Rafael Moura – Goiás (Foto: Matheus Gurgel)

Contratado em julho logo após o retorno do Campeonato Brasileiro após a pausa para a Copa América, enfim Rafael Moura virou titular no seu retorno ao Goiás depois de quase uma década. Entrevistado de forma exclusiva pelo repórter André Rodrigues, das Feras do Kajuru na Rádio Sagres, o atacante de 36 anos abriu o jogo sobre a sua carreira e a volta para Goiânia, além do drama familiar que vive com sua mãe e os conselhos que dá para Michael.

Seu retorno para o Goiás foi entre algumas críticas e também ofertas, inclusive do rival Vila Nova, e aponta sua determinação para vestir a camisa esmeraldina uma vez mais. “Eu expliquei na minha chegada, mas parece que o torcedor ainda não entendeu bem. Não sou refugo, não estava parado por falta de opção, pelo contrário. Tive Fluminense, Botafogo e diversas situações de Série B, que eu nem quis escutar. Já tinha definido um plano de carreira que, mesmo se continuasse no América ou não, gostaria de retornar para o Goiás, tinha feito uma promessa para o torcedor que voltaria”, aponta.

Antes do acerto, Rafael Moura ficou sete meses sem clube após sair do América Mineiro, e explica que “os sete meses que fiquei foi para ficar em casa, perto da minha família e da minha mãe, e só voltaria a jogar se fosse no Goiás. Então eu me ofereci, o salário é como se fosse uma ajuda de custo, como se tivesse subido um garoto da categoria de base. Agradeço demais toda a diretoria de me dar essa oportunidade e a única coisa que posso retribuir e agradecer a eles é mostrando essa luta e dedicação que estou tendo nos treinamentos e em todos os jogos”.

Falta de gols

Apesar do esforço, o atacante ainda não conseguiu marcar na Série A em onze jogos, tendo balançado as redes somente na Copa Verde. Rafael ressalta que “a minha função sempre foi fazer gol e por onde passei fiz, então entendo esse tipo de cobrança e já até dei declaração que sou o cara que mais me cobro. Sou assim, minha mentalidade é assim, e reclamo de tudo para sempre buscar algo melhor. Realmente gostaria de poder estar fazendo mais gols, só que seria individualista da minha parte, porque em diversas equipes fiz muitos gols e acabamos sendo rebaixados e perdendo jogos”.

Sobre sua relação com os companheiros, destaca que “tive que entrar ao poucos como reserva, depois o Kayke saiu e já entrei no time jogando quarta e domingo, e não temos tanto tempo para treinar. Como não fiz pré-temporada, acho que Michael, Barcia, (Léo) Sena e as pessoas que têm característica para me municiar talvez não me conhecem a fundo de que sou jogador de uma bola. Eu preciso conquistar a confiança deles de que, se eles me derem essa bola, vou fazer o gol, então estou ainda mostrando isso para eles nos treinamentos com muita conversa”.

Drama familiar

Enquanto vive sozinho em Goiânia, sua família segue em Belo Horizonte ao lado da dona Junia. Rafael Moura relata que, em 2012, sua mãe “teve um câncer de mama, estava curada, tomou os medicamentos e quem conhece a doença sabe que tem a possibilidade de um retorno, que no caso dela era mínimo, mas aconteceu. Ela está com uma metástase que se alocou no pulmão, é uma doença muito pesada e agressiva, com tratamento de quimioterapia e radioterapia. A única coisa que a minha mãe me pediu é que a alegria dela é me ver jogar. Então, aí que está essa minha determinação dentro do campo, que estou me transformando por isso, pela fome do Goiás e muito mais pelo pedido da minha mãe”.

“No tratamento dela, poucas coisas estão alegrando, ela tem uma fé de que possa ser curada novamente e que tenha uma qualidade de vida boa, tem 53 anos e é muito jovem. A única coisa que prometi é a mesma que prometi para a diretoria do Goiás, que ia correr e dedicar para caramba. Ela também está merecendo os gols, o meu sorriso e que o Goiás conquiste essa permanência, que para a gente é como um título. Eu evito de pensar negativo e na doença, foco só nas coisas boas e positivas, e meu maior sonho desse ano é essa permanência do Goiás e que a minha mãe consiga ter força para pelo menos assistir um jogo ao vivo, que seria bacana para caramba”, completa, bastante emocionado.

