Na manhã deste sábado, 30, o diretor geral do Instituto Verus, Luiz Felipe Gabriel recebeu a visita do presidente do Sindicato Nacional das Empresas de Pesquisa de Mercado (Sinpeme), Geraldo Magela Belo. O presidente veio de São Paulo para se solidarizar com a equipe e o diretor do Instituto,  que foram acusados pela Coligação Goiás Quer Mais de “compra de votos”. Pesquisadores e pesquisados ficaram presos por 48 horas na Cadeia Pública de Anápolis.

O presidente disse que ficou chocado porque a equipe foi impedida de trabalhar e a empresa ficou com dano jurídico, financeiro e moral por causa de interesses eleitorais.  “O que me deixou mais angustiado foi saber que as liberdades individuais estão em risco em nosso país e à mercê de forças políticas”. Magela disse que se houvesse dúvida de que o grupo estava realizando pesquisa de mercado era fácil saber e que uma suspeita não poderia ter levado todos à cadeia.

Magela disse que a polícia no ‘dever do ofício’ deveria conhecer o assunto pesquisa.  “Nunca se falou tanto em pesquisa de mercado como nesses dias. Talvez fale-se mais de pesquisa do que em meio ambiente” . Ele lembra que estava tudo muito claro, pois a pesquisa foi feita num hotel com registro de entrada, identificação, farto material e documentos que estavam à disposição da polícia. “Qual a dúvida que eles tiveram de aquilo era pesquisa de mercado? Por que tanta truculência?”

Ele utilizou outros exemplo como a pesquisa feita no debate da Rede Globo e de boca de urna. “Amanhã vai ter pesquisa boca de urna. Vão prender pesquisadores e pesquisados?”, se indignou. Geraldo Magela disse que ainda é cedo para tirar conclusões e que aguardará as investigações, mas que é a primeira vez no país que acontece um caso de “tamanha truculência e intolerância” envolvendo profissionais de um instituto de pesquisa. “Estou decepcionado com a democracia brasileira”. Ele informou que o advogado do Sinpeme vai tomar providências, inclusive acionando o Conselho de Justiça para averiguar os acontecimentos.

Durante visita a Luiz Felipe Gabriel, Magela estava acompanhado de um dos diretores da Associação Brasileira de Empresas de Pesquisa (Abep), Mário Filho, também diretor do Instituto Grupom em Goiás. O Sinpeme pretende realizar uma reunião com as empresas de pesquisa de opinião e mercado de todo País para discutir o ocorrido em Goiás.

Neste domingo, 31, o Instituto Verus publica nota nos jornais lamentando o ocorrido, que culminou na prisão de seus funcionários. A empresa, com sede em Goiás, atua há 18 anos no mercado brasileiro é uma das mais respeitadas do país.  “O ato lamentável se estendeu ainda na prisão de cidadãos que espontaneamente participavam da pesquisa”, relata a nota.

Em outro trecho, o instituto condena o uso eleitoreiro do trabalho de pesquisa. “Não podemos permitir que o calor das disputas políticas macule nossa reputação construída com zelo e honestidade e muito menos que a atividade de pesquisa no Brasil seja utilizada de forma leviana como arma eleitoreira.”, diz a nota.

Institutos de pesquisa repudiam falsa denúncia de compra de votos

O Sinpeme já havia manifestado repúdio em notas distribuídas à imprensa e às entidades brasileiras de pesquisa que já são mais de 600 no Brasil. Em uma segunda nota, o sindicato utilizou o exemplo da pesquisa qualitativa da Rede Globo feita no último debate com os presidenciáveis na sexta, 29. Oitenta pessoas de várias regiões compareceram ao debate para assistir e avaliar e foram remuneradas para tal. “Isso é compra de votos?”, pergunta o presidente fazendo um comparativo com o caso de Anápolis.

Várias entidades do setor manifestaram e enviaram notas de repúdio à ação da polícia e de solidariedade à equipe e aos pesquisados. A Associação Brasileira de Empresas de Pesquisa (Abep) foi uma das primeiras a se manifestar. A diretora Marisa da Camara Maluli esclareceu que nas pesquisas qualitativas é praxe o pagamento de despesas e brindes aos participantes. A Associação Brasileira de Pesquisadores de Mercado, Opinião e Mídia (ASBPM) também lamentou o fato em nota. A preocupação dos institutos de pesquisa é que adversários possam se utilizar do mesmo artifício nas próximas campanhas, prejudicando empresas ilibadas e pessoas inocentes.

Em nota, o Grupo Tortura Nunca Mais, que defende os direitos humanos no Brasil, considerou a prisão de arbitrária, defendeu a democracia ao pedir a imediata libertação de Luis Felipe Gabriel. O presidente do grupo, Waldomiro Batista, rechaçou o que chamou de “procedimento intimidatório”.  “Nada mais é que tortura psicológica contra adversários políticos, prática abjeta que deve ser abolida definitivamente da disputa política em nosso Estado e em nosso país”.

Entenda o caso Verus

Pesquisadores do Instituto Verus Assessoria e Pesquisa de Marketing entrevistavam nove eleitores sobre a qualidade dos programas da campanha de Iris Rezende (PMDB) no Hotel Príncipe, centro de Anápolis, quando foram surpreendidos por agentes da Polícia Civil de Goiás (Delegacia de Furtos e Roubos), que entrou na sala e acusou flagrante de compra de votos.

As 14 pessoas estavam na sala (os nove eleitores de Anápolis que participavam da pesquisa e mais cinco pesquisadores) foram presas. O empresário Luiz Felipe Gabriel, que estava em Goiânia no momento do “flagrante” e correu para o local, também foi preso. Luiz levava documentos da empresa e um laptop com intuito de esclarecer que se tratava de um trabalho corriqueiro, mas não conseguiu evitar a prisão. A denúncia de “compra de votos” partiu da coligação do PSDB em Goiás.

O advogado Sebastião Ferreira Leite, o Juruna, entrou com pedido de Habeas corpus e conseguiu libertar os pesquisadores na noite desta sexta-feira, 29.

“Ficamos sem saber o que fazer. Nunca pensei que uma pessoa trabalhando, em uma coisa legal e aberta fosse impedida de fazer isso. Eles foram detidos, proibidos de trabalhar e fica constando na ficha este constrangimento. É um dano financeiro para a empresa e moral para todos os envolvidos”, definiu.

Ele destacou que as pesquisas de mercado são comuns em todo o mundo e amplamente utilizadas – sobretudo – no período eleitoral. “No dia da votação, vamos ter pesquisa de boca de urna. Serão que vão prender também os entrevistadores? É uma pesquisa de opinião, todas elas são”, disparou.

“É a primeira vez que vejo uma pessoa ir trabalhar, ser presa e indiciada por fazer um trabalho legalizado. Fica a minha decepção com a democracia brasileira. Mas o que me deixou mais triste foi a questão das liberdades individuais que estão em risco no meu país”, definiu.

Segundo o presidente, o Sindicato vai procurar todas as medidas legais para resguardar os profissionais de pesquisa de mercado em relação ao episódio.