Junior Kamenach
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Jornalista, repórter do Sagres Online e apaixonado por futebol e esportes americanos - NFL, MLB e NBA

Especialista revela impactos da seca completa de um rio e se é possível a restauração

Em meio a um cenário cada vez mais intenso, a seca de água em rio perene, que mantêm água durante todo o ano, tem se tornado uma preocupação crescente. Em entrevista ao Sistema Sagres, o professor Raviel Eurico Basso, da Escola de Engenharia Civil e Ambiental da Universidade Federal de Goiás (UFG), explica que o fenômeno de rios que secam sazonalmente, ou até mesmo permanentemente, está relacionado tanto à ação humana quanto às mudanças climáticas, e alerta sobre as consequências disso para o meio ambiente e a sociedade.

Segundo o professor, é crucial compreender o sistema dos rios para entender o que ocorre durante o processo de secagem. “O rio normalmente tem a característica de ser permanente, sempre tem água durante todo o ano. Mas há aqueles rios que secam naturalmente no período de estiagem, quando o nível do lençol freático abaixa e deixa de alimentar a água superficialmente”, esclarece.

Ele destaca que, ao observar um rio perene secando pela primeira vez, é provável que algum fator tenha alterado o sistema de abastecimento natural desse curso d’água. Além das mudanças climáticas, o uso intensivo da água e a ocupação desordenada do solo são fatores que têm impactado diretamente os rios.

Basso aponta que, ao longo dos anos, o uso do solo e o consumo de água têm se intensificado, afetando principalmente as reservas subterrâneas. “Quando a gente vê um rio que não secava antes e ele passa a secar, isso indica que algo mudou no seu sistema. Muitas vezes, é a ocupação do solo, a densificação urbana e o aumento do uso de água subterrânea no período de estiagem”, afirma.

Monitoramento

O professor ainda explica que o monitoramento das vazões dos rios ao longo do tempo é fundamental para identificar essas mudanças. Se a vazão de um rio, que antes mantinha um fluxo constante durante a seca, começa a reduzir anualmente, isso é um sinal de alerta. “Há uma tendência de que esse rio se torne seco no período de estiagem, e esse é um processo que conseguimos observar através de monitoramento”, completa.

Para Basso, as mudanças climáticas desempenham um papel fundamental na redução do volume de água disponível nos rios, pois alteram o regime das chuvas. As precipitações estão se tornando mais intensas, porém menos frequentes, o que dificulta a infiltração e a recarga dos lençóis freáticos.

“Hoje temos eventos cada vez mais intensos de chuva. Antes, a chuva era mais distribuída ao longo do ano, o que favorecia a recarga dos lençóis freáticos. Agora, temos menos dias de chuva e com volumes maiores, o que favorece o escoamento superficial e diminui a infiltração”, explica o professor.

Essa mudança de intensidade na precipitação implica em menos água infiltrando no solo e mais escoando na superfície. Isso resulta em lençóis freáticos cada vez mais baixos. “A impermeabilização do solo nas cidades, por exemplo, também contribui, pois impede que a água da chuva infiltre e alimente o lençol freático”, acrescenta.

Impactos para a vida e o ambiente

Os impactos da secagem dos rios são vastos e vão além do abastecimento humano. O professor alerta que a redução dos cursos d’água afeta diretamente o ecossistema local. Sendo assim, prejudicando a fauna e a flora que dependem dessas águas para sobreviver.

“Quando um rio seca, toda a vida ao redor é afetada, desde plantas que utilizam essa água até animais que dependem do rio para beber e se alimentar. Isso gera um desequilíbrio ecológico que pode se estender por toda a cadeia alimentar”, ressalta. Raviel destaca ainda os principais efeitos da seca desses cursos d’água e as medidas necessárias para mitigar suas consequências.

Professor Raviel Basso | Foto: UFG

“O impacto imediato que vemos é sobre o abastecimento”, afirma Basso. Em comunidades que dependem do rio para o consumo humano e o abastecimento público, a seca acarreta “sérios problemas com o abastecimento”, explica.

A falta de água afeta tanto as populações quanto os ecossistemas ao redor, que dependem do rio para sobreviver. Nesses casos, segundo Basso, “é preciso buscar outras fontes de abastecimento e trabalhar na recuperação do curso d’água”.