andre e rafael moura

Rafael Moura e André Rodrigues (Foto: Matheus Gurgel)

Futuro da carreira

Aos 36 anos, o atacante conta que ainda não tem um plano definido sobre quando irá encerrar sua carreira como jogador profissional, e “com essa força que a minha mãe tem me dado e pedido para jogar, ser o sorriso e o guerreiro dela, acho que fisicamente estou muito bem e daria para jogar mais um ou dois anos. Só que não quero deixar para parar e começar a pensar no pós-carreira, já tenho estudado, fiz cursos, mas ainda não tenho definido o que quero ser. Muitos me falam que tenho o perfil mais executivo, de gestor para poder gerenciar tudo, porque me apego aos mínimos detalhes, mas isso também é bom, porque hoje em dia os treinadores precisam ter essa característica”.

No seu retorno ao Goiás, a atuação do presidente do Conselho Deliberativo do clube, Hailé Pinheiro, foi determinante, relembrando a primeira passagem marcante em 2010, quando foi artilheiro na campanha da equipe até a final da Copa Sul-Americana. Sobre se cogita continuar, Rafael ressalta que “eu já vim com o contrato em branco, o meu nome está assinado e agora falta da diretoria, mas eu falo que estou em período de teste. Estou igual um garoto da base, tanto de salário quanto para essa renovação, então tudo o que fizer e já estou fazendo vai me credenciar para essa renovação. Mas o meu nome já está ali, o pessoal da diretoria, todo mundo sabe que pode garantir que eu já assinei”.

Michael

A joia esmeraldina e agora admirado por todo o Brasil, Michael não poderia deixar de ser assunto. Como um dos líderes do grupo e muito experiente, Rafael Moura relata os conselhos que tem passado para o jovem atacante. “Primeiro, é um homem vencedor, um menino com uma história de vida muito bacana. Ele vivenciou violência e droga, saiu e hoje é um atleta profissional. É um menino que, por essa vivência, tem uma cabeça muito boa, escuta todo mundo e quer evoluir. Com todo o respeito à Série B e a campanha do Goiás no ano passado, que o Michael foi uma revelação, ele precisa se tornar um jogador de Série A, de alto nível e extraclasse, então tem que provar ainda mais o que já está fazendo”.

“Michael hoje ainda não foi convocado para a sub-23, e isso não estou falando desmerecendo ele, pelo contrário, sou apaixonado por ele, pela pessoa que é e pelo atleta que está se tornando. Quero expor o pensamento de uma pessoa que tem uma vivência de futebol, de maldade, de pessoas que encostam para aproveitar, então que o Michael saiba definir qual vai ser o melhor futuro para ele e que isso ele aproveite da maneira possível. Se ele alcançou o sucesso e hoje ele é o nosso melhor jogador, mas que ele consiga manter isso daqui para frente”, destaca.

Rafael Moura deseja “que ele seja o melhor jogador do Flamengo, que seja convocado periodicamente para a Seleção. É isso que torço para o Michael, por isso que estou sendo duro, como um irmão mais velho, como um pai, e é difícil aceitar algumas verdades, mas torço muito para que o Michael não se perca nesse caminho. Eu vejo o Goiás fazendo a programação de venda dele, da notoriedade e o espaço que tem conseguido na mídia, e isso é ótimo para ele, mas que jamais perca o foco de treinar e entrar em campo com uma fome de um cara que tem 36 anos, que tem como motivo estar retornando e realizando o sonho de estar no Goiás e que está com a mãe doente”.

“Talvez ele tenha essa fome pela história de vida dele próprio, mas que jamais perca essa fome, ele não pode estar satisfeito nunca, mesmo que passe a comer caviar, champanhe, o que quer que seja, que nunca perca esse essência do terrão que sempre fala, e ele fala, isso que é bacana. Ele não esquece nunca do terrão, porque ele está subindo muito rápido, a carreira dele tem subido na velocidade que joga, então ele é muito rápido para tudo. Eu tenho certeza que ele vai bater nessa seleção e nesse grande clube como falei, mas que com 36, 37 anos esteja dando uma entrevista para você que manteve a mesma coisa, com esse sonho e essa fome até o final da carreira dele. É isso o que eu desejo e a minha torcida enorme para ele conseguir isso”, completa.

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