Junior Kamenach
Junior Kamenach
Jornalista, repórter do Sagres Online e apaixonado por futebol e esportes americanos - NFL, MLB e NBA

Uso de canetas emagrecedoras exige rigor médico, alerta endocrinologista

Com a crescente popularização das chamadas “canetas emagrecedoras”, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) apertou o cerco e passou a exigir receita controlada para a venda dos medicamentos à base de agonistas do GLP-1, como Ozempic, Wegovy e Mounjaro. A medida visa frear o uso indiscriminado dos fármacos, que vêm sendo usados fora das indicações médicas, muitas vezes por influência das redes sociais.

No programa Pauta 1 do Sistema Sagres, o tema foi debatido com profundidade. Segundo especialistas, os medicamentos à base de semaglutida – como o Ozempic – atuam reduzindo o apetite, e não promovem o emagrecimento diretamente. A equipe ouviu relatos de pessoas que usaram as canetas.

O produtor de eventos Léo Castro, um dos entrevistados, contou que iniciou o uso em 2020, com prescrição médica. “A princípio eu usei a Saxenda, depois troquei para Ozempic. Perdi bastante peso, sim, mas os efeitos colaterais eram muito pesados: náusea, dor de cabeça, diarreia, enjoo, alteração de humor. Suspendi o uso porque os efeitos não compensavam os resultados.”

Já o analista administrativo Miguel Alexandre, outro entrevistado, teve uma experiência mais positiva, embora também com ressalvas. “Estava 20 quilos acima do peso, sedentário e desmotivado. A caneta me ajudou a dar um pontapé inicial. Em um mês perdi 6 quilos. Mas tive irritabilidade e diarreia no começo. Só recomendo com acompanhamento médico. Usar por conta própria é arriscado.”

Apesar das experiências distintas, ambos os relatos apontam para uma mesma preocupação: os efeitos colaterais. A nutricionista Isabela Correa também participou do programa e fez um alerta sobre os riscos nutricionais do uso sem acompanhamento. “Essas medicações reduzem a fome, e comemos menos. Mas se a alimentação já era ruim, a deficiência nutricional é certa. O corpo começa a dar sinais: cansaço, queda de cabelo, redução da imunidade e perda de massa muscular. Sem músculo, nosso metabolismo desacelera”, explicou.

Ela também destaca o risco do “efeito sanfona”. “Quando se para o remédio sem acompanhamento, o peso volta. Mas não volta como antes – volta só em forma de gordura. É indispensável um acompanhamento multidisciplinar: médico, nutricionista, psicólogo e educador físico. A gente não trata só a obesidade, trata a pessoa como um todo.”

Em entrevista ao Pauta 1, a médica endocrinologista Leandra Negreto reforçou a necessidade de controle rigoroso e criticou o uso indiscriminado dos medicamentos. Para ela, o termo “caneta emagrecedora” é reducionista e perigoso. “A medicação vai muito além do emagrecimento. Foi desenvolvida, na verdade, para o controle do diabetes. Reduzir seu uso apenas à perda de peso tira o foco de outros benefícios importantes e ainda estimula o consumo irresponsável”, afirmou a especialista.

Negreto também destacou que os medicamentos são eficazes, mas não são isentos de riscos. O uso sem acompanhamento médico pode causar efeitos adversos graves, como desidratação, náuseas intensas, vômitos e até necessidade de internação hospitalar. “Essas medicações têm potencial terapêutico enorme. Melhoram a apneia do sono, reduzem eventos cardiovasculares e o risco de doenças renais. Mas precisam ser usadas com prescrição adequada. Caso contrário, o que poderia ser uma solução se torna um problema”, explicou.

Segundo a endocrinologista, a nova exigência da Anvisa de receita vermelha com retenção de via é um passo importante para proteger a população. “A medida dificulta o acesso sem supervisão médica. Isso vai beneficiar a sociedade como um todo, pois limita o uso incorreto e evita que pacientes se exponham a riscos desnecessários.”

Negreto ainda alertou para os perigos da desinformação disseminada nas redes sociais. Segundo ela, a facilidade com que conteúdos são viralizados agrava a situação, principalmente quando divulgados por influenciadores sem conhecimento técnico. “Hoje, qualquer pessoa pode gravar um vídeo, viralizar e alcançar milhares. O problema é que muitas vezes as informações não têm nenhum respaldo científico. E se o influenciador for carismático ou famoso, o risco de adesão ao que ele diz aumenta ainda mais”, disse.

A médica também se mostrou preocupada com o impacto emocional e físico causado por essa “banalização do emagrecimento”. Ela ressaltou que a obesidade é uma doença complexa, e perder peso envolve inúmeros desafios fisiológicos e psicológicos. “Nosso corpo faz de tudo para manter o peso atual. Perder peso exige esforço contínuo. A fome aumenta, o metabolismo desacelera, e tudo joga contra o paciente. Dizer que existe um caminho fácil é irresponsável.”

Por fim, Leandra Negreto incentivou os pacientes a buscarem informações em fontes confiáveis, como as sociedades médicas especializadas. “Antes de acreditar em qualquer promessa, verifique o que dizem entidades como a Sociedade Brasileira de Endocrinologia ou a Sociedade Brasileira de Diabetes. Não se trata de demonizar os medicamentos, mas de usá-los com consciência e segurança”, concluiu.

A nova regulamentação da Anvisa já está em vigor e torna obrigatória a apresentação de receita médica em duas vias, sendo uma delas retida na farmácia. O objetivo é reduzir o uso recreativo e proteger a população de complicações associadas ao uso indevido desses medicamentos.

*Este conteúdo está alinhado aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), da Agenda 2030, da Organização das Nações Unidas (ONU). ODS 03 – Saúde e Bem-Estar

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