Pré-candidata à reitoria da Universidade Federal de Goiás (UFG), a professora Sandramara Matias Chaves defende uma gestão voltada ao fortalecimento institucional por meio da valorização da escuta, da autonomia e de um financiamento compatível com as necessidades da instituição. A consulta pública, organizada pelas entidades representativas da comunidade acadêmica, ocorre nos dias 24 e 25 de junho.
Em 2021, Sandramara foi a mais votada na última consulta para reitora, mas acabou não sendo nomeada. Agora, retorna ao processo com propostas que reforçam a importância de respeitar a escolha interna da universidade.
Defesa da autonomia e críticas ao desrespeito de 2021
Ao relembrar o pleito anterior, a docente classifica como “desrespeito institucional” o fato de não ter sido nomeada, mesmo após liderar a votação e ser a primeira colocada na lista tríplice elaborada pelo Conselho Universitário. Na ocasião, o então presidente Jair Bolsonaro optou por nomear a terceira colocada, Angelita Pereira de Lima.
“Foi uma ruptura com um processo democrático. Não se tratou apenas de uma decisão contrária a mim, mas a toda a UFG, cuja escolha foi ignorada”, criticou Sandramara em entrevista ao jornal A Redação.
Ela reforça que sua candidatura atual se ancora em uma trajetória sólida dentro da universidade e em um novo cenário político. “Vivemos um momento em que os candidatos mais votados estão sendo nomeados. Isso sinaliza que, talvez, agora sejamos ouvidos”, avalia.
Reconhecimento da excelência e alerta para carências
Na análise de Sandramara, a UFG se mantém como referência nacional e internacional nas áreas de ensino, pesquisa e extensão. Entretanto, ela ressalta que a universidade ainda convive com defasagens graves, como infraestrutura precária, insuficiência de servidores e laboratórios desatualizados.
“O que foi perdido em uma década não será compensado da noite para o dia. Há uma distância significativa entre o que se tem hoje e o que é necessário para manter a qualidade acadêmica”, afirma.
A professora aponta demandas urgentes: contratação de docentes e técnicos, melhorias na assistência estudantil e investimentos em equipamentos e manutenção. “A precarização impacta diretamente a formação oferecida aos estudantes”, destaca.
Gestão com diálogo e compromisso
Sandramara enfatiza que pretende implementar uma gestão fundamentada na escuta ativa e na participação. Segundo ela, a experiência acumulada como vice-reitora e gestora em diferentes cargos administrativos a habilita a compreender a complexidade da universidade.
“Iniciei uma escuta ampla com diversos setores. O que emerge é claro: há urgência em orçamento, estrutura, valorização e apoio às atividades acadêmicas”, relata. Ela afirma que técnicos, docentes e estudantes apresentam demandas específicas, todas legítimas e interdependentes.
“Os alunos falam da permanência estudantil, os técnicos querem reconhecimento e condições de trabalho, e os professores precisam de meios para ensinar e pesquisar. São vozes que precisam orientar a gestão”, pontua.
Autonomia universitária e financiamento como prioridades
Ao ser questionada sobre os temas centrais da campanha, Sandramara destaca dois eixos: autonomia e orçamento. Para ela, a universidade precisa ter liberdade de escolha respeitada e orçamento compatível com suas demandas.
“Precisamos avançar em segurança jurídica para a autonomia. A legislação que permite ao presidente da República ignorar o mais votado na lista tríplice precisa ser revista”, argumenta.
Em relação ao financiamento, ela afirma que é necessário recuperar a capacidade de investimento da UFG. “Não se trata apenas de manter as contas em dia, mas de projetar o futuro: concursos, bolsas, manutenção, tudo depende de um orçamento digno.”
Candidatura institucional, não pessoal
Sandramara rejeita a ideia de que sua candidatura seja movida por interesses individuais. Ela defende que sua decisão é motivada por um projeto coletivo de reconstrução institucional.
“Conduzir a UFG é uma responsabilidade enorme. Coloco meu nome à disposição porque há um movimento que acredita na valorização da universidade pública, na reconstrução e no respeito às decisões internas”, afirma.
Apesar dos desafios, ela se diz otimista com o cenário político atual. “Estamos diante de uma oportunidade. A UFG tem história, tem força e merece ser ouvida.”
Consulta marcada para junho
A consulta pública que definirá os nomes para reitor(a) e vice-reitor(a) será realizada nos dias 24 e 25 de junho. O registro de chapas está previsto para os dias 20 e 21 de maio. A votação será feita online por meio do sistema SIGEleição, com urnas presenciais apenas para servidores aposentados.
O processo é organizado pela Comissão Organizadora da Consulta (COC), composta por entidades representativas da comunidade universitária: ADUFG, SINT-IFESgo, DCE e APG. A campanha será permitida após a homologação das candidaturas e se encerrará em 23 de junho.
Próximos passos após a votação
Encerrada a votação, o resultado da consulta será divulgado pela COC e, em seguida, o Conselho Universitário aprovará a lista tríplice. Os três nomes mais votados serão enviados ao Ministério da Educação, que encaminha ao presidente da República a decisão final.
O governo federal, por sua vez, tem afirmado que seguirá a vontade expressa pelas universidades federais, respeitando a ordem da lista tríplice. A expectativa da comunidade acadêmica é de que o resultado da consulta defina efetivamente quem comandará a próxima gestão da UFG.