O Dezembro Vermelho é o mês dedicado à conscientização sobre o HIV/Aids e outras infecções sexualmente transmissíveis (ISTs). De acordo com a médica infectologista Mariana Tassara, o principal desafio de quem convive com o vírus da Aids ainda é o preconceito e o sentimento de culpa.

“Quando ela é contaminada ela tem um sentimento de culpa, como se ela fosse culpada de ter pego o HIV, porque ela teve uma relação desprotegida, porque ela teve algum contato desprotegida, ou seja, o qual ela não cuidou. Então ela se sente muito culpada e, depois, envergonhada pela doença. Se ela não for acolhida pela família e pelos amigos, ela acaba por não fazer o tratamento direito. Isso pode levar à progressão da doença e o óbito”, afirma a especialista.

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Nesse sentido, segundo Mariana Tassara, o acolhimento de familiares e amigos é primordial às às pessoas vivendo com HIV/aids (PVHIV). Isto é, permitir que ela mostre as preocupações em relação à doença e deixá-la à vontade para procurar o serviço de saúde e a equipe multiprofissional sempre que necessário, o que facilita o acesso ao serviço e ao tratamento.

“Quando a pessoa não se sente acolhida para contar que tem o HIV, muitas vezes ela vai esconder que toma o remédio, vai esquecer de tomar, não vai querer se expor para ir na farmácia pegar, não quer contar para a família, não quer que a família veja”, reforça.

Ainda que uma PVHIV possam ter uma vida normal, inclusive sexualmente, muitos ainda convivem com o estigma social de pertencer a um grupo HIV-positivo ou que viverão pouco. Hoje, contudo, o tratamento permite longevidade.

“A campanha fala sobre essas doenças, o convívio com essas pessoas, como pega, como não pega, para que essas pessoas sejam acolhidas pela sociedade e a gente não tenha preconceito nem medo de conviver com elas. Hoje é uma doença crônica, totalmente controlada, mas o preconceito é pior fator de quem tem doença. A pessoas ainda temem contar umas para as outras pelo medo do preconceito contra a doença”, reforça Mariana.

A médica infectologista Mariana Tassara, em entrevista à Sagres (Foto: Sagres Online/Zoom)

Profilaxia

PrEP

O Ministério da Saúde incorporou ao Sistema Único de Saúde (SUS) três medicamentos para tratar pessoas que vivem com HIV. Os retrovirais que passam a fazer parte da lista do SUS são o Darunavir 800 mg, o Dolutengravir 5 mg e o Raltengravir 100 mg (granulado). Além disso, existem as profilaxias pré (PrEP) e pós-exposição (PEP) ao HIV, que bloqueiam o vírus, mesmo que uma pessoa sem HIV tenha relações sexuais com um HIV-positivo.

“As pessoas que têm relação com parceiros diferentes ou não confiam no seu parceiro ou seu parceiro já é uma pessoa que tem HIV, pode tomar a PrEP continuamente, para não pegar o HIV. É um remédio disponível pelo SUS mas também vende em farmácias. Então se o HIV entra na pessoa, o remédio bloqueia”, explica a infectologista.

Ademais, a PrEP também pode ser tomada somente antes de uma relação de risco, isto é, não precisa ser contínua ser não for um parceiro fixo.

PEP

Além da PrEP, existe a PEP, cujos remédios são tomados após o contato com o vírus. O ideal é que se comece a tomar a medicação em até 2 horas após a exposição ao HIV e no máximo após 48 horas. Quanto mais rapidamente for administrada a profilaxia, melhor será o resultado.

Todavia, Mariana Tassara, faz um alerta para alguns cuidados em relação ao contato com objetos possivelmente infectados. Daí a importância de se fazer anualmente o exame que diagnostica a presença do HIV.

“Sempre observar o uso de agulhas descartáveis, observar a tinta da tatuagem ser de uso único, ter o seu próprio alicate para ir ao salão de beleza, seu próprio barbeador exclusivo. Tudo isso vai prevenir contra a infecção pelo HIV”, conclui.

Aids

A Aids é a doença causada pela infecção do Vírus da Imunodeficiência Humana (HIV é a sigla em inglês). Esse vírus ataca o sistema imunológico, que é o responsável por defender o organismo de doenças. As células mais atingidas são os linfócitos T CD4+. O vírus é capaz de alterar o DNA dessa célula e fazer cópias de si mesmo. Depois de se multiplicar, rompe os linfócitos em busca de outros para continuar a infecção.

Os pacientes soropositivos, que têm ou não AIDS, podem transmitir o vírus a outras pessoas pelas relações sexuais desprotegidas, pelo compartilhamento de seringas contaminadas ou de mãe para filho durante a gravidez e a amamentação, quando não tomam as devidas medidas de prevenção. Por isso, é sempre importante fazer o teste e se proteger em todas as situações.

HIV

O HIV é um retrovírus, classificado na subfamília dos Lentiviridae e é uma Infecção Sexualmente Transmissível. Esses vírus compartilham algumas propriedades comuns, como por exemplo:

  • período de incubação prolongado antes do surgimento dos sintomas da doença;
  • infecção das células do sangue e do sistema nervoso;
  • supressão do sistema imune.

Vale lembra que ter HIV não é o mesmo que ter Aids. Há muitos soropositivos que vivem anos sem apresentar sintomas e sem desenvolver a doença. A transmissão do HIV e, por consequência da Aids, acontece das seguintes formas:

  • Sexo vaginal sem camisinha;
  • Sexo anal sem camisinha;
  • Sexo oral sem camisinha;
  • Uso de seringa por mais de uma pessoa;
  • Transfusão de sangue contaminado;
  • Da mãe infectada para seu filho durante a gravidez, no parto e na amamentação;
  • Instrumentos que furam ou cortam não esterilizados.

É importante quebrar mitos e tabus, esclarecendo que a pessoa infectada com HIV ou que já tenha manifestado a Aids não transmitem a doença das seguintes formas:

  • Sexo, desde que se use corretamente a camisinha;
  • Masturbação a dois;
  • Beijo no rosto ou na boca;
  • Suor e lágrima;
  • Picada de inseto;
  • Aperto de mão ou abraço;
  • Sabonete/toalha/lençóis;
  • Talheres/copos;
  • Assento de ônibus;
  • Piscina;
  • Banheiro;
  • Doação de sangue;
  • Pelo ar.

*Este conteúdo está alinhado aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), na Agenda 2030 da Organização das Nações Unidas (ONU). Nesta matéria, ODS 03 – Saúde e bem-estar.

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