Outros efeitos

O efeito da seca dos rios vai além da escassez de água; em regiões onde o curso d’água é essencial para o transporte, o isolamento se torna um problema crítico. O professor cita como exemplo a região amazônica, onde comunidades ribeirinhas enfrentam dificuldades de locomoção e até de abastecimento, pois os barcos, principal meio de transporte, não conseguem mais navegar em trechos antes navegáveis.

Para o ecossistema, os impactos a longo prazo são igualmente alarmantes. A fauna e a flora locais, que antes dependiam diretamente do rio, começam a sofrer uma alteração profunda, que pode levar ao desaparecimento de espécies adaptadas a ambientes úmidos.

“A vegetação não consegue resistir à seca prolongada, e os animais acabam migrando para outras áreas”, comenta Basso, acrescentando que isso causa um desequilíbrio na biodiversidade local. Quando se trata de restaurar esses rios, o professor ressalta que a intervenção humana é frequentemente indispensável.

“99% das vezes o impacto vem da alteração do uso do solo, seja pela impermeabilização ou pelo cultivo agrícola em áreas que deveriam abrigar vegetação nativa”, afirma. A recuperação do rio depende de ações como a revitalização das margens e o reflorestamento, além de sistemas que promovam a recarga do lençol freático e reduzam o escoamento superficial.

Soluções

Com os desafios impostos pela crise climática e a atividade humana, a busca por soluções é urgente e exige um esforço conjunto entre comunidades, especialistas e políticas públicas. Para Basso, a chave está em reconhecer que “preservar os cursos d’água não é só um ato de proteção ambiental, mas uma questão de sobrevivência para muitas comunidades e espécies que dependem diretamente desses recursos”.

O professor ainda destaca que a degradação do solo e o desmatamento comprometem a capacidade de infiltração de água no solo, agravando a seca dos rios. Ele expõe os desafios e as soluções urgentes para a revitalização dos mananciais. Basso ressalta que áreas de pastagem têm um impacto direto na saúde dos rios.

“A compactação do solo e a capa nessas áreas favorecem o escoamento superficial, dificultando os processos de infiltração. Esses processos são essenciais para que o rio retorne à sua plenitude”, explica. Ele enfatiza a necessidade de medidas que visem a revitalização dos rios, como a recuperação e o reflorestamento de suas margens. “Sem essas ações, a gente não consegue reverter o quadro de secas.”

Para o professor, o principal desafio hoje não é a aplicação de técnicas, mas a conscientização da população sobre os impactos de suas ações nas bacias hidrográficas. “As pessoas precisam entender que o curso d’água às vezes seca por conta de ações humanas na área de drenagem. Essa conscientização é essencial para que a preservação seja uma prioridade coletiva”, afirma.

Recuperação

Quanto ao tempo de recuperação de um rio, Basso explica que não há como prever um prazo exato, pois depende das características da bacia hidrográfica e do impacto sofrido. “Se é uma bacia de menor dimensão, o retorno é mais rápido; se é de grande dimensão, o processo é mais lento. Não dá para prever um tempo específico para isso”, observa o professor.

Ao discutir os custos de uma possível recuperação de rios versus o abandono de seu leito, Basso enfatiza que a escolha pelo abandono é inviável sob qualquer perspectiva econômica ou social. “Não vejo viabilidade em deixar o curso d’água secar, principalmente considerando que mudanças climáticas e o aumento das temperaturas elevam o consumo de água. Preservar é a única opção sustentável”, avalia.

O professor destaca a importância de preservar as planícies de inundação, áreas de solo fértil onde o rio transborda durante os períodos de cheia. “Precisamos manter essas áreas livres de ocupação. Sem essa medida de preservação, o custo de recuperação pode se tornar inviável, dada a necessidade de investimentos altíssimos”, alerta Basso.

Para ele, o termo “a qualquer custo” é aplicável quando se trata da preservação das áreas de nascente e margens de rios. “Entre ter um rio e não ter, o esforço pela preservação é essencial. Precisamos que essa importância seja entendida e priorizada pela sociedade como um todo”, conclui.

*Este conteúdo está alinhado aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), na Agenda 2030 da Organização das Nações Unidas (ONU). ODS 06 – Água Potável e Sanemaneto Básico

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