Alan Ruschel (Foto: Rosiron Rodrigues)

Apresentado há pouco mais de uma semana como reforço do Goiás na disputa do Campeonato Brasileiro, Alan Ruschel vive a expectativa de estrear pelo seu novo clube e pode ser uma das novidades na formação de Ney Franco neste sábado. A equipe esmeraldina receberá o Palmeiras no estádio Serra Dourada, às 21h, em jogo válido pela 17ª rodada da Série A.

Em entrevista exclusiva ao repórter André Rodrigues, das Feras do Kajuru, Alan destaca que a partida contra o Palmeiras tem um sabor diferente, por “estar do lado da torcida e pegar um time que está brigando para ser campeão brasileiro. Um jogo bom para se jogar, que todo mundo estará vendo, que tem um sabor especial. Feliz por estar participando de um jogo nessa proporção”.

Lateral-esquerdo de origem, o jogador chegou para ser utilizado, a princípio, no meio-campo, como o próprio treinador Ney Franco destacou na sua apresentação. Para o jogo desta noite, Alan Ruschel, que não entra em campo desde julho, disputa posição com Marcelo Hermes e é uma das muitas dúvidas no time do Goiás, que fechou os dois últimos treinos.

Gaúcho de Nova Hartz, passou pelas categorias de base do Juventude, porém não teve espaço de imediato, quase desistindo da carreira. Alan revela que durante um tempo passou treinando em um centro de treinamento da sua cidade e em um amistoso contra o Novo Hamburgo conseguiu destaque, “e nesse dia quem estava assistindo era o Mauro Galvão, que me levou para um torneio em Punta del Leste com o time dele”.

“Desse torneio, ele me levou para o Esportivo (de Bento Gonçalves). Cheguei lá entre fevereiro e março de 2007, estava me destacando e nisso veio o Juventude de novo. Eu estava lá menos de um ano antes, e depois de 2007 fiquei até 2013. Nesse meio tempo, me profissionalizei no Juventude, fui emprestado para Pelotas e Luverdense, em 2013 tive um destaque maior no estadual e fui para a Chapecoense”, recorda.

Depois de boa passagem em Chapecó, assinou com o Internacional, onde ficou dois anos com um período emprestado no Athletico Paranaense, quando sofreu lesão no ligamento cruzado. Recuperado, “fui emprestado para a Chapecoense, onde tive um destaque em 2013, e três anos depois achei que era o lugar certo para retomar o meu futebol”. Com mais um ano de contrato com o clube catarinense, está emprestado até o final de 2019 ao Goiás.

Alan Ruschel destaca que dois treinadores foram muito importantes na sua vida. Primeiro Lisca, quando “em 2011, o Luverdense jogava uma copinha sub-23, e na época eu estava no Brasileiro, mas tinha idade para jogar, então o Lisca me colocava para jogar segunda, quarta e domingo, e me chamava de ‘Super Alan’. Depois voltei para o Juventude, e em 2013 tive um destaque muito grande com ele, quando tiramos o Grêmio na semifinal e perdemos a final contra o Inter nos pênaltis. Ele me ajudou muito a evoluir como atleta e pessoa, é um cara que sou muito grato”.

“O outro cara foi o Ney Franco, que não exatamente apostou em mim, mas realmente acreditou naquilo que estava fazendo. Me botou para jogar, ajudei ele algumas vezes e agora me ajudou a vir para cá”, frisa o jogador, destacando a importância do treinador esmeraldino, com quem conversou bastante antes de acertar com o Goiás e “falei que estava me desafiando, até para tirar esse rótulo de ‘sobrevivente’ e mostrar que me tornei um jogador de alto rendimento”.

alan e danilo

Danilo e Alan Ruschel

Um dos seis sobreviventes do acidente com a delegação da Chapecoense em novembro de 2016, Alan Ruschel voltou a jogar futebol em 2017 e nesta temporada disputou 17 partidas. Em busca de novo desafio, destaca que “não vou falar que saí de lá extremamente feliz com a Chapecoense, e claro que sou eternamente grato à torcida de Chapecó, o povo me acolheu muito bem, envolvido ou não com futebol. Tem algumas coisas erradas que acontecem no clube, mas espero que as coisas se retomem como eram antes”.

“Por ser oeste de Santa Catarina, às vezes não está muito na mídia, então a maioria das pessoas não sabiam como o Alan estava. As coisas ficam muito guardadas, então o pessoal me via sempre como ‘Alan, o sobrevivente’, e eu já tinha disputado Sul-Americana, Libertadores, Brasileiro, todos jogos de alto nível, então eu queria sair de lá não para provar para alguém, mas sim mostrar que o Alan Ruschel era um atleta de alto rendimento”, afirma.

Mais do que Mauro Galvão, Lisca ou Ney Franco, um personagem muito marcante na sua vida é seu pai Flávio, e relembra que após o acidade “foi o primeiro cara que eu conversei e tive o prazer de ver, junto com a minha esposa. Ele foi um cara que sempre me ajudou, sempre está do meu lado e me apoiou em qualquer escolha, inclusive quando falei que vinha para cá. Ele falou que esse era o melhor momento que eu vivia após a tragédia, então que era o momento certo de vir para cá”.

Alan entende que teve um milagre na sua vida, “só não tem como explicar as coisas que aconteceram. Não questiono Deus o por quê eu fiquei vivo, e sim tento entender o para quê. Acredito que fiquei para ser um exemplo bom para as pessoas, um exemplo de superação, daquela pessoa que luta pela vida, pelo emprego e por tudo que conquistou. Primeiramente, é isso que eu acho que Deus está me colocado e fazendo com que as pessoas enxerguem isso na minha vida”.

Emocionado, admite que lembra dos seus ex-companheiros que morreram no acidente em Medellín toda vez que vai dormir, e recorda especialmente do goleiro Danilo, que “frequentava a minha casa e eu frequentava a casa dele”. Ruschel, que apesar de não se concentrar com o amigo, que ficava com Jackson Follmann, destaca “vivia no quarto deles. Inclusive brincava que tinha que colocar uma cama para mim, porque eu não saía do quarto deles. Claro, a gente tem saudade de todo mundo, mas ele foi um cara que eu criei uma amizade muito boa. Essa saudade acho que nunca vai ser superada”.

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