O HCamp Goiânia já atendeu mais de 30 mil pacientes em um ano de funcionamento. Em entrevista para a Sagres, o diretor-geral do hospital, o médico infectologista Guillermo Sócrates, contou como o perfil dos internados mudou neste período e falou sobre o aprendizado das equipes de atendimento no local.
“Nós tínhamos, em abril de 2020, mais de 60% das pessoas internadas com idade acima de 65 anos. Isso foi totalmente invertido e em fevereiro deste ano nós passamos a ter quase 65% das pessoas internadas abaixo dos 65 anos. Então, realmente, passamos a conviver nas nossas unidades com pessoas mais jovens”.
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Guillermo esclareceu que para obter dados mais concretos sobre o perfil dos internados, um levantamento foi feito, onde foi possível observar, tanto no HCamp quanto em outras instituições, esse aumento de internações entre jovens. “Fizemos uma comparação entre o mês de abril de 2020 com o mês de fevereiro de 2021”.
Vários fatores podem ser responsáveis por essa mudança, como um maior cuidado das pessoas acima de 65 anos, diante da perda de pessoas próximas com idades parecidas, enquanto os jovens se expõem mais e, consequentemente, se contaminam mais. Além disso, a boa notícia é que essa mudança pode ser resultado da vacinação neste grupo de risco.
“Ou seja, a vacina é sim capaz de diminuir a letalidade e a gente lembra que a primeira fase da vacinação tem exatamente esse intuito. Vacinar pessoas de maior risco é para reduzir a mortalidade. Se o interesse fosse reduzir a circulação do vírus, a estratégia seria outra. Eu não tenho dúvida que a vacina é eficiente e eficaz nesse sentido”.
O infectologista conta que os pacientes mais jovens têm mais resistência fisiológica se comparados às pessoas idosas e, por isso, o tempo de permanência dentro de uma Unidade de Terapia Intensiva (UTI) é maior. Isso faz também com que não seja possível afirmar, com certeza, que a virulência da cepa P1, predominante em Goiás, seja a responsável por esse aumento de casos graves entre os mais jovens.
“A virulência ainda não está estabelecida, mas a transmissibilidade sim. As cepas garantem maior sucesso, em um vírus que já tinha muito sucesso, saiu de uma situação epidêmica e se tornou pandêmico em aproximadamente 30 dias”, afirmou o médico que ainda disse que o vírus ainda está em uma fase de formação.
Porém, um dado chama a atenção. Segundo Guillermo, no pico da primeira onda, entre julho, agosto e setembro, cerca de 65% dos internados necessitava de ventilação mecânica. Agora, este percentual aumentou para 85%. “Nós temos percebido, sim, uma alteração de comportamento do ponto de vista clínico da apresentação da doença”.
Outro fator para o maior tempo dos pacientes nas UTIs, segundo o médico, é a evolução das equipes médicas. Segundo ele, desde a abertura do HCamp, os profissionais passaram por vários treinamentos e desenvolveram habilidades em processos que, muitas vezes, causavam muita dificuldade. “Hoje nossos pacientes têm planos terapêuticos muito mais definidos permitindo desfechos mais favoráveis”.
Tratamento precoce é ineficaz
O diretor-geral do Hcamp, Guillermo Sócrates, explicou que a assistência social do Hospital não faz pesquisa direta com o paciente sobre o fato dele ter tomado ou não remédios que não possuem eficácia comprovada no tratamento da Covid-19, como Ivermectina, Cloroquina e Azitromicina. Porém, já ouviu vários relatos de pessoas internadas no HCamp que tomou esses medicamentos. “Se o tratamento precoce fosse suficiente nós não teríamos tantas pessoas graves internadas no hospital”.
“As pessoas insistem no chamado tratamento precoce de forma muito abundante e, inclusive, a gente ainda percebe a solicitação dos familiares. Ainda existe uma pressão, perguntando se usou, porque que não usou, ou seja, infelizmente, essa cultura da tentativa de utilização de medicamentos que são ineficazes ainda está muito presente na população”, afirmou.
Uma das preocupações do médico é com o uso de substâncias que possam agravar o quadro da doença. Segundo Guillermo, há pacientes que chegam com listas de medicamentos que já tomaram, incluindo corticoides, que podem causar uma explosão viral, e antibióticos, responsáveis por induzir uma resistência bacteriana.
O diretor-geral detalhou que a melhor maneira de evitar a evolução para um quadro grave é procurar uma unidade de saúde para que seja possível monitorar a evolução da doença, como que o organismo da pessoa está reagindo ao vírus. “As pessoas buscam um tratamento com uma medicação que não vai causar alteração quanto à evolução da doença, mas não buscam entender o seu próprio quadro clínico”.