, 12 são do Nordeste. Na região Norte, o maior índice ficou com o Amapá, que registrou taxa de 60,7, seguido do Amazonas (47,4) e Roraima (44,6).
No Nordeste, a Bahia teve a marca de 55,7 homicídios a cada 100 mil pessoas negras, com um total de 6.703 mortes. A seguir, aparece o Rio Grande do Norte, com taxa de 48,9, e o Ceará, com 47,1. O estado que registrou a menor taxa de mortes de pessoas negras a cada 100 mil foi São Paulo, com 8,1, seguido de Santa Catarina (13), Minas Gerais (14,9) e Distrito Federal (16,1).
Entre as pessoas não negras, o maior número de mortes foi contabilizado no estado de São Paulo, com 1.537, quantitativo muito inferior aos 6.703 homicídios de pessoas negras na Bahia. Em contrapartida, foi justamente esse estado nordestino que contabilizou a menor quantidade de não negros mortos no ano de 2021: 402.
A partir dos dados tabulados, a pesquisa reforça a urgência de construção de “ações estratégicas” de combate ao racismo estrutural e à desigualdade no Brasil, capazes de mobilizar “diferentes áreas de políticas públicas, como da educação, saúde, cultura e segurança”, pontua. “É urgente garantir direitos e promover condições de vida favoráveis para uma parcela da população que é violentada desde os tempos coloniais”, finaliza.
Este conteúdo está alinhado ao Objetivo de Desenvolvimento Sustentável (ODS) número 16 – Paz e Justiça, da agenda 2030 da Organização das Nações Unidas (ONU).