Desde o clássico filme “O Selvagem”, de 1953, quando Marlon Brando surgiu sobre uma Triumph Thunderbird, a imagem da motocicleta nunca mais foi a mesma. Estar sobre duas rodas com o velocímetro cravado a 120 km/h representa, para muitos, a paixão pelo estilo de vida: liberdade. Com o sucesso de Brando nas telas, a moto se tornou muito mais que um meio de transporte. Hoje, adquire status de uma arma que tem tirado inúmeras vidas no trânsito.
A invasão das motocicletas não é mais novidade nas ruas brasileiras. Facilidade de financiamento, agilidade no trânsito e baixo custo estão aumentando consideravelmente a procura por motocicletas em Goiânia. Em alguns casos, longe da fiscalização, condutores de veículos sobre duas rodas tendem a agir com desrespeito às normas de trânsito. Na capital, a moto é considerada vilã e vítima preferencial do trânsito.
Dados do Sistema de Informação de Mortalidade (SIM) do Ministério da Saúde e do Detran-GO mostram que em 2009 aconteceram 24,1 mil acidentes envolvendo motocicletas em Goiás. No ano de 2011, foram mais de 30,7 mil (um aumento significativo de quase 21%).Em três anos (2009 a 2011), 1.649 pessoas morreram e 86 mil ficaram feridas. Em todo o país, somente no ano de 2010, mais de 10 mil pessoas morreram em acidentes de moto. (Veja infográfico no final)
A Agência Municipal de Trânsito (AMT) faz a sua parte. De acordo com o Presidente da AMT, Senivaldo Ramos, o órgão tem realizado blitzen educativas para conscientizar motoristas e motociclistas. “Desde 2009, damos um curso de capacitação para todos que nos procuram, seja entidade ou não. Através da blitz educativa, vamos pra uma região da cidade, abordamos os motoristas e, dependendo da situação; ao invés de lavrar o auto de infração damos a oportunidade para ele passar por um curso de qualificação”.
Motoqueiros x motociclistas
Sim. Há diferença. A explicação é do empresário e motociclista, Júnior Vilela (foto). Apaixonado confesso, ele utiliza o veículo para satisfazer a vontade de pilotar e garante que respeita as leis de trânsito.
“Sou motociclista, obedeço às leis de trânsito e faço uma direção defensiva. Fico preocupado ao ver ‘motoqueiros’ costurando em meio aos carros, furando sinais, não parando em faixas, etc. Se todos obedecessem às leis, o trânsito seria bem melhor”, avalia.
De acordo com Senivaldo Ramos, essa alcunha precisa ser mudada. Para ele, é preciso melhorar a formação dos, aqui chamados, ‘motoqueiros’. “Precisamos fazer um trabalho de mídia e também trabalhar a questão da cidadania. O mundo está muito materialista e isso tem que ser mudado para que o ser humano preserve a vida. Se não abordamos esses dois eixos iremos sempre chover no molhado”.
Regina Bezerra, esposa de Júnior Vilela, também era apaixonada por duas rodas, não fosse uma sucessão de acidentes que acabariam de vez com esse prazer. Segundo o marido, enquanto pilotava, Regina deu seta para ultrapassar, mas o condutor de um automóvel converteu à esquerda e não sinalizou, ocasionando o acidente.
“Ela ficou desanimada com o trânsito e começou a perder a paixão pela motocicleta. A gota d’agua para ela não querer mais pilotar e até vender a sua moto, foi a morte de um primo querido, quase irmão, num acidente [de moto]”, revela Júnior.
O desencantamento por motos não é em vão. Dados da Associação Brasileira dos Fabricantes de Motocicletas, Ciclomotores, Motonetas, Bicicletas e Similares (Abraciclo) revelam que as vendas caíram 13% no primeiro semestre de 2012. Foram 897,2 mil unidades vendidas contra 1,033 milhão no mesmo período do ano passado.
De quem é a culpa?
16 de julho de 2003. Michel Veras voltava para casa após sair de um shopping em Aparecida de Goiânia. Sem trânsito intenso, no Setor Jardim Luz, o jovem se assustou com um “clarão” frontal, subiu na calçada e colidiu com um poste. Morreu 15 dias depois em decorrência de complicações do acidente.
20 de janeiro de 2011. David Marques seguia em direção ao trabalho na Avenida São João, em Aparecida de Goiânia. Em via movimentada, no Jardim Nova Era, o rapaz desviou de um ônibus, subiu na ilha e bateu em uma árvore. Não sofreu nenhum ferimento grave.
Os casos possuem uma temporalidade de quase 10 anos, no entanto, a extrema semelhança traz à tona um questionamento final: Seria o piloto, o principal responsável pela maioria dos acidentes envolvendo motocicletas? A pergunta é ampla e, por sua vez, difícil de ser solucionada. Diferente de outros veículos, o motociclista, por sua vez, tem uma função essencial: ser o próprio chassi.
Crédito das fotos: Nelson Andraschko / Júnior Vilela – Arquivo
Dados do Infográfico: Sistema de Informação de Mortalidade (SIM) do Ministério da Saúde e Detran-GO